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Como falar sobre a morte com as crianças

Com a pandemia de coronavírus, com tantas perdas e lutos, fica impossível não falar sobre a morte com as crianças e chega o momento em que esta conversa é necessária. Ainda mais quando morre alguém da família, um conhecido ou um artista tão querido como Paulo Gustavo

Dra. Francielle Tosatti* Publicado em 05/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 19h27

Especialista explica como falar sobre a morte com crianças - (Foto: Pexels - Pixabay)
Especialista explica como falar sobre a morte com crianças - (Foto: Pexels - Pixabay)

Caso algum membro da família ou amigo próximo venha a adoecer é importante tentar incluir a criança no processo desde o começo, para que ela assimile uma cronologia dos acontecimentos.

Falar sobre morte com crianças pode ser desconfortável para os adultos mas é importante que se converse com elas sobre o ciclo da vida. Esse tema é um assunto de família e, idealmente, a conversa deveria tomar lugar de forma natural, gradual e ilustrativa, e não apenas mediante o evento em si.

De forma geral, a maioria das crianças já teve algum contato com a morte de forma muito natural no seu dia a dia, quando elas veem um inseto morto por exemplo, ou uma flor murcha, ou mesmo assistem a um filme que aborda o assunto, como o Rei Leão, ou o próprio Frozen – que tem início no luto das irmãs pelos pais.

Com a pandemia pela Covid-19, o assunto se tornou ainda mais próximo e mais palpável, seja pelas informações que chegam pela mídia aos lares, seja por um ente querido que adoeceu, ou mesmo veio a falecer.

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Por isso, tão importante quanto falar sobre morte é entender que a criança sente o luto de acordo com sua idade e maturidade. Cada criança irá reagir de uma forma à ausência, ao clima da casa e às emoções dos familiares.

Até os 02 anos de idade, a criança percebe a morte como uma ausência, sendo fundamental manter a proximidade com os familiares sobreviventes e que outro cuidador assuma as responsabilidades em caso de perda de um cuidador próximo à criança, como pais ou avós, sempre mantendo a constância da rotina.

Dos 03 aos 06 anos, a criança começa a assimilar a morte, mas ainda de uma forma muito fantasiosa, sendo importante ter muito cuidado com o uso de metáforas como “dormiu para sempre” ou “fez uma longa viagem”, pois podem gerar fobias na hora de dormir ou viajar, além de não contribuir com a assimilação da finitude do evento. A visão egocêntrica comum nessa faixa etária pode levar a criança a se sentir culpada, e adotar comportamentos hostis ou ter regressões de comportamento. Re-afirmar constantemente que a criança não teve culpa, acolher e ajudar a criança a expressar seus sentimentos fazem parte do suporte que ela precisa e que não só vai curar mas ajudar ela a entender o luto. Expressões artísticas como desenhos, tabelas de sentimentos e álbuns de lembranças são facilitadores desse processo.

Por volta dos 09 anos é que a criança começa a entender a morte como algo definitivo e irreversível e, a partir dessa idade, podem requisitar meios concretos para entender a morte, como a participação no funeral. Essa é uma possibilidade que fica sujeita à decisão da família, dos seus valores e da sua religiosidade. É importante que seja uma opção para a criança e não uma imposição. Caso a decisão seja levar a criança, e ela desejar ir, explique como vai ser antes e esteja pronto para trazê-la de volta para casa se ela não quiser ficar.

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Caso algum membro da família ou amigo próximo venha a adoecer é importante tentar incluir a criança no processo desde o começo, para que ela assimile uma cronologia dos acontecimentos. Esteja preparado para responder suas perguntas, que podem ser repetitivas, de forma clara e sem detalhes desnecessários. Abra espaço para que ela expresse seus sentimentos (o lúdico é um excelente facilitador) e ajude-a a entender o que está acontecendo. Mantenha a criança informada da evolução. Em casos de internações, havendo a possibilidade de uma tele-visita, pergunte à criança se ela deseja participar e antecipe para ela o que ela irá ver: estado de saúde, emagrecimento, dispositivos que possam estar conectados ao corpo, etc. Assegure-a de que se ela não quiser ver está tudo bem e que você dará notícias.

Se houver falecimento de um ente querido, a criança deverá ser comunicada assim que possível por um cuidador com quem ela tenha vinculo afetivo e segurança. Confie que essa dolorosa realidade será suportável com o afeto, o amor e o respeito dos familiares.

Por fim, não se preocupe em esconder ou falsear suas próprias emoções. Está tudo bem dizer “estou chorando porque tenho saudades”. Assim, essa vivência ajudará ela a entender que entrar em contato com sentimentos dolorosos é possível e que, à medida em que o amor dos nossos queridos nos conforta, esses sentimentos se transformam em lembranças saudosas.

Uma das homenagens mais lindas, na minha opinião, e que costuma ser bem assimilada por crianças, é plantar uma rosa ou outra flor para o ente querido, explicando que ele nunca será esquecido e estará sempre no seu coração.

Assista ao vídeo que a Dra. Francielle gravou especialmente para o Papo de Mãe

*Dra. Francielle Tosatti, pediatra, da Sociedade Brasileira de Pediatria, especialista em Emergências Pediátricas pelo Instituto Israelita Albert Einstein.

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