Em entrevista ao Papo de Mãe, Ricardo di Lazzaro Filho explica como um mapeamento genético pode revelar conexões invisíveis entre pais e filhos adotivos
Maria Cunha* Publicado em 19/08/2021, às 16h08
Ricardo di Lazzaro Filho é médico e sócio-fundador do laboratório Genera, que desenvolve testes de acessibilidade, saúde, e bem-estar através de uma pesquisa de mapeamento genético completa. E foi a partir desse exame que Sônia e sua filha adotiva, Ana Lúcia, encontraram conexões invisíveis entre elas.
“A gente estava querendo buscar mães e filhas adotivas pra falar que a genética tem um peso, é óbvio, mas que existe muito mais na conexão e que mesmo não sendo necessariamente uma mãe e filha biológica, existem pontos que podem conectá-las até mesmo do ponto de vista genético”, explica Ricardo di Lazzaro Filho.
Com isso, Ana Lúcia e Sônia, foram as escolhidas para a ação proposta e aceitaram realizar o teste para investigar, cada vez mais, as conexões que poderiam existir.
Outra questão é que, de acordo com o médico e sócio-fundador do laboratório Genera, pelo fato da Ana Lúcia ser filha adotiva, acaba-se perdendo muito a sua história e origem, além de condições genéticas ligadas à saúde que, normalmente, sabemos a partir da família biológica.
Ricardo explica que o exame é feito através da saliva, há a coleta com um cotonete especial na parte de dentro da bochecha e, a partir dessa análise de saliva, é possível extrair todas as informações genéticas.
“É utilizada uma técnica chamada microarray, em que a gente vai avaliar esses pontos que chamamos de SNP. Assim, por exemplo, em um ponto específico do DNA, algumas pessoas podem ter A e outras pessoas podem ter C e, justamente, o A pode estar ligado a uma condição de predisposição à deficiência de uma vitamina e o C não, ou o contrário, e a gente vai avaliando esses pontos”.
Como o mapeamente genético é feito analisando milhares de pontos do DNA, ocorre, realmente, uma varredura bem completa, olhando muitas regiões de todo o genoma.
“A gente faz comparações com dados da literatura científica, então a gente analisa, por exemplo, dezenas de populações do mundo todo e compara o DNA de cada indivíduo com o DNA dessas populações pra saber se eles têm uma porcentagem de determinada região. Mas também, a gente olha esses marcadores que estão ligados à saúde, bem-estar, pra ver se essa pessoa tem uma condição importante”.
O médico ainda reforça que todo mundo apresenta seus riscos para condições ligadas a doenças, mas também todo mundo tem a suas suas qualidades, os marcadores genéticos ligados a predisposições positivas para o organismo.
Os resultados do teste vêm numa plataforma que as pessoas navegam, comparam, partilham, e que tem mais de 100 análises.
“Foi bem emocionante as duas vendo. Tinham coisas, claro, diferentes, que elas identificaram, mas também havia muitas coisas em comum”.
Mesmo as duas tendo etnias diferentes, o médico conta que havia regiões do mundo que, de certa maneira, elas se conectavam em relação à ancestralidade. As duas tinham componentes da região da Europa Ocidental, que é a região do Reino Unido, da Alemanha, da França, e também tinham componentes da região dos Bálcãs, que é a região da Grécia, da Romênia, da Bulgária.
“É interessante que a gente analisou a linhagem materna e, pra esse caso, é uma coisa muito legal, ela basicamente fala da onde veio a mãe da mãe da mãe da mãe da mãe da sua mãe, assim por diante, até chegar em quem gente chama de Eva mitocondrial, que é a primeira mulher, há mais de 100.000 anos, na África, que deu origem a todos os seres humanos vivos hoje”, conta Ricardo di Lazzaro Filho.
Outro achado curioso foi na linhagem materna da Ana Lúcia, que é de origem africana e é uma das linhagens maternas mais antigas e com maior conexão com a Eva mitocondrial. Isso é ainda mais interessante, porque a linhagem da mãe, a Sônia, veio de uma linhagem anterior da filha, a Ana.
Também foram encontradas conexõesligadas às condições de saúde, bem-estar e disposição. As duas tem predisposição a ter menos rugas e também uma maior predisposição para deficiência de vitamina C. Um outro ponto, importante de saber, é um provável maior risco de obesidade.
O sócio-fundador do laboratório Genera lembra que quando falamos de conexão invisível, a gente fala, das conexões culturais, a conexão da convivência, de às vezes conviver tanto uma com uma pessoa que só de olhar pra ela, você sabe o que ela está pensando ou não.
Mas, não podemos esquecer que também há a conexão invisível que está em cada uma das nossas células, que existe e nos conecta com familiares ou até com pessoas não tão próximas.
“Eu acho que essas conexões são muito importantes, acho que todo mundo quando parar pra pensar, entender a si mesmo, entender o outro, entender a sua família, você percebe a força dessa conexão, seja biológica, seja social”.
*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe
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