Alimentação dos pais e dos filhos: muda que elas mudam

Como o exemplo dos pais pode tornar a vida dos filhos mais saudável? A nutricionista Bianca Naves fala sobre as conexões à mesa

Roberta Manreza* Publicado em 17/09/2021, às 08h52

O exemplo de uma alimentação saudável vem principalmente dos pais -
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Bianca Naves é nutricionista e fundadora da Nutrioffice, clínica especializada em nutrição. Ela é mãe de duas meninas, Giovana, de 5 anos, e Isabela, de 2. Ela conta que são duas meninas muito sapecas, cheias de energia, são muito ativas e dão um pouco de trabalho, mas Bianca agradece a Deus por elas comerem de tudo. “Apesar delas comerem de tudo, elas adoram um docinho, inclusive a mais nova, tem duas formiguinhas em casa, que eu tento administrar da melhor forma possível. Uma alegria, uma diversão”, comemora a especialista.  

Mas Bianca revela também ser um desafio conciliar maternidade, carreira, trabalho, sonhos, e orienta: “Uma mãe bem nutrida, uma mãe bem cuidada, consegue cuidar melhor dos seus filhos também”. 

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A educação das crianças através do exemplo

Segundo a nutricionista, é fato que as crianças, se elas não têm contato com os alimentos, com a variedade dos alimentos, se elas têm um repertório limitado, de vivência de alimentação, elas serão mais seletivas. “Só que não adianta um pai, uma mãe, um cuidador, um avô, uma avó, ou quem estiver na linha de frente do cuidar das crianças no dia a dia, falar para a criança comer, mas não praticar. A gente tem que praticar. Por isso eu falo que um pai, uma mãe, um cuidador bem cuidado, cuida melhor. Se eu me alimento bem, as crianças vão observar o meu comportamento, ” afirma.

Bianca explica  que não adianta falar para elas consumirem salada se os pais não estão consumindo salada, não tomar refrigerante,  se os pais estão tomando refrigerante. Ela diz que vê muito que as mães começam esse novo olhar para a alimentação, para uma dieta mais inclusiva, com mais nutrientes, com repertório maior, na gravidez.

Para a nutricionista: “As mães despertam para essa necessidade porque a mãe, normalmente, abre mão de muitos autocuidados, inclusive, em prol dos filhos. Não que a gente tenha que fazer isso, mas que seja uma iniciativa, uma motivação, para a mãe se cuidar também. Isso vale para todos os cuidadores, porque afinal as crianças vão repetir, sim, o hábito dos adultos. É fato, se a criança vê que pai e mãe comem fruta de sobremesa, ela vai entender que aquilo é a sobremesa”.

Segundo ela, isso não vai fazer com que a criança não goste de doce e dá como exemplo o que acontece na sua própria casa: As minhas meninas adoram doce. Mesmo a mais novinha, que tem dois anos, tem curiosidade pelo doce porque a irmã adora, mas não que tenha com frequência. Elas já sabem que sobremesa é fruta. Tem a fruteira e elas podem escolher a fruta que elas quiserem.

Não precisa também ser só a fruta que eu ofereço. É a fruta que está disponível, ali”. Bianca conta que  as filhas sabem também que tem que ter um verde no prato, que seja uma verdura crua, ou uma verdura cozida. Já faz parte do contexto da casa, mas tudo isso tem que ser de forma leve, para que a criança crie uma boa relação com a comida, desde sempre, explica ela. E acrescenta: “Não adianta o pai e a mãe chegar com as suas frustrações, com as suas limitações, a gente precisa se desenvolver na maternidade e na paternidade para tornar esse momento das refeições um momento de prazer”. 

A nutricionista Bianca Naves

A responsabilidade dos pais 

A nutricionista fala que a exceção justifica a regra. Para ela, quando a regra da casa é uma alimentação equilibrada, saudável e nutritiva, com uma oferta adequada de alimentos naturais, com a prioridade de uma refeição caseira, no caso o famoso arroz com feijão, carne magra, verduras e legumes, a base da alimentação dos brasileiros é muito saudável, pode entrar um macarrão de vez em quando, sempre acompanhado de vegetais.

A exceção, orienta ela, que seja um doce no final de semana, que seja uma comemoração de um aniversário, bolo, algum fast-food que seja eventual, que seja esporádico, que seja exceção, não há problema. “Quanto mais restrição a gente levar para esse comportamento, mais compulsão a gente pode levar para o futuro. Tudo no equilíbrio. Só que essa conduta, esse comportamento, parte inicialmente de quem está na linha de frente de cuidado com as crianças”, analisa. 

Evitar os excessos

Bianca reflete: “Se sabe que vai ser tentador para as crianças ter um chocolate à vista, não precisa deixar um chocolate à vista, mas elas também precisam aprender a lidar com um chocolate à vista. É muito individual, é como cada família escolhe levar aquela rotina alimentar, aquela relação com a comida”. Bianca e o marido, em casa,  definiram uma conduta única. Eles conversaram com as meninas e disseram que na família deles a sobremesa é fruta, que eles não comem doce durante a semana, que na família deles, eles sentam para fazer as refeições. “Você torna aquele hábito um comportamento do grupo familiar. É engraçado que a minha filha, a Giovana, de 5 anos, repete: ‘Na nossa família não pode sentar no sofá para comer’”, comemora Bianca. 

Frutas e verduras 

Para as crianças que rejeitam frutas e verduras, segundo a nutricionista, a primeira recomendação é paciência, é tomar uma dose extra de paciência. Ela diz: “Pai e mãe, nós estamos hoje com essa vida moderna, que a gente tem,  sempre correndo.

Quando a gente fala em alimentação, nós também devemos praticar a paciência e a presença durante as refeições, mas com as crianças a gente tem que aceitar que elas não vão querer toda hora, que elas não vão comer tudo, que elas não vão gostar, mas a gente não pode deixar de ofertar, elas precisam visualizar. “Já que a minha filha não come salada, eu nem vou colocar no prato”, exemplifica Bianca. “A gente coloca no parto”, corrige.

Conexões à mesa 

Bianca explica que a gente não pode esquecer que o convívio social à mesa é tão importante quanto o que a gente se alimenta, como a gente se alimenta. Para ela, o convívio social é determinante para o momento de prazer, de harmonia, de trocas, de experiências, de criar memórias afetivas durante as refeições.

A nutricionista alerta: “Esse é um ritual muito importante para a saúde física e sobretudo emocional. É o momento onde as crianças conversam, se abrem, contam suas experiências. É muito importante, pensando nesses dois aspectos, tanto pelo exemplo do que se come, mas também pelo exemplo desse momento em família, sentados, com calma, apreciando uma boa refeição”. 

Afeto, vínculo e nada de brigas

Bianca reflete que a gente vem de uma cultura brasileira, que a criança gordinha é a criança saudável, que a criança tem que terminar o prato inteiro, que tem que raspar o prato para considerar que comeu bem, que tem que comer tudo, que não pode sobrar, ou então tem castigo, ou a chantagem de que se não comeu bem não tem a sobremesa. “São chantagens que não trazem repercussão positiva na saúde da criança e nem mudam o comportamento. O que é importante é a gente ajudar a criança a entender qual é o seu nível de saciedade. Entender quais são os sinais de fome e saciedade, momento de parar ou continuar. Logicamente, a gente sabe que criança faz birra, criança faz manha, criança se distrai facilmente”, esclarece.

Segundo a nutricionista,  a gente precisa olhar para o nosso ambiente e torná-lo mais favorável para uma refeição mais concentrada. Ela acrescenta: “A gente fala muito domindfulness, que é a atenção plena. Treinar isso com as crianças. É lógico que se pai e mãe estão com o celular à mesa, a criança adora um celular, vai querer pegar o celular. Se a televisão está ligada, o som da tv, ou a propaganda, chama a atenção da criança. Qualquer estímulo extra pode desviar a atenção da criança, do foco, da alimentação naquele momento. Inclusive dela sentir os gostos, diferentes sabores e sobretudo interpretar e receber os sinais do organismo de fome e saciedade”. 

Sem telas e concentração

Bianca alerta que tem situações esporádicas, que é bom sair da rotina. “Na minha casa a gente tem uma mesinha de criança, que fica na cozinha. No final de semana, minha filha mais velha diz que hoje é sábado e ela pergunta se pode tomar o café da manhã assistindo à tv e se pode pegar a mesinha e levar para o meio da sala de tv. Eu falo que pode, que hoje é sábado, que é um dia diferente. Hoje a mamãe libera”, conta.

Bianca explica que criança gosta de rotina, criança gosta de limite, gosta e precisa, criança precisa saber até onde ela vai, mas é também,  dentro de uma condição saudável, legal a gente também abrir uma exceção. 

Cobranças e sentimento de culpa

A nutricionista afirma que primeiro a gente tem que lidar com a culpa. “Nós pais, nós temos que saber que a gente faz o melhor, que está em nossas mãos, e o que está disponível para a gente. Nós não somos perfeitos, somos seres humanos e está tudo bem se isso for de vez em quando. Se em algum momento a gente perder a regra e perder o controle, é normal. O que importa é a gente saber que todo nosso plano de vida, nosso plano de gerenciamento familiar, nosso planos de gerenciamento alimentar da família, muitas vezes é a mulher que está à frente dessa missão, na maior parte do tempo está saudável”, diz.

Para ela, o que que importa, no momento que eu estou com o meu filho, é estar com o meu filho, desligar o celular e tentar apreciar aquele momento, estar 100% atento aqueles sinais que tanto nós emitimos, como pais, e os que a gente recebe dos nossos filhos também. “É algo treinável isso. A gente precisa treinar para estarmos presentes nos momentos determinantes e cruciais e lidar melhor com a culpa. Nós sempre vamos fazer o que está dentro do nosso alcance, o que nós podemos fazer de melhor , mas nós não somos perfeitos e não vamos ser nunca perfeitos”, conclui. 

A clínica Nutrioffice, em São Paulo, de Bianca Naves, conta com cinco nutricionistas com especializações diferentes para atender a família toda. “Aqui nós acolhemos, cuidamos da família toda, desde o bebê recém-nascido, o adolescente, adultos jovens, adultos maduros e idosos. Nós acreditamos que uma vida bem vivida deve ser muito bem nutrida de amor, de afeto, de nutrientes, de boas experiências  e de autocuidado também”, finaliza ela.

Bianca está também nas redes sociais dando dicas de vitalidade e bem-estar. “Papais e mamães de plantão, nós precisamos nos cuidar para cuidar melhor”, resume Bianca. 

Assista à entrevista completa com a nutricionista Bianca Naves

*Roberta Manreza é jornalista

**O Programa Nestlé por Crianças Mais Saudáveis é uma iniciativa global da Nestlé, que assumiu o compromisso de ajudar 50 milhões de crianças a serem mais saudáveis até 2030 no mundo todo. Desde 1999 foram beneficiadas mais de 3 milhões de crianças no Brasil.

Com o lema “muda que elas mudam”, a partir de uma plataforma de conteúdo, o programa estimula famílias a adotarem hábitos mais saudáveis e ainda promove um prêmio nacional que ajuda a transformar a realidade de 10 escolas públicas por ano com reformas e mentorias pedagógicas.

Conheça mais no site do programa

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