Ginecologista e especialista em reprodução humana, Roberto Antunes, dá dicas para aumentar as chances de uma gravidez espontânea
Dr. Roberto de Azevedo Antunes* Publicado em 17/06/2021, às 14h44
A natureza humana está associada à ideia de continuidade. Para muitos, tal fato significa constituir família e ter filhos. Atualmente, no entanto, os padrões de comportamento das pessoas têm mostrado que o momento de se ter um bebê vem sendo cada vez mais postergado. Dessa forma, cada vez mais casais procuram auxílio médico para poder atingir seu objetivo de ter uma gravidez. Sob esse prisma, existem alguns pontos que são fundamentais para aumentar as chances de uma gravidez espontânea, ou mesmo diminuir os riscos de falhas nos tratamentos.
É senso comum que a infertilidade afeta 10 a 15% de todos os casais. Qual o momento ideal para se procurar ajuda médica é sempre um ponto que gera dúvidas. Em linhas gerais, sabemos que aqueles casais cuja mulher possui até 35 anos e estão tentando gestar há 1 ano ou mais, devem procurar um especialista. Já aqueles casais onde a mulher tem entre 35 e 40 anos, o recomendado seria esperar no máximo 6 meses até buscar ajuda. E, naqueles onde a mulher possui mais de 40 anos, a investigação deveria ser conduzida já quando o casal manifestasse a vontade de engravidar.
A preocupação com a idade da mulher se dá, pois, as chances de se conseguir uma gestação, seja espontânea, seja através de algum tratamento, diminuem de forma exponencial com o passar dos anos. Esse declínio se inicia de maneira mais visível aos 35 anos e se acentua aos 40 anos.
Entretanto, existem situações que servem de alerta para um casal na sua busca por um especialista em medicina reprodutiva: pacientes com histórico familiar de menopausa antes dos 40 anos, pacientes com história de cirurgias pélvicas anteriores, ou aquelas com suspeição, ou mesmo, diagnóstico de endometriose, bem como aqueles casais cujo homem apresenta histórico de traumas testiculares, cirurgias para correção de hérnias inguinais, varicocele, ou mesmo correções de testículos criptorquídicos, devem procurar um especialista ao menos para fazer uma avaliação no momento em que decidem iniciar tentativas de gestar.
Outro ponto a ser abordado é a definição do momento ideal para se ter relação sexual, quando se está tentando engravidar. Em situações fisiológicas, o espermatozoide sobrevive entre 48-72h no trato reprodutivo feminino. O óvulo, por sua vez, resiste em torno de 24h. Dessa forma, um conhecimento básico do ciclo menstrual e ovulatório é essencial para os casais aumentarem suas chances. A ovulação ocorre usualmente 14 dias antes da data esperada da menstruação. Uma vez que essa data seja estimada, é possível definir um período de 7-10 dias que englobe a data esperada da ovulação e, buscar o coito ao menos em dias alternados. Uma espécie de tabelinha, mas com o intuito de buscar a gravidez, ao invés de evitá-la.
Sempre cabe ressaltar que mesmo que tudo seja feito da forma correta, a fertilidade da espécie humana é baixa. Apenas para exemplificar, pacientes com menos de 35 anos que estejam tentando ativamente engravidar, ainda que obedeçam todas as instruções acima e não tenham qualquer problema nas trompas, útero, ou no sêmen, apresentam taxas de fecundabilidade que giram entre 20% e 25%. Isso deve ser explicado aos casais com muita calma, pois ajuda a diminuir a expectativa e a ansiedade durante o período em que estão tentando a gravidez. Na prática, isso significa que de cada 100 casais que estão tentando engravidar em um determinado mês, apenas 20 deles conseguem.
Além disso, é importante que casais que decidem iniciar suas tentativas de gravidez realizem um check up antes para poder ajustar medidas gerais como melhorar a alimentação, diminuir ingesta de álcool e cafeína. Nesse contexto, também é interessante verificar se taxas hormonais tireoidianas, bem como a glicose e outros exames de rotina encontram-se normais.
Já para casais e mulheres que não estão ainda pretendendo engravidar no momento, mas têm a maternidade como uma meta, uma abordagem que vem ganhando força é a de se fazer uma avaliação da reserva ovariana entre os 30 e 35 anos. Associar a avaliação de reserva quantitativa de óvulos com o ideal de filhos que cada mulher quer ter é sempre importante para ajudar nas indicações de congelar óvulos ou não.
Enfim, quando o assunto é tentar engravidar, seguir os pontos acima podem ajudar bastante as suas chances de conseguir seu bebê sem precisar ir a um especialista. Ademais, caso um tratamento seja necessário, essas dicas podem facilitar para que o resultado positivo chegue mais rápido.
*Dr. Roberto de Azevedo Antunes
Graduado em Medicina com Especialização em Reprodução Assistida e Endoscopia Ginecológica. Mestre em Ciências da Saúde, com ênfase em Fisiologia endócrina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É Diretor Médico da FERTIPRAXIS Centro de Reprodução Humana, Diretor da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro e Diretor da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida- SBRA. Doutorando em Ciências da Saúde, pelo programa de Endocrinologia da UFRj