Psicóloga explica a relação entre a insegurança financeira e a saúde mental, e fala sobre quando é necessário buscar ajuda
Sabrina Legramandi* Publicado em 30/07/2021, às 07h00
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra uma realidade fruto de um Brasil desigual e machista: cerca de 57% das mães solo se encontram abaixo da linha da pobreza. Quando a mãe é preta ou parda, o número sobe para 64,4%.
Com a preocupação constante de ter que colocar a comida na mesa e de ser a responsável pela condição financeira da casa, como fica a saúde mental dessas mulheres?
Afinal de contas, essas mães, que às vezes já estão adoecidas psicologicamente, acabam tendo que se dividir em duplas e, até mesmo, triplas jornadas para darem conta de colocar comida na mesa dos filhos”, diz a psicóloga clínica Naiara Mariotto.
Para ela, a segurança financeira e a saúde mental estão intimamente ligadas e atingem, com mais intensidade, as mães solo. “Essas mulheres já têm aquela preocupação com o dia a dia do filho, a saúde dele e elas ainda têm essa questão de ter que colocar a comida na mesa”, explica.
Esse impacto no adoecimento psíquico é ainda pior quando a mulher é preta ou parda e vive em um país racista como o Brasil. “O emprego para as pessoas negras acaba sendo mais escasso e, além disso, há também a questão do salário: em muitas empresas, o salário para mulheres e para negros é menor”, afirma Naiara.
Para a psicóloga Naiara Mariotto, a relação se dá em uma via de mão dupla: uma mulher com algum transtorno mental pode passar a ter dificuldades no trabalho e, da mesma forma, uma mulher pobre está mais propensa a sofrer psicologicamente.
“Uma pessoa que não tem mais a segurança de poder pagar as suas contas é alguém que sofre com mais angústia, já que ela não consegue mais sentir controle no seu próprio destino”, explica Mariotto.
A psicóloga também traça a relação entre as consequências dos transtornos mentais e o impacto no trabalho. Naiara explica que muitas pessoas passam a ter dificuldades de concentração ou não encontram mais ânimo para seguir em frente.
Às vezes o emocional daquela mulher está tão afetado e a situação está tão dolorida para ela que ela já não consegue nem mesmo dormir ou se alimentar direito." (Naiara Mariotto)
A psicóloga explica que, em suma, a mãe deve procurar ajuda quando sente uma perda na sua qualidade de vida. Se ela trabalha e o rendimento não é mais o mesmo, se ela se sente sempre "no mundo da lua", se ela tem insônia ou, até mesmo, está se sentindo mais irritada, deve ser o momento de buscar ajuda.
Além disso, Naiara afirma que também podem surgir sintomas físicos, como náuseas, diarreias, vômitos ou dor de cabeça. "Quando você começa a perceber que os sintomas afetam a sua rotina ou, até mesmo, a rotina das pessoas que dependem de você, já é um grande sinal de alerta e é hora de buscar ajuda", esclarece.
Naiara Mariotto diz que muitos psicólogos estão atendendo por preços sociais e que, além disso, muitas Clínicas-Escola, ligadas à universidades, realizam atendimentos gratuitos.
O SUS (Sistema Único de Saúde) oferece também sessões de graça pelos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). Após uma triagem, é possível solicitar acolhimentos individuais ou em grupo.
Outras opções podem ser acessadas pelo Mapa da Saúde Mental. Nele, é possível acessar locais que oferecem apoio online ou filtrar por região e cidade.
*Sabrina Legramandi é repórter do Papo de Mãe