Além do acompanhamento no pré-natal, uma atitude faz toda a diferença na gravidez: não consumir qualquer tipo ou quantidade de bebida alcoólica
Dra. Erica Siu* Publicado em 11/12/2019, às 00h00 - Atualizado em 12/12/2019, às 14h06
A saúde de nossos filhos é um bem precioso que, como mães e pais, nos desdobramos para preservar. Nem sempre conseguimos protegê-los de todos os perigos, mas, felizmente, alguns cuidados durante a gestação podem evitar danos irreversíveis. Além do acompanhamento no pré-natal, uma atitude faz toda a diferença em termos de prevenção: não consumir qualquer tipo ou quantidade de bebida alcoólica – seja cerveja, vinho ou destilado – durante a gravidez. A recomendação é da Organização Mundial da Saúde.
Embora possa parecer óbvio para muita gente, ainda há bastante desinformação sobre o impacto do álcool para a saúde do bebê. Estudos indicam que, no Brasil, a prevalência de uso de álcool durante a gravidez é de 15%, índice superior ao registrado na região das Américas (11%). Outro dado preocupante é o aumento do consumo abusivo de álcool pelas mulheres em geral. E são as brasileiras com idade entre 18 e 24 anos, ou seja, em idade fértil, que mais exageram neste comportamento.
Por que beber na gravidez é tão perigoso? Para começar, o álcool atravessa a placenta, o que permite que, em pouco tempo, a concentração dessa substância no sangue fetal se torne equivalente à materna. Entretanto, o organismo do feto – ainda em formação – não consegue metabolizar o álcool, que permanece no seu sangue por mais tempo, até ser eliminado pela circulação materna.
Isso pode interferir no desenvolvimento do bebê, causando desde disfunções mais sutis até o desenvolvimento da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) – uma doença grave que atinge anualmente cerca de 119 mil bebês no mundo.
Anormalidades faciais, comprometimento cognitivo, comportamental e emocional são alguns dos potenciais danos, que são irreversíveis. Crianças com SAF podem ter problemas intelectuais, hiperatividade, dificuldade de aprendizado e até complicações cardíacas. Não há cura, e os cuidados disponíveis são para amenizar tais consequências.
Vale lembrar que o cuidado deve ser estendido ao período de amamentação. Não consumir álcool é a opção mais segura para as mães que amamentam. Isso porque o álcool pode ser identificado no leite materno até cerca de 2 a 3 horas após o consumo de bebida alcoólica.
Nos casos de consumo eventual de até uma dose* de álcool, a recomendação do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, é que a mãe espere este período de 2 horas para amamentar. É importante reforçar que a exposição ao álcool pelo bebê durante a amamentação pode ser prejudicial ao desenvolvimento, crescimento e padrões de sono da criança, uma vez que seu ainda organismo está em formação.
Ficou interessada em saber mais sobre esse tema? Veja esses materiais complementares:
http://www.cisa.org.br/artigo/879/efeitos-alcool-na-gestante-no-feto.php
http://www.cisa.org.br/artigo/440/livro-alcool-suas-consequencias-uma-abordagem.php
http://www.cisa.org.br/artigo/4763/sindrome-alcoolica-fetal.php
http://www.gravidezsemalcool.org.br
*Uma dose padrão corresponde a 14 g de álcool puro, o equivalente à ingestão de 350 mL de cerveja, 150 mL de vinho ou 45 mL de destilado (vodca, uísque, cachaça, gin ou rum)
*Dra. Erica Siu é biomédica, especialista em dependência química e coordenadora do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool
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