Em entrevista ao Papo de Mãe, o psiquiatra Rodrigo Bressan, presidente do Instituto Ame Sua Mente, fala da nossa saúde mental na pandemia e da importância de se dar uma atenção especial aos professores
Mariana Kotscho* Publicado em 15/04/2021, às 00h00 - Atualizado às 16h53
“A saúde mental pela primeira vez entrou pela porta da frente”. Com esta frase, o psiquiatra Rodrigo Bressan, presidente do Instituto Ame Sua Mente, resume muito bem o momento que estamos vivendo. Além da ameaça em si da Covid-19, do medo de ficar doente ou da morte, estamos também lidando com outras perdas e fica difícil manter um certo equilíbrio emocional. Um dos maiores sintomas é a ansiedade.
Aproximadamente 1/4 da população tem algum transtorno mental e é preciso falar sobre isso sem preconceitos para promover a prevenção e também esclarecer sobre tratamentos.
“O estresse é algo esperado e necessário. O problema é quando ele fica muito elevado em relação a sua capacidade de superação. Isso pode causar problemas de saúde mental, facilmente controlados, mas o transtorno mental que merece maior atenção: é a repetição de pensamentos por um prazo longo e que causam sofrimento muito elevado desproporcional ao estímulo”, explica Rodrigo Bressan. Os tratamentos variam de acordo com o nível do transtorno e nem sempre são psiquiátricos.
“A quarta onda da pandemia seriam os transtornos mentais. A primeira, a Covid em si. A segunda, as consequências da Covid. A terceira é não tratar adequadamente as outras doenças e, por fim, os transtornos mentais.” (Rodrigo Bressan)
Desde 2018, o Instituto Ame Sua Mente, criado e presidido pelo psiquiatra, foca seu trabalho principalmente na valorização e na saúde mental de educadores da rede pública. “Os profissionais de saúde estão sobrecarregados com certeza, mas de uma certa maneira são preparados para isso. Só que os professores não estão preparados para este nível de pressão e de mudar toda a forma de trabalho. Isso é muito pesado”, relata Rodrigo Bressan.
O Instituto promove rodas de acolhimento e palestras e tem um trabalho em parceria com a Secretaria de Educação do Estado de SP para desenvolver a formação de um conceito mais amplo de atenção aos educadores, que inclui mesas redondas sobre gestão de crise, educação e saúde mental. As ações devem começar em maio.
Além disso, o Ame Sua Mente trabalha com a formação de educadores da rede pública de ensino com foco na promoção da saúde mental de educadores e alunos. Esta iniciativa, conhecida como “Saúde Mental na Escola” contou em 2020 com o apoio do Instituto ABCD e Umane.
O Ame Sua Mente nasceu de ações em prevenção de problemas de saúde mental, já que 50% dos transtornos mentais do adulto começam antes dos 14 anos e 75% antes do 24 anos. Ou seja, fazer prevenção significa abordar adolescentes e crianças. E cuidando dos professores, também se cuida dos estudantes.
Antes de surgir o Instituto, Rodrigo Bressan conta que foi criado 8 anos atrás dentro do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, o programa “Cuca Legal”, que começou a fazer formação de professores em saúde mental, inclusive para que eles aprendessem a lidar com alunos que tivessem alguma necessidade neste sentido. Setecentos professores do Estado de São Paulo chegaram a ser formados.
O objetivo do Instituto é promover uma nova cultura sobre saúde mental no Brasil para que as pessoas busquem seu desenvolvimento emocional desde cedo e possam aproveitar a vida com mais qualidade. Isso é feito por meio de diversos caminhos: sensibilização, conscientização, capacitação, prevenção, diagnóstico e tratamento precoce.
A tensão provocada pelo fechamento das escolas e as discussões em torno da reabertura têm causado ainda mais conflitos entre pais, dirigentes de escolas, estudantes, professores. Rodrigo Bressan define a situação como um “jogo da culpa” e ressalta que “é difícil medir sofrimento”.
“Professores e dirigentes de escolas estão certamente numa posição de muito sofrimento, estão muito desafiados”, diz Rodrigo Bressan, e completa: “Os professores são uma pilastra fundamental para ajudar nossos filhos a se desenvolverem. Um papel que vai muito além do que simplesmente dar a matéria”. Segundo ele, “apontar o dedo” para dirigentes e professores é uma forma de extravasar as questões de incertezas porque ninguém sabe como lidar com esta situação nova. “Mas em vez de acusar, é preciso preservar”, finaliza o psiquiatra.
Fica a dica: abra sua câmera nas aulas remotas e prestigie seus professores.
*Mariana Kotscho é jornalista e apresentadora do Papo de Mãe
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