Menos tempo de telas e mais brincadeiras off-line. Vamos nessa?

A pandemia fez com que muitas famílias tivessem que gerenciar de um jeito diferente o tempo das atividades das crianças, o que se tornou um desafio

Rodrigo Moraes* Publicado em 19/08/2021, às 07h00

Muitas vezes o jeito é improvisar brincadeiras dentro de casa -
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Sassá tem celular e laptop; Florinha usa o tablet para fazer as lições da escola; já Rogerinho e Alice têm celular e computador, mas não um pacote de dados, e por isso só podem usar os equipamentos em casa.

Sarah, Flora, Rogério e Alice são primos, têm entre 8 e 14 anos, moram em Piracicaba, no interior de São Paulo, e com a chegada da pandemia seus pais precisaram se desdobrar para encontrar maneiras de gerenciar o tempo que eles passam em frente das controversas “telas”.

Rogério tem 14 anos

Psicólogos, médicos e educadores se dividem ao apontar o que os chamados “gadgets” têm de bom e de ruim. Mas em uma coisa todos concordam: a tecnologia é uma realidade incontornável.

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“Durante o período de aulas, o uso é liberado só depois dos compromissos, como lições, brincadeiras e natação, por exemplo”, conta a médica oftalmologista Cláudia Borghi de Siqueira, mãe de Sarah e Flora.

Alessandra Cozzo de Siqueira, mãe de Rogério e Alice, procura incentivar as brincadeiras ao ar livre, mas conta que não tem sido nada fácil lidar com a nova realidade.

“Antes da pandemia não tinham tudo isso, mas muita coisa mudou de 2020 pra cá. A partir do momento que a crianças precisaram viver uma realidade 100% em casa, com estudo remoto, a gente também teve que se adaptar”, diz a professora.

Além de cunhadas, Cláudia e Alessandra têm em comum o fato de, por causa da Covid-19, terem que encarar mais cedo e mais intensamente uma realidade com a qual a maioria dos pais e mães inevitavelmente terão que lidar: como chegar a um bom equilíbrio no uso que os filhos fazem dos aparelhos eletrônicos?

Alice tem 8 anos

“Não há regras rígidas. O que há são recomendações básicas”, diz a nutricionista e escritora Rafaela Carvalho, que acabou se tornando especialista no assunto quando o primeiro dos seus quatro filhos, Caetano, hoje com 18 anos, teve o primeiro contato com as novas tecnologias.

“Ele tinha 4 anos quando foi lançado um videogame, que, à época, me pareceu muito atrativo, pois a propaganda vendia um produto muito saudável, que poderia ser utilizado para que as crianças se exercitassem dentro de casa”, lembra Rafaela.

Mas o que parecia ser algo muito positivo, logo se transformou em dúvida. E a pergunta sobre um limite ideal de tempo de uso do brinquedo se tornou ainda mais importante quando as outras tecnologias, como tablet e smartphones, também foram se popularizando.

“Meu papel de guia nesse relacionamento foi muito confuso. Então, quando tive meus outros filhos, sabendo de tudo com que estava lidando com meu mais velho, eu não queria cometer os mesmos erros que eu tinha cometido e decidi que era hora de buscar informações de fontes confiáveis, que iam muito além dessa dicotomia entre tela sim e tela não”, lembra Rafaela.

As pesquisas acabaram resultando no livro Tela com cautela: um guia prático para criar filhos na era digital (sem perder a sanidade), escrito em parceria com a advogada e escritora Roberta Ferec e lançado pela editora Matrescência.

No livro as autoras resumem uma série de pesquisas sobre o tema e apresentam um plano baseado em cinco pilares para uma utilização saudável das telas: conteúdo do que é visto, tempo de utilização, locais onde as crianças e adolescentes podem usar os aparelhos, quando podem utilizar e, por fim, como elas podem usar o computador, tablet e smartphone.

“Entre as recomendações básicas para um uso saudável da tecnologia, uma unanimidade entre os pesquisadores é que os eletrônicos não devem substituir atividades essenciais para a saúde e o bem-estar, como prática de esportes, tempo de socialização e sono”, aponta Rafaela.

Um problema, no entanto, é que, durante a pandemia, cresceu, especialmente entre as classes mais altas, o número de pessoas que tiveram que aderir ao teletrabalho. Isso fez com que os próprios pais e mães também deixassem de se exercitar e, claro, visitar amigos, além de aumentarem o tempo diante das telas, caso da própria Alessandra, mãe de Rogério e Alice.

Professora da Escola Técnica Cel. Fernando Febeliano da Costa, em Piracicaba, ela teve que trocar as salas de aula para o ensino online. Agora passa praticamente o dia todo na frente do computador em casa.

“As crianças veem isso e me perguntam: por que você pode e a gente não?”, conta Alessandra, que aproveitou as férias escolares para deixar o trabalho um pouco de lado e passar mais tempo com os filhos, especialmente em atividades ao ar livre.

Essa é, de fato, a melhor maneira de lidar com situação, diz Patrícia Marinho, publicitária e mãe de duas meninas, e que, ao lado da jornalista Patrícia Camargo, criou o blog Tempojunto.

Ouvida pelo Papo de Mãe em plena viagem de férias, ela contou que, como de costume, preparou uma série de atividades para que as filhas pudessem se divertir no carro sem ter que recorrer aos aparelhos. Para isso, vale desde de charadas até bingo com placas dos veículos que passam pela estrada.

“Mais tempo juntos não significa mais qualidade do tempo. Isso tem mais a ver com a interação. Se o pai e a mãe estão no computador e os filhos no celular, eles não estão realmente juntos” complementa Patrícia, lançando um alerta para um outro aspecto fundamental, tema de uma pesquisa realizada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.

O estudo “Primeiríssima Infância – Interações na Pandemia: Comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos em tempos de Covid-19”, que ouviu 1036 pessoas, mostrou que, apesar dos adultos terem se dedicado mais às atividades com os pequenos, subiu para 40% o grupo de crianças que diariamente veem vídeos sozinhas, seja na TV ou dispositivos eletrônicos. Entre a classe D, esse número chegou a 60%.

Convidada a analisar a pesquisa, a psicóloga Juliana Prates Santana destacou que apesar do tempo livre ser fundamental para as crianças, ele precisa ser intercalado com momentos dirigidos e em interação com crianças e adultos.

Patrícia Marinho ressalta que além dos benefícios para a criança, o tempo de convivência com os pais e mães é também um excelente momento para tornar a parentalidade algo mais leve. Ou seja, os momentos juntos e longe das telas podem fazer bem para crianças e adultos.

*Rodrigo Moraes é jornalista

**O Programa Nestlé por Crianças Mais Saudáveis é uma iniciativa global da Nestlé, que assumiu o compromisso de ajudar 50 milhões de crianças a serem mais saudáveis até 2030 no mundo todo. Desde 1999 foram beneficiadas mais de 3 milhões de crianças no Brasil. 

Com o lema “muda que elas mudam”, a partir de uma plataforma de conteúdo, o programa estimula famílias a adotarem hábitos mais saudáveis e ainda promove um prêmio nacional que ajuda a transformar a realidade de 10 escolas públicas por ano com reformas e mentorias pedagógicas. 

Conheça mais no site do programa

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