Ginecologista explica que estrogênio, hormônio presente no anticoncepcional, pode aumentar risco de desenvolvimento da doença em algumas mulheres
Sabrina Legramandi* Publicado em 14/07/2021, às 13h55
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 214 milhões de mulheres, no mundo, fazem uso de pílulas anticoncepcionais. Esse método tão popular no Brasil e no mundo, porém, traz também riscos e, dentre eles, a possibilidade de aumentar o risco de câncer de mama.
Um estudo dinamarquês mostrou que mulheres que fazem o uso da pílula são 20% mais propensas a desenvolverem a doença se comparadas a mulheres que nunca usaram. “Os hormônios presentes em métodos anticoncepcionais podem aumentar o risco em mulheres que têm um histórico familiar desse tipo de câncer na família ou que não têm um estilo de vida saudável – como o sedentarismo, uma dieta inadequada e o elevado uso de álcool, por exemplo”, explica a doutora Tatiana Provasi Marchesi, ginecologista e obstetra.
A médica afirma que a pílula em si não causa o câncer de mama, mas que pode aumentar o risco em algumas mulheres. Depende da pílula, do uso prolongado, do histórico da paciente. Por isso, o acompanhamento médico é sempre essencial. “É preciso avaliar individualmente cada caso. O anticoncepcional, em outros grupos, pode reduzir o risco de câncer de ovário, por exemplo”, ela explica.
De acordo com a doutora Tatiana Provasi, o risco se dá, principalmente, pela presença de um hormônio na maioria dos métodos: o estrogênio. Quando as pílulas anticoncepcionais foram criadas, por volta da década de 1960, elas tinham elevadas doses desse hormônio. Ele é o responsável por causar uma multiplicação desordenada das células e, assim, aumentar o risco de a mulher desenvolver câncer.
Hoje, as pílulas anticoncepcionais – e outros métodos hormonais, como o anel vaginal – são compostos por uma quantidade menor de uma combinação de hormônios, mas ainda assim, trazem diversos efeitos colaterais.
Provasi explica que as alterações incluem náuseas, vômitos, retenção hídrica e diminuição da libido, além do risco de trombose e de embolia pulmonar. Porém, para outros grupos de mulheres, o uso de hormônios também pode diminuir a ocorrência de espinhas, por exemplo.
“É por isso que esses métodos nunca devem ser usados sem indicação médica. Para cada perfil, são avaliados riscos, benefícios, indicações, contraindicações e, assim, é prescrito o contraceptivo que se encaixa melhor.” (Tatiana Provasi)
A doutora explica que, hoje, estão disponíveis métodos de longa duração, com alta eficácia e também alto índice de satisfação. A maioria deles não contém estrogênio, que, segundo ela, é o “vilão dos hormônios”.
Dentre eles, destacam-se os famosos DIUs (dispositivos intrauterinos). O SUS (Sistema Único de Saúde) disponibiliza gratuitamente os que contêm apenas progesterona, mas também existem os que são livres de hormônios: o de cobre e o de prata.
Além dos DIUs, uma opção é o implante subdérmico, um bastão de silicone colocado abaixo da pele e, geralmente, no braço da mulher. Tatiana explica que os implantes, hoje, são os métodos disponíveis que possuem maior taxa de eficácia.
“Esses métodos duram bastante tempo, têm um baixo índice de falha e não têm os mesmos efeitos colaterais dos hormônios e do estrogênio, por exemplo”, ela afirma.
Tatiana Provasi diz que fazer um acompanhamento que possa não apenas tratar doenças e efeitos, mas também identificar as raízes do problema é essencial. “De repente, a paciente chega com uma queixa de cólica menstrual, mas, quando a gente analisa de maneira completa, podemos encontrar várias alterações hormonais, de vitaminas e de nutrientes", ela exemplifica.
Para ela, além de acompanhar a paciente diante de possíveis efeitos colaterais, o atendimento humanizado também é capaz de prevenir doenças e despertar o cuidado a longo prazo. “O tratamento é integrativo, no sentido de unir o corpo, a mente e o espírito”, finaliza.
*Sabrina Legramandi é repórter do Papo de Mãe