Roberta Manreza Publicado em 11/03/2016, às 00h00 - Atualizado às 10h01
por Silvana Leotte Garcia – Porvir
Junto com a professora regular dos alunos, a Elisama Kemel, que também trabalha com inclusão, eu tentava de todas as formas ajudá-los. Mas nós não tínhamos muito resultado. Foi então que comecei a pesquisar o que podia fazer de diferente para que eles conseguissem ter mais concentração e atenção.
Depois de um tempo, descobri os exercícios cerebrais, que consistem em movimentos corporais estimuladores da respiração e dos cruzamentos do cérebro. Conversei com outra professora que é da Diretoria de Inclusão da Secretaria de Educação do município, e ela me trouxe mais material.
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A Elisama também estava muito preocupada com a falta de atenção dos alunos, que tinham dificuldade de ouvir e de participar. Quando mostrei as pesquisas, ela falou “vamos começar pra ontem”. O professor de educação física ficou surpreso com a proposta e passou a nos observar enquanto fazíamos os exercícios com os alunos. Logo depois, veio nos falar “que legal, vou fazer também, posso?”. Com esse apoio, propus à turma que, todos os dias antes de iniciarem a aula, fizéssemos uma sequência com esses exercícios cerebrais.
No início, as crianças que tinham mais dificuldade de parar, ouvir e prestar atenção debochavam e ficavam nos imitando. Mas a gente não valorizava isso. Só falávamos “Vocês que sabem. Seus colegas que estão participando e levando a sério estão dizendo que já melhoraram bastante”. Foi um estranhamento muito grande, porque elas não estão acostumadas com atividades diferentes. É sempre aquela coisa: entra, faz chamada, senta um atrás do outro, ninguém fala, ninguém respira, vira pra frente, não se mexe.
Mas com o tempo essas crianças também se interessaram e perceberam que tinha até professor entrando e fazendo os exercícios. A gente pedia que todos os alunos se acalmassem e começávamos com um exercício de respiração profunda, e a partir daí, fazíamos uma escala, para não ficar a mesma coisa todos os dias.
A criança que entra na escola é um corpo mandado e regrado para obedecer aquilo que os adultos querem que ela obedeça e ponto. Eu não acredito nesse tipo de educação. Por exemplo, você nunca vai me ver entrar na sala de aula e brigar se a criança estiver rolando no chão. Tem aluno que fica de saco cheio de ficar sentado e deita no meio do corredor. Se eu vejo que eu estou fazendo uma investigação e ele está respondendo, não mando ele sentar. Trata-se de transformar o corpo em sujeito de si mesmo: eu escolho como eu quero aprender, eu escolho qual é a minha melhor posição, eu escolho do jeito que eu quero me manifestar. E não vejo isso dentro de sala de aula.
Para mim, o melhor resultado disso tudo foi a autoestima. Os alunos passaram a acreditar mais neles mesmos, além de acreditar que sua mente e inteligência estavam melhor. Nós vimos que, acima de qualquer coisa, eles estavam se valorizando. A gente falava muito isso, que tal exercício era para “abrir os canais de inteligência do cérebro” e eles ficavam admirados. Foi muito contagiante.
Nós também recebemos retorno dos próprios alunos. Alguns falavam assim “professora, sabe que quando eu tô achando uma atividade muito difícil e que eu vejo que não tô mais com tanta atenção, eu faço aquela respiração e já começo a entender?”. A Elisama e o professor de educação física também vieram falar sobre a melhora do comportamento, dizendo o quanto as crianças estavam mais calmas. Os pais comentaram a mesma coisa. Os exercícios foram importantes. Claro, não foram só eles. Foi feita toda uma ação com os alunos, mas isso colaborou muito.
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Silvana Leotte Garcia é graduada em Licenciatura em Dança pela Ulbra Canoas (Universidade Luterana do Brasil) e tem formação continuada em Educação Especial e Gestão no Desenvolvimento Inclusivo na Escola – UFPEL (Universidade Federal de Pelotas). Trabalha com AEE (atendimento educacional especializado) em sala de recursos multifuncional e no apoio à sala regular, à professores e familiares. Acredita na educação pela consciência corporal como grande aliada aos aprendizados.
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