Infecção urinária pode afetar bebês, crianças e adolescentes

Em entrevista, Dr. Flávio Iizuka explica as causas, os sintomas e os tratamentos da infecção urinária durante a infância e a adolescência

Fernanda Fernandes* Publicado em 12/11/2021, às 07h00

A infecção urinária precisa ser tratada -

A infecção urinária é uma das doenças bacterianas mais comuns no Brasil e qualquer pessoa pode contrair, independentemente da idade e do gênero. Portanto, bebês, crianças e adolescentes não estão isentos e podem ter a doença em qualquer fase da vida.

Afetando os órgãos do trato urinário, ela pode ser dividida em infecções que acometem: a uretra, a bexiga e o rim. Além disso, nos meninos também pode acometer a próstata e os testículos.

Para entender quais são as causas, os sintomas e os possíveis tratamentos e prevenções da infecção urinária durante a infância e a adolescência, o Papo de Mãe entrevistou o Dr. Flávio Iizuka, urologista e pesquisador pela USP.  

Bebês, crianças e adolescentes

O Dr. Flávio afirma que sim, a infecção urinária pode acontecer em qualquer idade. E relata que nos pacientes que têm antecedentes de mal formações congênitas do trato urinário, como refluxo vésico ureteral, estenose de JUP, bexiga neurogênica, alterações da imunidade, e meninos que não foram circuncidados têm um risco maior de contrair a infecção.

Nos pacientes da faixa pediátrica, existem dois picos de ocorrência de infecção.

O primeiro pico de ocorrência é na fase de lactância - quando a criança está nos primeiros 6 meses de vida. Já o segundo pico ocorre na faixa etária de 2 a 4 anos de idade, que é mais ou menos quando a criança está fazendo treinamento de higiene e começa a ir sozinha para o banheiro”, explica Flávio.

Atinge mais meninos ou meninas?

 A ocorrência é bem maior nas mulheres. O Dr. explica que nos primeiros meses de vida os meninos apresentam menos infecção:

As meninas nos primeiros meses de vida têm 4 vezes mais infecção que os meninos, então a incidência global até os 6 anos de idade é que as meninas têm 3 a 7% de infecção e os meninos de 1 a 2% de infecção”

Pela questão anatômica das meninas terem a uretra mais curta, em qualquer faixa etária as mulheres são mais acometidas por infecção urinária do que os homens. 

Flávio complementa dizendo que na fase adulta, existem outros dois picos de infecção nas mulheres: um ocorre quando elas começam a ter atividade sexual e, mais adiante, quando elas entram na menopausa.

Sugestão: Assista ao Papo de Mãe sobre infecção urinária em gestantes 

Quando suspeitar?

Durante a entrevista, Flávio fez um alerta às mães. Ele disse que é importante sempre estar atento a dois sintomas: febre alta de origem indeterminada – quando a criança tem febre, mas não está resfriada, não está tossindo e nem com catarro - e ao perceber a urina com cheiro forte e muitas vezes turva.

Outro sinal menos evidente, mas que também deve ser levado em consideração, é quando a criança para de ganhar peso.

Diagnóstico

A infecção urinária é diagnosticada através de exame de urina, em que se pede o sedimento urinário, e o exame de urocultura  - com antibiograma.

Muitas vezes, é necessário também um exame de imagem, pelo menos ultrassom dos rins e vias urinárias, para verificar se o paciente tem sinais de alguma uropatia obstrutiva, uma má formação urinária, ou uma infecção com complicações como: abscessos, coleções e coisas que possam indicar uma maior gravidade”, explica o médico.

Flávio reforça que em situações em que a infecção é mais grave, é recomendável uma tomografia das vias urinárias com administração de contraste. Além de citar que, também é solicitado um exame de hemograma e exames de atividade inflamatória, como a proteína C-reativa e o VHS.

Esses exames vão dar uma ideia para o médico se o paciente tem uma infecção urinária com envolvimento sistêmico, que havendo uma alteração mais grave laboratorial, requer internação e tratamento com antibiótico endovenoso. Além disso, é de praxe pedir também exames como a ureia e a creatinina no sangue, que avaliam a função renal global”, complementa Flávio.

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Sintomas

Ao questionarmos sobre os principais sintomas, Flávio explicou que, em casos de infecção denominada alta - que pega os rins, também conhecida como pielonefrite - os sintomas são: febre acima de 39° e dor abdominal.

Mas em casos em que a infecção acomete mais o trato urinário baixo, uretra e bexiga, os sintomas são: aumento da frequência urinária e, em alguns casos, a criança pode manifestar escape de urina.

Além desses, Flávio comentou: “Um dos sintomas que em qualquer idade deve chamar atenção é a ocorrência de choro para fazer xixi, dor para urinar e uma urina com cheiro forte e desagradável”.

Tratamentos

O tratamento das infecções urinárias, segundo o urologista, ocorre com administração de antibióticos, e por isso é tão importante a coleta do exame de urina, chamado urocultura, pois através dele e do exame complementar, chamado antibiograma, faz-se o teste dos antimicrobianos, e o médico consegue administrar o antibiótico correto.

Quando a criança tem comprometimento do estado geral como: torpor, febre alta, perda acentuada do peso, não está se alimentando, é muito importante que ela seja hospitalizada, para receber antibiótico por via oral.

"Se a criança apresenta impossibilidade de tratamento oral, por motivos como vômito, ou se ela se mostra sonolenta, apática, sem disposição para brincar, isso se chama toxemia e esse quadro requer cuidado especial e a internação para que ela receba o antibiótico no hospital, geralmente por via endovenosa", complementa Flávio.

Também vale ressaltar que, em casos de mal formações urinárias, elas devem ser devidamente tratadas por um urologista, que vai eliminar a causa que propiciou a ocorrência da infecção. 

Prevenção

Existem diversas formas de prevenir a infecção urinária. Flávio diz que meninas que tiveram 2 episódios de infecção no mesmo ano devem procurar avaliação de um urologista. Já os meninos, devem procurar um especialista na primeira ocorrência de infecção, pois a infecção urinária no sexo masculino é mais rara e existe uma probabilidade mais alta de que a criança tenha uma causa subjacente. 

Flávio também afirma que nos casos em que existe uma condição que aumenta o risco de ter infecção recorrente, há a indicação de quimioprofilaxia. Ele explica que é a administração de antibióticos de forma profilática, ou seja, preventiva com o intuito de evitar a recorrência durante o período de administração do antibiótico. 

Um bom cuidado com a higiene íntima também é uma forma de prevenção. O tratamento de candidíase vaginal nas meninas assim que detectado, é um outro fator. E, principalmente, deve-se evitar que os pais estimulem demasiadamente o controle muito precoce da continência urinária, porque isso pode gerar uma condição chamada de “distúrbio miccional”, que faz com que a criança voluntariamente fique segurando o xixi, isso traz um distúrbio que tem uma associação com maior incidência de infecção urinária” alerta o doutor.

Ele reforça que é importante que os pais saibam orientar de forma adequada, e com o apoio do pediatra, um momento correto do treinamento para que as crianças larguem a fralda.

Por fim, ele comenta que ter uma boa hidratação também é importante. “Adultos e crianças que ingerem uma quantidade adequada de líquidos têm menos chances de contrair infecção urinária”.

*Fernanda Fernandes é repórter do Papo de Mãe

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