Evento "Volta às aulas: e agora?" trouxe uma pediatra, uma psicóloga e um educador e discutiu as dúvidas sobre a volta às aulas presenciais
Sabrina Legramandi* Publicado em 06/08/2021, às 12h30
A live do Papo de Mãe em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal foi palco de um assunto que gerou muita discussão: a volta às aulas presenciais. Mediado pelas jornalistas Roberta Manreza e Mariana Kotscho, o evento aconteceu nesta sexta-feira (6) e contou com a participação da pediatra Ana Escobar, da psicóloga Fernanda Lopes e do educador Paulo Fochi.
A doutora Ana Escobar começou a sua fala explicando sobre o comportamento da Covid-19 nas crianças, que, segundo ela, é diferente: elas são menos transmissoras e têm quadros mais leves. Por outro lado, as crianças com comorbidades precisam de mais atenção. "A carga de vírus em uma criança é muito mais baixa, é mais fácil ela pegar de um adulto do que contaminar outra pessoa".
Ela ainda argumentou que um ambiente arejado, com o uso de máscara e o distanciamento deixam as escolas mais seguras. "Em relação aos professores, a maioria já está vacinado", finaliza.
Do ponto de vista psicológico, a psicóloga Fernanda Lopes explicou que o momento é de adaptação, como se as crianças menores estivessem indo para a escola pela primeira vez. Ao mesmo tempo, de acordo com ela, as crianças maiores estão animadas para a volta presencial.
"Eu tenho ouvido até mesmo relatos de colegas pediatras de crianças pequenas que nasceram durante a pandemia que se assustam ao ver outro bebê", conta a psicóloga.
Paulo Fochi disse ser essencial que, nessa volta, não se parta do ponto de vista da perda, mas sim de novas vivências. "O desenvolvimento integral da criança passa por essa percepção relacional", disse.
Para o educador, há alguns questões que terão de ser enfrentadas após a pandemia. "As crianças que vivem só com os adultos começam a responder textos prontos, que são o que os adultos dizem", argumentou.
O que ele chama de "pedagogia delivery", o envio de atividades à distância, não resolve a questão relacional das escolas. "É por isso que temos que lutar para que o governo dê condições de um retorno adequado e seguro", disse.
Para Fernanda Lopes e Paulo Fochi, tanto as crianças quanto os adultos sofrerão com as consequências da pandemia. "Inevitavelmente, todos nós estamos sendo marcados por essa experiência social", disse o educador. Porém, as crianças que vivem em grupos sociais mais vulneráveis, terão consequências piores.
Nós temos que reivindicar uma educação melhor para todas as crianças" (Paulo Fochi)
Fernanda lembrou que a escola é composta por muitas pessoas: "o ambiente da escola pode não ser transmissível, mas o ônibus que os professores pegam para ir ao trabalho é". A psicóloga ponderou sobre os pais em situação de vulnerabilidade que, durante a pandemia, nunca estiveram em home office.
"Antes da gente pensar que a escola é para quem está voltando a trabalhar presencialmente, temos que lembrar que a escola é primeiro um direito das crianças", lembrou Paulo Fochi. Ele explicou que não há apenas uma pandemia: há muitas e algumas crianças sofreram mais consequências do que outras.
Ana Escobar pontuou que esse é um desafio e que o distanciamento é praticamente impossível. Por isso, para os professores de creches, o essencial é que a máscara usada seja a N95, com cerca de 90% de eficácia de proteção. Arejar os ambientes também é essencial para conter a disseminação dos vírus.
Paulo Fochi ainda complementou que, nas creches, a falta de contato físico é impossível, tanto entre as crianças quanto entre as crianças e os adultos. Para ele, não ficar trocando de ambientes constantemente, o que possibilitaria os chamados "grupos bolhas", também é importante para o caso das creches.
Fochi diz que abraçar as crianças, de máscara e tomando todos os cuidados, será possível. Ana Escobar ensinou uma técnica: ao abraçar as crianças, virar o rosto.
Em um ano com imensas perdas, Fernanda Lopes disse que todos estão "com muitas cicatrizes". Os educadores foram muito exigidos durante a pandemia e, por isso, estão ainda mais esgotados mentalmente.
A gente precisa pensar em um acolhimento para os professores também." (Fernanda Lopes)
Paulo Fochi lembrou que as salas dos professores são locais de grande transmissão e que, por isso, deve-se ter um maior cuidado nesses ambientes.
Ana Escobar disse que a segurança das vacinas para as crianças já está comprovada e que não há dúvidas de que elas serão liberadas em breve. Ela também lembrou que a vacina contra a gripe é essencial nesse momento.
Também é importante pontuar que nenhuma criança com sintomas gripais deve ir presencialmente para a escola" (Doutora Ana Escobar)
Caso a criança tenha sintomas gripais, ela deve ser testada. No sétimo dia, se o resultado tiver sido negativo, ela deve ser retestada para confirmar que ela não está com a Covid-19. Caso o teste não possa ser feito, o isolamento em casa evita uma possível disseminação do vírus.
Fernanda Lopes recomendou que se fale sobre a pandemia com as crianças. Conversar sobre o medo, explicar o que é o novo coronavírus e como evitá-lo é importante nesse momento: o temor é digno.
Mais de 500 mil pessoas morreram, não devemos tratar esse medo como se fosse um medo do escuro." (Fernanda Lopes)
O educador Paulo Fochi ainda complementou que não banalizar esse medo e criar um ambiente adequado para a escuta devem ser um comportamento dos pais.
*Sabrina Legramandi é repórter do Papo de Mãe
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