Como o ato de plantar, conectar-se com o alimento, colher e preparar o que plantou pode impactar positivamente nos hábitos das nossas crianças
Luisa Haddad* Publicado em 25/08/2021, às 07h00
Você que me lê aqui neste texto já viu a flor da rúcula, da cebolinha ou do alecrim? E uma alface crescida que fica parecendo uma árvore de natal? E a semente do brócolis depois que ele cresce? Como ela vem? Eu também nunca tinha visto até que comecei a me dedicar ao cultivo de hortas urbanas. Uma experiência que mudou a minha relação com a comida e me fez vivenciar o ciclo do alimento da terra ao prato.
O negócio de impacto que eu criei se chama Pé de Feijão justamente para nos lembrar dessa experiência de plantio que quase todo mundo teve: plantar a sementinha de feijão no algodão. Se já fazemos isso desde criança, em que momento perdemos a confiança de que somos capazes de plantar nossa própria comida?
Hoje em dia, principalmente nos grandes centros urbanos, é comum ver a desconexão da criança com o ambiente, sem saber de onde vem o que come ou como o alimento é produzido. Além disso, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2018, nos últimos 10 anos houve queda significativa no consumo de frutas entre adolescentes no Brasil, enquanto apenas 34,3% da população geral consome frutas e hortaliças regularmente, segundo os dados da Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) do Ministério da Saúde em 2019. E neste sentido o contato com a terra e com a natureza, ajudam a apresentar conceitos e reflexões que se conectam com o mundo real, numa experiência tão simples e profunda quanto plantar, regar, cuidar, colher e comer.
Em nossa experiência nas hortas, sempre me chama atenção a motivação das crianças para provar o que cultivaram e colheram, pela primeira vez, diante dos familiares perplexos pela súbita mudança de comportamento. Tirar o rabanete da terra, colher o tomate madurinho, apreciar a beleza da flor da berinjela, surpreender-se com a rapidez de crescimento da rúcula: todas essas são oportunidades de encantamento que a horta proporciona e que podem fazer a diferença na vida e nos hábitos alimentares de uma criança.
Quando vivem essas experiências com os pequenos, tanto em casa como na escola, os adultos têm a possibilidade de facilitar às crianças não apenas o conhecimento sobre as frutas, legumes e verduras, mas principalmente experiências relevantes que provoquem o encantamento sobre esse tema e tudo que se relaciona com ele. Plantar a própria comida faz com que você se envolva, se apaixone por ela.
Plantar ainda nos leva a enxergar este ciclo do alimento: ver a flor, o fruto, as sementes, entender como se dão os novos pés de alguns alimentos. Isso tudo é muito lindo de acompanhar. Então tanto para adultos como para crianças plantar traz um brilho no olhar de quando a gente se entrega para esta experiência de tirar a cenoura da terra, se apaixonar pela folha da beterraba, de entender o tempo que os alimentos levam para crescer, de querer preservar aquelas espécies, de valorizar o agricultor, experimentar coisas novas. Plantar muda a nossa vida em todos os aspectos.
Ao se envolver com o plantio e cuidados de uma horta a criança ainda desenvolve confiança na execução de seus trabalhos, paciência pois cada receita tem seu próprio tempo, a autoestima de sentir-se bem ao colher aquilo que ela plantou e cuidou, além de ganhar independência, criatividade, organização, responsabilidade e aprender sobre o trabalho em equipe.
Crianças que têm o costume de manusear vegetais são mais abertas a provar diferentes alimentos, têm o paladar mais variado e têm chances de ter uma relação melhor com a comida e ter hábitos alimentares mais saudáveis. E não é só comendo que as crianças podem aprender sobre alimentação, preparar os alimentos ajuda a desmistificar a comida. Preparar a comida é uma oportunidade de conversar sobre os hábitos alimentares do seu território, sobre as receitas de família, vai pouco a pouco ajudando a aproximar a criança da cultura alimentar e ajuda a conectar com a sua própria identidade. Estimular o desenvolvimento de habilidades culinárias nessa fase, é conseguir despertar a devida importância que tem o ato de cozinhar. A medida que as desenvolvem, as crianças adquirem maior autonomia sobre suas escolhas e se tornam adultos mais independentes e confiantes.
E quando falamos sobre alimentação, não podemos nos distanciar da carga afetiva que lhe é intrínseca. Nós comemos porque precisamos nos nutrir, pelo aspecto fisiológico, mas gostamos do que comemos porque isto nos remete a lembranças, sensações, experiências e pessoas queridas. E é este poder que a horta tem de despertar em nós essa criação de vínculos entre as crianças e seus cuidadores, entre as crianças e os alimentos, entre todos e o mundo que habitamos.
*Luisa Haddad é bióloga e com o Pé de Feijão dedica seu tempo a criar dinâmicas e experiências que encantem crianças e adultos e os estimulem a mudar sua relação com a comida. Para conhecer mais do trabalho, visite o site ou o @pedefeijaosp no Instagram e assista ao TEDx - Uma revolução no seu prato onde a Luisa fala mais sobre essa relação entre o plantar e o comer.
**O Programa Nestlé por Crianças Mais Saudáveis é uma iniciativa global da Nestlé, que assumiu o compromisso de ajudar 50 milhões de crianças a serem mais saudáveis até 2030 no mundo todo. Desde 1999 foram beneficiadas mais de 3 milhões de crianças no Brasil.
Com o lema “muda que elas mudam”, a partir de uma plataforma de conteúdo, o programa estimula famílias a adotarem hábitos mais saudáveis e ainda promove um prêmio nacional que ajuda a transformar a realidade de 10 escolas públicas por ano com reformas e mentorias pedagógicas.
Conheça mais no site do programa