Os resultados do estudo aumentam a possibilidade de cura do meduloblastoma, o tipo de câncer que mais provoca mortes em crianças
Sabrina Legramandi* Publicado em 21/09/2021, às 15h54
O câncer é a principal causa de morte por doença em crianças. Embora seja raro, ele é responsável por 8% das mortes da faixa etária de 1 a 19 anos, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva). O tipo de câncer que mais provoca mortes é o meduloblastoma, que atinge o cérebro.
Uma nova descoberta, porém, pode ajudar a reverter as estatísticas e auxiliar o tratamento do tumor cerebral infantil. Pesquisadores do ICI (Centro de Pesquisa do Instituto do Câncer Infantil), do HCPA (Laboratório de Câncer e Neurobiologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre), da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e da empresa de biotecnologia Epigenica Biosciences publicaram internacionalmente um estudo que indica que os níveis de determinado gene podem prever as chances de sobrevivência de crianças com meduloblastoma.
“Essa descoberta, pela primeira vez, indica que esse gene pode auxiliar na tomada de decisões de estratégias de tratamento”, explica Barbara Kunzler Souza, uma das cientistas envolvidas na pesquisa e co-fundadora da Epigenica Biosciences. O gene em questão é o G9a, responsável pela divisão das células.
Uma desregulação do gene G9a pode provocar uma alteração nas células do cérebro, o que leva ao câncer. “Esse gene tem justamente o papel de orquestrar toda essa maquinaria de genes para que as células se especializem, tenham a sua identidade definida e se dividam corretamente”, afirma a pesquisadora.
Em outras palavras, o câncer é causado por um crescimento anormal das células. No caso do meduloblastoma, o tumor começa nas células embrionárias do cérebro, que passam a ter características de células-tronco ao invés de neuronais por conta de um comportamento anormal do gene G9a.
Porém, os cientistas descobriram que crianças com uma alta expressão do gene têm menores chances de sobrevivência e pacientes com níveis reduzidos do G9a possuem mais possibilidades de cura ou sobrevivência. Barbara Kunzler conta que, a partir de bancos de acesso público, foram analisados 760 genomas de tumores de meduloblastoma.
Esses resultados são importantes porque indicam que a inibição de G9a pode ser uma nova possibilidade de estratégia de tratamento para pacientes com meduloblastoma.” (Barbara Kunzler Souza)
A pesquisadora explica que, apesar de as evidências serem promissoras, o caminho é longo e ainda é muito cedo para que os médicos considerem a descoberta como um aumento da possibilidade de cura dos pacientes.
Todo o estudo precisa passar, primeiramente, pelas fases de testes pré-clínicos e clínicos e também por aprovações em comitês de ética e regulações da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para só então chegar aos pacientes.
Porém, a cientista conta que, através da parceria com a Epigenica Biosciences, os pesquisadores pretendem continuar e acelerar a pesquisa com o auxílio da inteligência artificial. “Dessa forma, nós pretendemos acelerar o desenvolvimento do fármaco inibidor de G9a para que essa descoberta possa futuramente beneficiar os pacientes na clínica”, afirma.
Os resultados do estudo também indicam outro fator importante: a necessidade de mais investimento em pesquisas no Brasil para que a cura e novos tratamentos para o câncer sejam descobertos.
O câncer infantil conta com muito pouco investimento por parte da indústria farmacêutica e há uma ausência de grandes estudos clínicos.” (Barbara Kunzler Souza)
No Brasil, os pesquisadores precisam contar com o apoio de instituições privadas sem fins lucrativos, como o Instituto do Câncer Infantil, em Porto Alegre. No caso desse estudo, o apoio financeiro, econômico, científico e administrativo veio desse Instituto, da FAPERGS (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul), do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e da Epigenica Biosciences.
*Sabrina Legramandi é repórter do Papo de Mãe
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