Perspectivas maternas para o pós-pandemia

A consultora para equidade de gênero Carolina Alves de Jongh faz uma reflexão sobre as perspectivas para o pós-pandemia em relação às mães

Carolina Alves de Jongh* Publicado em 17/08/2021, às 07h00 - Atualizado às 11h15

Vemos um horizonte no pós-pandemia? -
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Em tempos tão atípicos, tem sido difícil imaginar que futuro teremos daqui alguns anos. As previsões sobre o clima e a economia nos dizem que vamos de mal a pior. As desigualdades estão aumentando. Por outro lado, a vacinação vai evoluindo e temos a esperança de que a nova variante não seja assim tão letal aqui no Brasil. Afinal se tem uma coisa que a gente gosta é de ter esperança. E nesse exercício de colocar as coisas em perspectiva, o que imaginar do mundo do trabalho e das relações humanas quando pudermos voltar a conviver sem distanciamento social? Como ficarão as mães nesse cenário?

Desde o início da pandemia, muito tem sido falado dos dilemas do home office para as mães. O que parecia um sonho em muitos casos se tornou um pesadelo. A pesquisa Mães em Quarentena e várias outras mostraram que as mulheres ficaram mais sobrecarregadas com os afazeres domésticos e com os cuidados com bebês e crianças. Isso aconteceu mesmo com aquelas que dividem a casa com companheiros/as ou pais dos filhos e filhas.

É complexo falar de maternidade e home office em um país onde apenas 11% da população conseguiu fazer home office. Falamos de uma minoria privilegiada que conseguiu continuar trabalhando e ainda pôde ficar relativamente protegida dentro de casa. Perceber que mesmo essas mães privilegiadas tiveram que lidar com desigualdades dentro de casa mostra quão estrutural é a desigualdade de papéis que cabe aos homens e às mulheres na nossa sociedade.

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Essa desigualdade, que às vezes passa despercebida, é uma das que se intensificou com a pandemia. E, na ausência de apoio e da rede que minimamente existia, as mães começaram a adoecer. Fisicamente ou emocionalmente. Muitas ficaram esgotadas, deprimidas, outras tiveram o famoso burnout. Quanto menos apoio e menos recursos, maior sobrecarga, tristeza e exaustão. Não apenas pelo acúmulo de atividades no ambiente doméstico, mas também pela frustração em não ver perspectivas de apoio junto às organizações para as quais trabalham e não ver retorno do Estado em relação ao que deveria ser direito.

Na ausência de perspectivas claras, o que muitas mães têm feito são exercícios de vontade e mobilização de redes para tentar influenciar de alguma forma o futuro que desejam ver para si, para seus filhos e filhas e para a sociedade em geral. Esse futuro passa por entender que as mães não são todas iguais e nem têm as mesmas necessidades, mas precisam de condições para exercer a maternidade a partir de seus desejos e não limitadas por sua realidade. Para isso, são necessárias mudanças individuais e coletivas que ampliem o entendimento do que é a parentalidade na nossa sociedade e revisitem o tempo que homens e mulheres dedicam ao trabalho remunerado.

Apesar do cenário difícil, é bom acreditar que estamos em fase de transição. E, apesar de sabermos que transições podem ser doloridas, elas permitem que novas situações se estabeleçam. Que nessa nova fase que está por vir, as mulheres possam exercer a maternidade como uma escolha e ter apoio e estrutura para serem as mães que desejarem. Que possam ser mães de uma forma presente, sem precisar abandonar ou minimizar todos os outros aspectos da vida.

Carolina Alves de Jongh

*Carolina Alves de Jongh é sócia da Janela 8, onde presta consultoria para equidade de gênero, impacto socioambiental e monitoramento e avaliação.

**O Programa Nestlé por Crianças Mais Saudáveis é uma iniciativa global da Nestlé, que assumiu o compromisso de ajudar 50 milhões de crianças a serem mais saudáveis até 2030 no mundo todo. Desde 1999 foram beneficiadas mais de 3 milhões de crianças no Brasil. 

Com o lema “muda que elas mudam”, a partir de uma plataforma de conteúdo, o programa estimula famílias a adotarem hábitos mais saudáveis e ainda promove um prêmio nacional que ajuda a transformar a realidade de 10 escolas públicas por ano com reformas e mentorias pedagógicas. 

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