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Sobre o amor: o verdadeiro laço não é de sangue

Durante processo de adoção, Julia Guimarães Rosa, aos 6 anos, em um áudio de 2018 resgatado pela mãe, dá a sua perspectiva sobre o amor

Maria Cunha* Publicado em 30/06/2021, às 16h57

"Você foi o melhor presente que Deus deu pra mim", Julia sobre a mãe, Michele. - Arquivo de Michele Guimarães
"Você foi o melhor presente que Deus deu pra mim", Julia sobre a mãe, Michele. - Arquivo de Michele Guimarães

Michele Guimarães e Paulo Rosa já tinham um filho cada quando decidiram aumentar a família e adotar, de uma só vez, quatro crianças irmãs.

Uma delas, Julia, aparece em um áudio, em 2018, se declarando para a mãe e contando a sua perspectiva sobre o amor e sua relação com Michele. 

Não é necessário relação biológica para que haja amor e não importa como uma família é composta. O que vale é que ela envolva amor, respeito e afeto, que nascem a partir da convivência e do cuidado.

Toda criança precisa disso e merece isso. As crianças não enxergam as diferenças, mas o que os une. A pequena Julia soube muito bem colocar em palavras seus sentimentos, no alto dos seus 6 anos.

Afinal, o que é o amor?

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A transcrição do áudio de Julia sobre o amor

Michele: Você pra mim sabe o que você foi? Foi um presente. Um presente pra mamãe. Quando você chegou na minha casa, você foi o meu presente.

Julia: Você foi o melhor presente que Deus deu pra mim.

Michele: Foi? E você também foi o melhor presente que Deus deu pra mim. Julia: a mamãe ama tanto você, que eu não consigo explicar.

Julia: Eu também.

Michele: Você é a minha vida. Você é o meu nenezinho.

Julia: Mãe, eu podia beijar na sua testinha até o fim do mundo, eu podia ficar grudadinha com você até o fim do mundo, você ficaria comigo na escola.

Michele: Mas, na escola, é pra você aprender, pra você ter outros amigos, a mamãe não pode ficar com você na escola.

Julia: Mas e se todas as mães ficassem na escola de mães e filhas?

Michele: Mas as mamães precisam trabalhar também, não precisam? Aí o tempinho que vocês vão na escola, a mamãe trabalha.

Julia: É, mas tem mulheres que não trabalham.

Michele: Mas aí, algumas iam, outras não iam e as outras crianças iam ficar tristes.

Julia: Mas a pessoa que tá triste, fica juntinho da gente, não fica?

Michele: Fica.

Julia: A Ana Luiza, a mãe dela trabalha muito e não pode ir na escola agora, aí ela fica junto com a gente.

Michele:E ela não fica triste?

Julia: Não.

Michele: E como é que você sabe que a mãe dela trabalha muito?

Julia: Eu só falei isso, não quer dizer que ela trabalha muito.

Michele: Mas quem falou pra você que ela trabalha muito?

Julia: Mãe, é um modo de dizer.

Michele: Modo de dizer, tá certo. Te amo, viu?

Julia: Também!

Michele: Mais que eu mesma.

Julia: Eu te amo mais do que um passarinho, do que uma flor e de um celular!

Michele: Por que um celular?

Julia: E mais do que de outra mãe, você é o meu coração

Michele: E você é minha vida.

Julia: Eu tenho um coração do lado de fora, que é você, e um coração do lado de dentro.

Michele: Que lindo!

Julia: Então, eu tenho dois corações e você tem dois.

Michele: Eu tenho.

Julia: Não, você tem quatro.

Michele: Eu tenho um monte.

Julia: Não, você tem seis, sete!

Michele: Por que sete? Conta pra mim agora.

Julia: Quatro com a gente, cinco com o Lilo, seis com o Matheus.

Michele: E onde tem sete?

Julia: Eu esqueci.

Michele: Sete com o papai

Julia: É, sete com o papai. E com você mesma, oito! E a vovó!

Michele: Nove!

Julia: E a Pietra e o Cauê. E os seus irmãos!

Michele: São muitos corações.

Julia: Eu tenho infinito, não acaba.

Michele: Isso mesmo!

Julia: Então, quando eu morrer, eu vou sobreviver até chegar lá longe...

Assista ao vídeo do Papo de Mãe feito com  áudio de Julia

*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe

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