Em entrevista ao Papo de Mãe, a fisioterapeuta Priscila Sandri conta sobre o susto da gravidez de quadrigêmeos, fala da gestação e do parto de múltiplos, e revela como foi ver a família crescer, de uma filha para cinco filhos, de uma vez só
Maria Cunha* Publicado em 31/05/2021, às 11h26
No começo do mês de maio, uma mulher do Mali deu à luz nove bebês de uma só vez. Halima Cisse pensava estar grávida de sete bebês, mas estava gerando nônuplos. Todas as crianças que nasceram passam bem, mas esse não é o usual. Nos últimos 50 anos, dois casos documentados de nônuplos terminaram com a morte de todas as crianças. Além disso, gestações de múltiplos, em geral, são extremamente raras e aumentam os riscos à mãe e aos bebês.
Em entrevista exclusiva ao Papo de Mãe, Priscila Sandri que é fisioterapeuta, mãe de cinco crianças e dona do perfil no Instagram “De um pra cinco” (@deumpracinco), relata como foi descobrir que estava grávida, naturalmente, de quatro crianças.
"Sempre quis construir uma família, esse sempre foi o meu grande sonho. Eu conheci o Ricardo, que é o pai dos meus filhos e meu esposo, e nós tivemos a nossa primeira filha, a Catarina. Logo depois, a gente gostou tanto da maternidade e a maternidade foi tão leve, tão tranquila pra gente, que a gente decidiu ter o nosso segundo filho", conta Priscila.
A fisioterapeuta explica que por ela e o marido estarem um pouco mais velhos, havia um receio de que a gestação fosse demorar. Por isso o casal decidiu começar antes do previsto. "No mesmo mês que a gente decidiu engravidar, lá estava eu: grávida".
Priscila ainda não sabia da gravidez e, em janeiro de 2018, foi até Aparecida com a família agradecer pelo ano que tinha passado. Lá, Priscila conta que ela e o marido tiveram uma conversa com Nossa Senhora e pediram por gêmeos, caso fossem merecedores e que dessem conta de conduzir a educação dos filhos de forma boa. O avô de Priscila era gêmeo e Ricardo, seu esposo, também.
Mas, a fisioterapeuta carregava apenas um bebê, que ela perdeu numa quarta-feira de cinzas, no dia 14 de fevereiro de 2018, um dia depois do aniversário de Ricardo.
"No começo, foi bem tranquilo. Claro, eu fiquei extremamente arrasada, mas eu acredito que tudo tem um motivo, tudo tem um porquê, e eu não tive nenhum problema nos primeiros 20 dias pós-aborto", explica a Priscila Sandri.
De acordo com ela, as dificuldades vieram depois. "Eu afundei, eu chorava dia e noite, eu ia pro trabalho chorando, a Catarina sempre comigo, eu fiquei muito mais apegada à ela, nesse momento. Foi bastante difícil, depois que você tem um aborto, você tem que cumprir uma quarentena igualzinho como se você tivesse ganhado um bebê. Então, logo depois disso, eu fiquei um tempo sem menstruar".
Em abril, Priscila engravidou novamente. No primeiro ultrassom, eram gêmeos. Cinco dias depois, apareceram mais dois bebês. "Aí eu me vi grávida de quadrigêmeos, 'curtindo' um luto ainda. Foi muito difícil, inicialmente, a minha aceitação de quatro bebês", conta a fisioterapeuta.
Priscila relata que Ricardo amou a gravidez quádrupla, mas o marido vem de uma família de quatro meninos e mais um irmão, o quinto, de uma outra mãe. "Ele está acostumado com essa casa cheia e eu não estava preparada. Eu nem sabia que existia uma maneira de se engravidar naturalmente de tantos bebês". A fisioteraputa também conta que demorou três meses para digerir a novidade e colocar a cabeça no lugar, porque surgiriam muitas mudanças.
"São cinco cadeirinhas em um carro, o nosso carro só comportaria três e olhe lá, apertado, porque aquele espacinho no meio não cabe uma cadeirinha. Então, você começa a pensar racional: e educação? E alimentação? E roupa? E aí a gente surta", pontua Priscila Sandri.
A gestação correu dentro do esperado. Segundo Priscila, um dia de cada vez. Para isso, a fisioteraputa enfatizou a importância da equipe da ProMatre, maternidade que escolheu pro nascimento dos quadrigêmeos, além de seu obstetra, o Dr. André Giannini.
"Eu tive muito sangramento, com 23 semanas eu já comecei a ficar mais quietinha e com 27 semanas eu já entrei em trabalho de parto. Eu precisei internar pra conseguir inibir esse trabalho de parto. Eu entrei em trabalho de parto três vezes até o nascimento deles. Essa eu costumo dizer que foi a parte mais difícil até hoje", conta Priscila Sandri.
A fisioterapeuta ficou 40 dias internada, até os filhos nascerem, sem a filha mais velha e o marido, o que ela aponta como muito díficil, pois acordava e dormia junto com a menina, todos os dias. "Eu passava o dia com a Catarina. Quando eu fui pra maternidade, ela me ligava no café da manhã por vídeo e eu estava tomando café, ela já estava indo pra escola, e ela falava assim: 'Mamãe, quando você vai voltar pra nossa casa?' E aquilo me matava".
Um dia antes do previsto, com 31 semanas e 5 dias, os quadrigêmos de Priscila e Ricardo nasceram: Antonella com 900g, Ícaro com 1,4kg, Diego com 1,5kg o Caio com 1,6kg. Foram 51 dias de UTI neonatal que, segundo a fisioterapeuta, permite um grande aprendizado com outras mães, uma troca. "Muitas mães com um bebezinho só e esse único bebezinho passar por tanta cirurgia, tantos problemas", explica Priscila Sandri. Além disso, Priscila afirma que toda gestante deveria passar pelo lactário, "é um lugar incrível, que a gente aprende demais".
Com a saída dos bebês da maternidade começou uma nova rotina de Priscila e Ricardo, que foram se ajustando a cada 15 dias, porque os filhos recém-nascidos iam mudando aos poucos. Com três meses e meio ou quatro, os bebês já dormiam a noite inteira.
"A gente foi conduzindo aos pouquinhos, foi conquistando aos pouquinhos, a gente foi aprendendo muito mais sobre resiliência, muito mais sobre companheirismo, muito mais sobre generosidade. A gente acorda e vai dormir, todos os dias, agradecendo muito a Deus por cinco crianças extremamente saudáveis, extremamente espertas", completa Priscila.
De acordo com a fisioterapeuta, aos poucos, tudo se ajeita. "O que eu costumo falar é: Um dia de cada vez. Nem sempre as coisas vão sair como a gente quer e tudo bem, amanhã é um outro dia pra gente recomeçar e tentar fazer da maneira que a gente acha melhor. Eu brinco que nasce uma mãe, nasce uma culpa, então a gente tem que tirar esse casaco de culpa e saber que a gente vai errar sim, mas que a gente vai errar sempre tentando fazer o melhor por eles".
A fisioterapeuta conclui ao dizer que: "Nós éramos três, agora somos sete".
Agora, a família está em uma nova fase: a filha mais velha, Catarina, com 4 anos e meio e os quadrigêmeos com 2 anos e meio. O quarteto acabou de entrar na escola e se adaptou muito bem, estavam seguros e prontos, nem houve choro. "No primeiro dia de adaptação, eles já ficaram o período inteiro, eles vão felizes, eles voltam super felizes e é muito legal de ver", finaliza Priscila Sandri.
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