A psicanalista especializada em adoção Sandra Quintino aborda um tema delicado entre as mulheres, especialmente as que sonham com a maternidade
Sandra Quintino* Publicado em 26/06/2021, às 09h00
Na história da humanidade, a infertilidade sempre esteve ligada à mulher, mesmo quando o problema era com o homem. Éramos sempre nós que não tínhamos todo o necessário para gestar uma vida e dessa forma muitas mulheres eram deixadas à margem da sociedade.
E aquelas que gostariam de abraçar a maternidade, mas não conseguem gestar, muitas vezes são cercadas de perguntas nada discretas e desconfortáveis:
- Mas quando afinal vocês terão filhos?
- Olha a idade! Daqui um pouco não dá mais para engravidar.
E você junto com seu marido sofre em silêncio porque sim, vocês têm tentado e muito, mas não conseguem engravidar.
E aí, depois de anos de tentativas frustradas e exames invasivos, vem o diagnóstico: Infertilidade. O choque é enorme, você desaba e muitas vezes não sabe o que fazer, não sabe nomear o que está sentindo e nem como sair dessa situação tão difícil.
E então você sente:
Em psicanálise, a impossibilidade de gerar, é sentida pela mulher como uma ferida narcísica, que abala seus referenciais de identificação, já que a maternidade parece ser um importante elo na construção da identidade feminina em nossa sociedade, como já disse anteriormente.
E essa ferida nós chamamos de LUTO.
Por que luto ?
Para Freud, o luto é um processo lento e doloroso, que tem como características uma tristeza profunda, afastamento de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre o objeto perdido, perda de interesse no mundo externo e incapacidade de substituição com a adoção de um novo objeto de amor (FREUD, Luto e Melancolia,1915).
Bem parecido com o que você sente ou sentiu não é mesmo?
Até o afastamento ou isolamento da sociedade acontece neste caso. A pessoa que não consegue gestar biologicamente passa a não mais ir a festas de aniversário (principalmente se for infantil), sair com amigos que tenham filhos, etc. para não se deparar com a sua própria realidade de não conseguir ter seus próprios filhos.
As dores são tantas e tão profundas que a pessoa prefere se isolar a viver. O que fazer para passar pelo luto da Infertilidade?
A análise tem ferramentas para com uma escuta acolhedora e de excelência poder colaborar para que o processo seja feito talvez com um pouco menos de sofrimento. E apesar de muitas pessoas desconhecerem esse fato, ele precisa e deve ser tratado, pois as feridas são tão profundas que podem atrapalhar a vida do casal e talvez levar até a uma separação. Portanto, procure ajuda de um profissional.