Filhos gêmeos mostram o peso da maternidade que ninguém quer encarar de frente
Elton Euler* Publicado em 13/01/2022, às 06h00
No último 6 de setembro a mulher da minha vida deu a luz a um lindo casal de gêmeos, Antonella Euler e Dom Euler, respectivamente o nosso quarto e quinto filho.
A história é linda por vários motivos. Sempre foi um sonho da Émillie ter cinco filhos, os partos foram naturais, foram os nossos primeiros filhos planejados e os primeiros filhos que nós tínhamos estrutura financeira para curtir a espera com tranquilidade. Ah, sem falar que toda a audiência d'O Corpo Explica acompanhou tudo desde o começo quando eu fiz stories dizendo que tínhamos acabado de descobrir a gestação, mas que eu estava prevendo que seriam gêmeos - um assunto interessante para outra ocasião, como eu quis fazer e fiz gêmeos.
Em outro momento, eu trarei o relato de parto dela para vocês, até porque, essa é uma coluna para "papo de mãe" e tem um pai intrometido aqui.
É, eu sei que estou me metendo na festa de vocês, mas o que eu tenho a dizer pode te fazer olhar para um lugar que talvez você não esteja tendo coragem, provavelmente não tenha apoio suficiente para isso e é bem provável que vive em uma bolha de romance ou narrativas que sequer permita uma conversa franca sobre o tamanho do peso da maternidade nos dias de hoje.
Geralmente quando vemos pessoas falando sobre o peso da maternidade é com ar de protesto tipo "não tá certo, não é justo ou nós mulheres não merecemos isso" ou de evangelização contra a maternidade, que pode vir de forma direta ou indireta com coisas como "meu gato dá muito menos trabalho e não me impede de viver a minha vida".
Será que um homem pode ajudar uma mulher, ou várias, em relação a isso? Será que um homem seria a melhor pessoa para falar sobre isso?
Bem, isso depende do que você entende por maternidade, do que você entende por família e do que você entende por papel de pai e papel de mãe.
Vivemos em tempos de polarização em tudo e a família não escapou disso e essa separação de papéis está distorcendo a divisão dos papéis.
Como ter um papo de mães sem pais? O que faz da mulher uma mãe?
Só tem uma pessoa na vida de uma mulher que pode fazer com que o peso da maternidade não acabe com a vida dela, por mais que seja por um período da sua vida. Só tem uma pessoa na vida de uma mulher que pode fazer com que o impacto da chegada de uma criança na vida dela não faça com que aquela criança receba o título de "aquela que atrapalhou meus planos". Essa pessoa é o pai.
É bem provável que algumas pessoas ao lerem esse texto até aqui, já comecem a comentar coisas como "para o homem é fácil ou queria ver se fosse com você".
Esse pensamento polarizado que separou os papéis em vez de dividi-los está fazendo com que as mulheres tenham que carregar esse fardo sozinhas.
Esse problema não é das mães, esse problema não é das mulheres, esse problema é do casal, esse problema é da família.
Mas acontece é que a os polos estão em guerra tanto fora quanto dentro das famílias. Tem muita mulher que sente que deve mais satisfação para a sociedade do que para o seu próprio marido, do que para a sua própria família. Tem muita mulher que faz com que suas amigas saibam do quando está doendo ser mãe, mas o marido não faz idéia. Tem muita mulher com uma fatura emocional oculta que cresce a juros cruéis, mulheres que na maioria das vezes não irão cobrar essa fatura dos filhos, afinal, que tipo de ser humano tem coragem de culpar uma criança inocente e indefesa né?! Mas que está, inconscientemente, tentando receber algo em troca do marido por ter sua vida totalmente mudada, talvez sem possibilidades de reparação.
E agora, quem vai repor o corpo, o tempo, os sonhos, a carreira, tudo? Quem? Quando?
Em outro momento nós falaremos sobre os cinco traços de caracteres e como o formato físico do corpo explica como cada mãe vai lidar com essa fatura emocional oculta. Hoje eu estou aqui mais como pai e marido do que como professor e/ou terapeuta.
Hoje eu quero tentar convencer pelo menos uma mulher a trazer o seu marido para dentro desse projeto de vida chamado maternidade. Hoje eu quero tentar convencer pelo menos uma mulher a se entregar totalmente para o seu marido, confiar nele e deixar isso claro pra ele. Hoje talvez eu consiga mudar o curso de uma família ao convencer uma mulher a dar espaço para o pai na maternidade.
Eu sei que nesse momento uma confusão de sentimentos e pensamentos pode estar tomando conta da sua leitura. O que vai fazer você ficar mais tranquila ao ler esse texto e quem sabe até tirar um bom proveito dele é você afastar todos os sentimentos e pensamentos de guerra e de disputa.
O homem e a mulher têm papéis diferentes na construção da família, não quer dizer que sejam papéis separados, são papéis divididos. Uma coisa pode parecer muito próxima uma da outra, mas existe uma diferença enorme entre você separar o seu marido disso, ou permitir que ele se separe e você dividir esse fardo com ele e permitir que ele divida.
Enquanto houver fatura emocional, cobrança social ou qualquer coisa que você sinta que está perdendo porque o filho chegou, você buscará, consciente ou inconscientemente, receber por esse sofrimento. Talvez um lado seu até grite aí dentro, é claro que eu tenho que receber ou ser recompensada por isso. Mas acontece que o mundo não te deve porque você deu a luz, deu amor, deu seu tempo e seu corpo para permitir que alguém pudesse ter acesso ao dom da vida. Inclusive, muitas mães, não permitem que seus filhos vivam suas vidas depois que eles crescem, justamente por ainda acreditarem que esses filhos devem a ela suas vidas, não só por ela ter dado a luz a eles, mas por terem dado parte de suas vidas, seus sonhos, suas carreiras, seus relacionamentos, para que eles pudessem vir ao mundo.
Consegue perceber que o peso da maternidade muitas vezes está se materializando em faturas emocionais altamente tóxicas e prejudiciais?
Vai ter sempre alguém para te mostrar que você perde muito por ter escolhido ser mãe. Vai ter uma mulher mais velha do que você com o corpo mais sarado do que o seu, vai ter uma blogueira na internet que faz todas as viagens que você gostaria de fazer, mas que você não faz porque o seu filho está consumindo o seu tempo e o seu dinheiro, vai ter sempre uma amiga ou parente que se destacou na carreira e você nem sabe o que preencher na ficha de cadastro do hotel no campo profissão. Vai ter sempre alguém te perguntando em um churrasco o que você faz da vida.
Seu marido não tem estrias, ele joga futebol, a carreira dele não sofreu nada.
"Gente, quem vai prejudicar os homens pelo nosso sofrimento? Isso não pode ficar assim! Nós precisamos nos vingar, nós precisamos compensar, eles vão nos pagar."
Essas são as vozes que encontram lugar em muitas mentes e corações de mães que separaram os pais desse processo ou que permitiram que eles ficassem de fora.
Por favor, não pense que eu estou aqui para defender os homens ou atacar as mulheres. Eu estou aqui para tentar fazer justamente o contrário.
Posso me meter no meio de vocês e convidar os meus colegas pais?
Será que nós podemos participar da maternidade de vocês também?
Nós sabemos que a vida de vocês muda muito mais do que a nossa. Nós sabemos que a carreira de vocês sobre absurdamente só com o fato de você poderem engravidar, imagine quando isso acontece de fato. Nós sabemos que os nossos filhos precisam de vocês de um jeito diferente do que eles precisam de nós. Acontece que muitas vezes a gente nem sabe o que fazer, muitas vezes a gente evita olhar para essa realidade e conversar sobre ela porque nós vamos ficar como vilões.
Não é legal parecer que a gente não se importa, quando muitas vezes a única demonstração que é esperada de nós é que nós também soframos, que nós tenhamos que pagar de alguma forma por um problema que não fomos nós quem criamos, quando muitas vezes nós somos culpados por ter uma carreira, por fazer um trabalho diferente do de vocês.
Hoje eu venho em nome dos homens, ou de pelo menos uma boa parte deles, dizer que nós estamos do lado de vocês.
Leia essa frase com toda força que você puder, por mais que ela não parece verdade: nós estamos do lado de vocês.
O poder dessa frase está na literalidade dela. Nós estamos DO LADO DE VOCÊS e nunca poderemos estar no lugar de vocês.
Eu poderia dizer que sentimos muito por isso, mas isso talvez não seja nem a minha verdade, talvez não seja a verdade da maioria - ou de homem nenhum - e com certeza não é o que você precisam de nós.
Não é certo que os homens tenham pena das mulheres por elas serem mulheres. Não é certo que os homens tenham dó das mulheres por elas terem virado mães. Não é certo que tenhamos esses tipos de sentimentos ou percepções ruins por algo tão incrivel que apenas vocês mulheres podem ser.
Nós nos aproximamos de vocês por você serem mulheres, por vocês poderem se tornar mães e por vocês nos completarem de forma única.
Nós homens não podemos estar no mesmo lado, no mesmo lugar que vocês, no mesmo não. Vocês nos completam e nós precisamos encontrar uma forma de completar vocês. Isso só vai acontecer quando nós tivermos espaço, mas alguém vai ter que baixar a arma ou rasgar a fatura.
Nós homens precisamos ser culpados, cobrados e convidados a melhorar apenas naquilo que estivermos falhando dentro das nossas responsabilidades e atribuições de homens e de pais, não pelo peso que é ser mulher nessa geração.
Talvez para a sua mãe tenha sido mais fácil ou mais difícil e é bem possível que você carregue inclusive a narrativa de sofrimento da sua mãe ou das mulheres à sua volta.
Mas quer saber de uma coisa? Talvez você leia isso como a maior aberração que você já leu sobre maternidade, talvez você se recuse a acreditar nisso por ser um homem escrevendo, mas a verdade é que apenas um homem pode tornar leve a maternidade para uma mulher. Nenhuma outra mulher poderá fazer isso. Quanto mais mulheres se esforçando para ajudar umas as outras a suportarem o fardo, os problemas, as mudanças, os impactos e as limitações que a maternidade implica a uma mulher, especialmente quando ela não tem e/ou não permite ter um homem bom ao seu lado, mais o peso ficará evidente apenas entre as mulheres.
Nem sempre eu fui um bom homem, nem sempre eu fui um bom marido, nem sempre eu fui capaz de perceber quão incrível era a mulher que eu tinha ao meu lado. O mesmo aconteceu com ela. Mas nós pudemos chegar ao nível que chegamos hoje, quando nós decidimos nos completar e não competir.
Eu acredito que eu dei um passo muito importante, mas reconheço que a maior parte do trabalho foi feita por ela. Mas sabe o que é melhor, hoje a maternidade dela é complementada e apoiada pela minha paternidade. Hoje os nossos projetos são nossos projetos e cada um contribui de forma diferente, cumprindo o seu papel, sem medir quem entrega mais ou quem entrega menos.
No próximo dia 26 eu completo 38 anos de vida, ela tem 33. Quando nós falamos que temos 5 filhos, a reação das pessoas geralmente é mesma: espanto, repulsa e até reprovação.
Eu entendo o motivo, elas fazem uma comparação inevitável: um, dois ou três (geralmente um ou dois) já está ferrando a minha vida, imagine cinco.
Eu também já pensei assim, já tive medo de ter mais filhos, já tive repulsa e já achei um absurdo "algumas pessoas colocarem tantas crianças no mundo nos dias de hoje". Acontece que os dias de hoje não são mais difíceis do que os dias do passado, "os dias de hoje" estavam sendo difíceis para mim e isso era o que me dava medo.
Quando o Elton Jr, nosso terceiro filho nasceu eu só pensava no que fazer para conseguir sustentar aquelas três crianças, especialmente do ponto de vista financeiro, eu ainda não tinha acertado na vida. Quando a Émillie falava em ter mais filhos, a minha espinha gelava.
Eu sou conhecido pela minha capacidade de explicação e pelo meu poder de persuasão, mas com ela não deu certo. Eu não consegui explicar para ela que ter muitos filhos era um peso, um erro e talvez até um perigo para o nosso futuro. E também não consegui convencê-la a se contentar com menos do que ela desejava. Hoje eu posso dizer que ainda bem. Ainda bem que ela não se contentou com menos e ainda bem que eu me descontentei com a limitação que me impedia de realizar um dos maiores sonhos da mulher mais incrível que eu conheço.
Mas o que foi que mudou ou o que foi que mudamos?
Bem, o texto é sobre o peso da maternidade que ninguém quer encarar de frente, nem as homens e nem as mulheres, cada um por seus motivos e cada um com suas justificativas. Então, vamos entender qual foi a nossa grande virada de chave que nos fez encarar o sonho de ter mais dois filhos e como nós conseguimos viver a maternidade mais pesada de todas, mesmo ela tendo tudo para ser a mais pesada, por já ser o quarto e o quinto filho e por serem os dois ao mesmo tempo.
Em dezembro de 2020 nós fomos passar férias com as crianças em Punta Cana, e há tempos existia uma meia conversa aqui em casa sobre o fato de eu querer ou não querer ter mais filhos.
Meia conversa é aquela que você acha que está tendo com a pessoa, quando você meio que puxa o assunto, fala por cima em vez de falar abertamente. Você aumenta a cobrança com o outro por considerar que você falou sobre o assunto, mas o outro não considera aquilo uma conversa, ele considera apenas um comentário, que de fato é o que realmente foi.
Ela sempre falava por alto e pra mim aquilo era um comentário que demonstrava uma certa insatisfação, mas não era um convite aberto a conversar sobre o assunto com o objetivo de tomar uma decisão, era uma meia conversa, um meio desabafo, uma meia indireta… tudo meio.
E nesse meio tempo, ela estava meio que se preparando para a magistratura, que era um grande sonho de criança dela.
Grave essas três coisas, magistratura + era + sonho de criança. Vamos precisar que você tenha isso em mente para entender o preço que nós pagamos para encarar o peso da maternidade e encontrar o caminho leve.
Ela sabia que naquele momento de vida, assumir um cargo como esse, que ela já tinha capacidade para passar. Na primeira prova que ela fez sem estudar ela ficou por 5 pontos e estudar para ela é um prazer, especialmente o direito que é uma paixão dela.
Acontece que ela é uma jovem mulher das antigas. Ela ama cozinhar, ela gosta de estar com as crianças, de acompanhar o desenvolvimento delas e cuidar de todos os detalhes da criação e da educação deles.
Eu já trabalhava muito e naquele momento da nossa vida, eu já não tinha mais a liberdade geográfica que tinha antes. O Corpo Explica tinha dado muito certo e nós havíamos nos mudado de Brasília para São José dos Campos e montado uma estrutura muito grande. Por conta disso, ela passando em um concurso para juíza de direito, teria que ser no estado de São Paulo, de preferência em São José dos Campos, ou no máximo em uma cidade vizinha, que nesse caso mudaria muito a rotina dela e impactaria diretamente a expectativa de maternidade que ela tinha.
Sem entrar no assunto, vale a pena chamar a atenção para o quanto muitas mulheres estão engravidando sem de fato ter uma expectativa de maternidade completa, sem ter pensado na maternidade em si. Estamos vivendo um tempo em que o plano da maternidade é construído para seis meses. A parte depois fica por conta do destino e por isso fica (ou parece ou se mostra) muito mais pesada. Pergunte para uma mulher, qual é o plano ou a expectativa de maternidade ou que tipo de mãe ela quer ser, você verá que ela não tem em mente uma maternidade clara, talvez você não tenha ou não tivesse.
Prometo escrever sobre isso e estou anotando todas as promessas de textos futuros que estou fazendo aqui.
Acontece que a Émillie tinha uma expectativa de maternidade e na medida em que as nossas vidas avançavam essa expectativa era impactada de alguma forma e naquele momento, havia chegado a hora da conversa difícil.
Ela precisou decidir que tipo de mãe ela queria ser e que tipo de maternidade ela exerceria.
Aqui em O Corpo Explica nós trabalhamos muito o papel dos pais em relação aos seus filhos e como esses papais se dividem para serem cumpridos por completo. Reparem que estou novamente usando a expressão "se dividem" e não "se separaram".
Nós acreditamos que os pais têm quatro grandes papéis. Ao ver um adulto hoje, observando seus conflitos e os dilemas que ele vive na vida amorosa e na vida financeira, para nós é muito fácil analisar e entender o quanto os seus pais cumpriram esses papéis quando esse adulto ainda era uma criança. E o nosso desafio, além de trabalhar para aplacar o impacto negativo na vida de um adulto quando esses papéis não são cumpridos com a criança, nós também trabalhamos para explicar para os pais quais são os seus papéis e ajudá-los a terem coragem de cumpri-los para que no futuro tenhamos adultos saudáveis que foram crianças criadas por pais saudáveis.
De forma bem resumida, podemos dizer que esses quatro papéis são:
Prover
Proteger
Ensinar
Incentivar
Cada um desses quatro papéis vai se dividir entre o pai e a mãe.
Acreditamos que é papel prioritário do pai prover todos os recursos físicos e materiais necessários para que a mãe possa prover o colo, o carinho, o cuidado, o afeto e muitas coisas que só a mãe tem pra oferecer.
Dá para ver que esse primeiro ponto além de ter prejudicado a construção de vida de muitas crianças, têm tornado a maternidade pesada para muitas mulheres, especialmente quando elas são sozinhas ou quando são casadas com homens que não se responsabilizam por esse trabalho.
Nesses casos a bola de neve emocional começa. A mulher precisa trabalhar e o bebê fica sem o colo. Faz falta? Alguns vão dizer que não, mas não só faz falta quanto faz muito mal.
Tanto para a mãe, quanto para a criança, especialmente para a criança.
Nesse momento do texto, sempre aparecerá alguém para dizer que eu estou exagerando e a justificativa geralmente são os exemplos das crianças que foram criadas sem uma mãe por perto, mas não morreram.
Sim, não morreu nem a mãe e nem a criança, mas como ficou a vida de cada um deles? Esse é o ponto. Não estamos falando sobre não morrer, estamos falando sobre viver bem. Sobre viver bem a maternidade e sobre viver bem a infância para ter referências saudáveis para ter uma vida leve, livre e feliz.
Percebe que a bola de neve começa quando um dos quatro papéis não são cumpridos? E nós só começamos a falar da provisão.
É importante que o homem seja provedor material para a mulher ser provedora emocional. Cada um oferecendo um porto seguro diferente para a criança. Os dois se completando para cumprirem bem esse papel fundamental. Tem mulher que faz isso sozinha? Tem, muitas, por isso o mundo está como está e por isso a maternidade tem sido tão pesada.
Sem a provisão, vai ficar difícil a proteção. Um pai que não é provedor, geralmente não é protetor. Se a mãe precisou ser a provedora material, a presença dela vai diminuir, a atenção também e a percepção mais ainda.
Hoje em dia o nosso trabalho consiste em resolver "pequenas coisas" que aconteceram com uma criança que nem o pai e nem a mãe viu. É claro que aquilo deixa de ser pequeno quando somado com o sentimento de não ser visto, de não ter valor ou até de ser um peso e estar atrapalhando a vida dos pais.
Quando falta provisão, falta proteção e o ensino também vai faltar. Alias, na verdade não vai faltar, haverá um ensino equivocado.
Quantas mulheres cresceram ouvindo que homem não presta, que homens são todos iguais, que elas precisam buscar a independência delas para não dependerem de homem pra nada?
Quem ensinou isso aprendeu o que? Aprendeu com quem? Será que na família dessa pessoa tinha provisão material e emocional? Será que havia proteção para que a criança pudesse ser só criança sem ter que se envolver nos problemas emocionais dos adultos, sem ter que ser usada como escudo, sem ser abusada ou violentada?
Quando crescemos em lares doentes ou desestruturados, aprendemos que ameaçar é proteger e sem perceber ameaçamos os nossos filhos para que eles evitem os problemas que nós não somos capazes de evitar porque aprendemos com quem nos ensinou errado que a vida é perigosa, é ruim, é pesada.
Nós aprendemos coisas erradas, nós aprendemos tudo errado e fomos programados para nos virarmos e acreditamos que isso é o melhor que podemos passar para os nossos filhos.
O papel dos pais não é preparar as crianças para as dificuldades da vida. A vida desse pais, que acha que a vida é difícil, só foi difícil porque faltou provisão, faltou proteção e faltou ensino de como viver como homem, como mulher, como pai e como mãe.
Por último, quando falta tudo isso, não há muito o que se falar em estímulos ou incentivos.
Eu poderia falar um pouco sobre o poder dos pais desnecessários. É comum encontrar pessoas que não viveram suas vidas por estarem cuidando dos problemas dos seus pais, por sentirem que devem isso a eles. Isso é muito doloroso e prejudicial, tanto para os pais, quanto para os filhos e tudo isso nasce no não cumprimento desses quatro papéis, tanto dos pais quanto dos avós com os pais, que gera um loop de dívidas emocionais e um histórico de peso familiar. Nessas horas, muitos pais não conseguem incentivar seus filhos a irem, a seguirem seus vidas e perseguirem seus sonhos. Mas essa vai ser mais uma promessa para textos futuros, esse já está bem longo.
É muito importante olharmos para o quanto as pessoas são desestimuladas a se casarem, a terem filhos e a construírem famílias.
Você quer que alguém que você ame carregue um peso? Você recomendaria para os outros uma experiência ruim?
Eu acredito que não. Mas esse é o problema, nossas referências são ruins. Os homens das nossas famílias nem sempre são provedores, muitas mulheres estão se virando sozinhas mesmo estando casadas com homens que muitas vezes além de não ajudar, ainda geram mais peso.
Sucesso na família parece sorte nos dias de hoje. Vivemos em uma geração que se contenta em ter saúde, afinal, prazer e felicidade parece ser algo para poucos.
Mas eu preciso que você acredite que não é assim. Felicidade não é para poucos, por mais que as suas referências sejam todas, ou em sua grande maioria, ruins.
Eu venho de família pobre e desestruturada. Eu não fui provedor sempre, eu não fui um marido exemplar sempre, eu não fui o melhor pais possível sempre.
Eu não era e hoje eu sou. Dá para mudar essa realidade, mas é preciso encarar o peso de frente e pagar o preço por isso.
O preço por isso vai ser o rompimento do contrato de mediocridade maioral.
É isso mesmo, a maioria disse que é assim, a maioria vive que é assim, mas a verdade é que a maioria não é feliz.
Será que faz sentido continuar seguindo a maioria? Será que ainda faz sentido fazer parte da maioria?
Bem, nós nos posicionamos como agentes de descontentamento. Nós queremos "des-contentar" as pessoas para que elas parem de aceitar menos do que elas desejaram. Para que elas parem de aceitar e se contentar com o que elas não querem mais.
Foi assim que nós viramos essa chave, foi assim que nós saímos da maioria, foi assim que nós, dois jovens, decidimos viver o sonho de ter cinco filhos em meio a uma geração que em muitos casos se orgulha de criar pets como filhos e dizer que já fez muito por ter um ou dois filhos.
Eu entendo os motivos de cada um, mas não posso concordar que filho é um peso. Pode estar sendo, mas não precisa ser. Já foi para nós, mas hoje não é mais.
O que será que aconteceu de diferente na nossa vida que talvez possa fazer sentido para o momento que você está vivendo na sua vida?
Vamos voltar para a nossa viagem à Punta Cana que você irá entender.
Estávamos super felizes, havíamos passado na ilha de Saona, onde foi gravado o filme Piratas do Caribe, as crianças tinham curtido muito a ilha e fechamos o dia com um show incrível com um cover do Michael Jackson. Já era a nossa segunda viagem ao exterior com a família toda, era noite de contemplar o nosso avanço, o nosso sucesso e a vida que estávamos conseguindo dar para a nossa família, mas um alguma coisa parecia não estar se encaixando.
Era final de ano, no começo da noite havíamos conversado sobre atualizar o nosso desejo de vida, uma técnica que ensinamos para os nossos alunos e nos obrigamos a aplicar sempre para conseguir fazer a vida avançar rápido.
Não tem como conversar sobre desejo de vida sem olhar para os sonhos que você tem, mas está deixando de lado ou não está tendo coragem de assumi-los. Chegou então a hora de olhar a nossa gavetinha e ver o que tinha lá dentro. Quando abrimos a primeira gaveta dela tinham dois sonhos, ser juíza de direito e ter cinco filhos.
Para quem já conhece o nosso trabalho, sabe o quanto nós incentivamos as pessoas a terem uma coisa e a outra, ao invés de ficarem escolhendo entre uma coisa ou a outra.
Acontece que naquele momento ela não estava tendo coragem de se dedicar totalmente nem a uma coisa nem a outra, o sonho de ser juíza estava meio de lado, ela estudava de vez em quando e o sonho de ter mais filhos também estava meio de lado, a gente quase nunca conversava sobre isso e quando conversávamos, era sempre uma "meia conversa".
Naquela noite foi o momento de conversar abertamente sobre aquilo e ela tentou ter uma meia conversa comigo dizendo: eu fico triste de você não querer, mas tudo bem.
Poderia ter sido mais uma meia conversa, mas como estávamos no momento de atualizar o nosso desejo de vida, eu disse: vamos aproveitar e conversar abertamente sobre isso, até para que possamos tomar uma decisão hoje.
Eu me lembro claramente o que eu disse para ela naquela noite. Eu tentei explicar que se dependesse de mim, não era algo que eu buscaria, eu estava feliz com os três filhos, feliz com o meu momento profissional e super realizado com o nosso momento financeiro. Por isso, não era algo que eu buscaria, mas que naquele momento, eu já estava convicto do quanto aquilo era importante para ela e que eu não tinha mais nenhum medo ou resistência, que era um desejo do meu coração, mas que eu aceitaria o desafio por ela.
Quando eu fui falando, o desejo aumentou no meu coração, o que seria para mim apenas uma aceitação, passou a ser um desejo e eu falei pra ela que eu sabia do tamanho da decisão que ela tinha que tomar naquele momento, que ela precisava encarar de frente o impacto de uma nova gestação na vida dela, nos planos profissionais dela, mas que naquele momento eu não apenas toparia, mas que já era um desejo meu, que eu queria mais filhos.
É muito fácil ou comum deixar o tempo passar para ver se os problemas somem, mas no caso da maternidade, assim como na vida, isso não acontece. Os problemas no máximo trocam de roupa e de tamanho, mas se eles não forem encarados, eles não serão solucionados.
Naquela noite nós decidimos olhar para o peso da maternidade e entender o que cada um poderia e deveria fazer para esse peso diminuir.
Com o começo da conversa, nós já havíamos começado a atualizar parte do nosso desejo de vida e um desejo já estava alinhado, naquele momento, os dois queriam filhos, antes ela queria e eu topava, mas ali, os dois queriam e a nossa conversa foi no sentido de entender o que faltava, do que precisaríamos e qual seriam os impactos nas nossas vidas.
Quando o casal está alinhado e cada um está cumprindo o seu papel na relação, o ponto mais importante sempre será o impacto e nesse momento é muito fácil, embora muito perigoso, colocar uma balança no meio da conversa para medir a vida de qual será mais impactado na tentativa de estabelecer uma compensação em forma de fatura emocional recompensar os "prejuízos sofridos com a chegada do bebê."
Aqui é importante ressaltar o perigo e a possibilidade de a mulher entrar em guerra ou disputa com o homem pelo fato da vida dela ser mais impactada do que a do homem e isso acontece muito por conta das narrativas sociais e culturais, mas é importante lembrar que a maioria pensa assim, que a maioria acha um absurdo, que a maioria muitas tenta lutar contra a natureza da mulher, que a maioria muitas vezes tenta punir os homens pelos impactos da maternidade na vida da mulher, mas é muito importante lembrar também que a maioria não é feliz, que a maioria tem problemas com a maternidade e que a maioria não tem coragem de encarar esse peso como ele deve ser encarado.
A conversa que nós tivemos foi difícil, nós precisamos encarar que filhos mais filhos naquele momento adiaria o sonho da magistratura por mais alguns anos se ela quisesse ser o tipo de mãe que ela havia sonhado. Nós precisamos encarar o fato de que financeiramente não fazia o mínimo sentido sacrificar os bebês para viver a rotina de um juíz de direito e que não havia a mínima possibilidade de ela começar uma carreira fora do estado de São Paulo ou até mesmo fora da cidade de São José dos Campos.
Ela precisava encarar o impacto de novos filhos na vida dela, eu tinha que assumir o papel de pai e de provedor material e não poderia ser punido por aquele impacto. Ninguém pode ou precisa ser punido por uma decisão adulta e consciente de gerar uma vida, muito menos os filhos.
O mundo será mais saudável e a maternidade será mais leve quando as mulheres realmente quiserem ser mães, entenderem que isso tem um impacto gigante em suas vidas, em suas carreiras e em seus corpos e que esse trabalho precisa ser acompanhado de uma pareceria verdadeira e transparente com homens dispostos a assumir a responsabilidade de prover e proteger a mulher, a família e os filhos de tudo e de todos.
Enquanto houver separação de papéis e faturas emocionais entre homens e mulheres, a maternidade sempre será um peso.
Enquanto os casais continuarem tendo "meias conversas" sobre esses papeis, sobre esse desafio e sobre esse peso, o fantasma continuará ali e você continuará fazendo parte da maioria.
A nossa conversa terminou com ela dizendo que naquele momento ela iria se dedicar a maternidade, ciente de que isso adiaria um pouco ou para sempre o sonho da magistratura, que ela avaliaria o quanto a magistratura faz sentido na vida dela depois que o bebê (que na verdade seriam dois) tivesse pelo menos três anos, que seria o tempo dela se preparar e assumir o cargo com a criança mais nova com a idade entre 4 a 5 anos.
Nos abraçamos, choramos e decidimos que naquela noite ela engravidaria.
O que ela conta no relato de parto dela, que eu prometo publicar nos próximos textos, é que eu sempre soube que seriam dois.
Nós criamos aqui n'O Corpo Explica, um conjunto de teorias e técnicas que nós batizamos de A Lógica da Vida, eu estava no meu melhor momento técnico, intelectual e filosófico a cerca d'A Lógica da Vida e naquele dia eu decidi testar ao extremo o poder das escolhas (nós acreditamos que tudo são escolhas) e com a conversa que havíamos tido, com a leitura que eu havia feito da lógica da nossa vida, com os desejos de vida atualizados e alinhados, eu pensei, esse é o melhor momento para escolher ter dois filhos ao mesmo tempo.
O fato é que naquela noite, a jornada de vida da Antonella e do Dom começou e foi sem nenhuma sombra de dúvidas a melhor experiência de maternidade que a Émillie viveu.
Tudo foi leve desde o primeiro dia. A descoberta foi divertida, a espera foi gostosa e o parto foi maravilhoso.
Parece que existe um luz sobre ela, parece que ela é especial, parece que ela é diferente. Tudo dá certo na maternidade dela, até o parto natural que ela queria. Tudo, tudo, tudo. Parece sorte, mas não foi sorte, foi conhecimento e aplicação.
Só ficou leve depois que nós encaramos o peso.
Será que você está encarando de frente o peso da maternidade?
Será que você está dividindo ou separando os papéis?
Será que você já desistiu de fazer parte da maioria que "gosta de carregar o peso para tentar ganhar um troféu no final"?
Qual é a conversa que você precisa ter? Com quem você precisa conversar? O que você precisa encarar ou mudar?
Talvez você precise ouvir mais mulheres que vivem a maternidade leve, talvez você precise ter mais contato com mulheres com a Émillie, talvez você precise de ajuda.
Eu espero ter te encorajado a encarar o peso da maternidade com esse texto.
Nós temos vivido uma maternidade leve e uma vida maravilhosa, temos ensinado pessoas com as técnicas, conceitos e ferramentas do O Corpo Explica. E fazemos isso por acreditar que todo ser humano nasceu para ser feliz.
Se você não construiu a sua felicidade ainda, talvez você precisa ouvir coisas diferentes das que você ouvia, questionar o que você aprendeu e duvidar do que você acredita.
Você acredita que a maternidade pode ser leve? Aliás, você acredita que a sua maternidade pode ser leve?
Se sim, eu espero que você já tenha conseguido, se não, eu espero ter te colocado em cheque e te provocado a buscar essa leveza até encontrar.
Se eu fui o pai no meio das mães que conseguiu fazer isso, espero continuar tendo espaço entre vocês para trazer mais coisas para as mães, mas também mais coisas para os mais.
A maternidade não pode ser um desafio encarado apenas pelas mulheres. Nós homens devemos ficar com peso, nós homens devemos prover para que tudo fique fácil, nós homens devemos proteger as mulheres e as crianças.
É nisso que nós d'O Corpo Explica acreditamos, é isso que nós queremos levar para o mundo.
Não se esqueça dos quatro pais dos pais e de que esses papéis devem ser divididos, compartilhados e não separados.
Não se contente com uma maternidade pesada pelo simples fato de que a maioria vive assim.
Pare de se contentar com o peso da maternidade, descontente-se e nos vemos no próximo texto ou nas redes sociais do O Corpo Explica.
Se fez sentido para você, compartilhe essa mensagem e acompanhe o nosso trabalho.
Um forte abraço de toda a família Euler.
Com carinho.
*Elton Euler, especialista em comunicação, idealizador e co-fundador do O Corpo Explica. Percebeu o poder do conhecimento dos traços de caracteres e assumiu o desafio de encontrar uma utilidade prática para esse conhecimento, criando ferramentas inéditas no mundo para medir e controlar os traços, explicando para as pessoas como elas funcionam e como resolver seus problemas. Suas técnicas já são ensinadas em português e espanhol em mais de 32 países e utilizadas e aplicadas por mais de 30 mil pessoas ao redor do mundo.