A colunista do Papo de Mãe Dra. Ligia Santos comenta caso recente de gestação com DIU, como ocorre e quais os impactos para mãe e bebê
Maria Cunha* Publicado em 08/07/2021, às 19h03
Paula dos Santos Escudero Alvarez, 32, engravidou do primeiro filho, Gabriel, 3, enquanto tomava pílula para impedir a gestação. Como o método falhou, após o primeiro parto, ela decidiu adotar outra medida anticoncepcional: o DIU, dispositivo intrauterino. Apesar disso, Paula voltou a dar à luz: nasceu nesse mês, no Rio de Janeiro, seu filho caçula, Bernardo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o DIU hormonal é 99,5% eficaz contra a gravidez, enquanto o DIU de cobre é 99,4%. Paula usava há três anos o método contraceptivo de longa duração.
A Dra. Ligia Santos, ginecologista, obstetra e colunista do Papo de Mãe, comenta o assunto e explica como acontece a gravidez com DIU.
Dra. Ligia explica que o DIU sem hormônio, de cobre por exemplo, age provocando uma irritação no tecido endometrial, que cobre a cavidade uterina, e também causa a morte dos espermatozoides por conta da liberação dos íons de cobre. A pedido do Papo de Mãe, Dra. Ligia levantou algumas possibilidades do que pode ter acontecido no caso de Paula:
“Isso (a irritação e a morte dos espermatozóides) funciona bem quando o DIU está bem inserido no lugar, dentro da cavidade. Se o DIU estiver um pouco mais pra fora, por exemplo, a mulher pode engravidar. Lembrando que todo método tem um índice de falha, eu posso estar usando corretamente qualquer método contraceptivo e mesmo assim ter a falha. Se o DIU estiver um pouco deslocado, um pouco fora do lugar, acaba não funcionando da maneira adequada”, explica a Dra. Ligia.
Nesse caso, a obstetra explica que se a mulher for fértil, ela acabará engravidando, embora seja uma chance muito pequena, de 0,5%, mais ou menos.
“Quando a gravidez acontece, a gente tenta tirar o DIU e o ideal é fazer isso até 12 semanas para evitar que a pessoa tenha um abortamento ou uma infecção. Se não for possível, o bebê vai se desenvolver da mesma maneira que ele se desenvolveria em uma gestação normal”.
A Dra. Ligia relata que DIU não é teratogênico, ou seja, não vai trazer má-formação para a criança pela presença dele, porque, em geral, a placenta se desenvolverá e envolverá aquele corpo estranho de uma forma que o bebê não tenha contato direto com o DIU.
Depois que o parto ocorre, a ginecologista explica que o DIU é retirado ou, às vezes, vem junto com a placenta.
“O bebê está protegido na bolsinha dele, na bolsa das águas, e ele não tem contato nenhum com o DIU”, afirma a Dra. Ligia Santos.
A ginecologista pontua que é importante, nessas gestações, ter atenção a infecções, porque são aumentadas as chances de as mulheres terem algum tipo de infecção. Além disso, as mulheres devem estar atentas para possíveis abortamentos, já que é elevada também a chance de abortamento em relação a uma gestação normal. Por último, é necessário vigiar a possibilidade de um trabalho de parto prematuro.
“Os riscos são mais para a mulher do que para o bebê, então uma mulher com infecção, por exemplo, pode desenvolver uma endometrite importante, que pode gerar uma sepse, que é uma infecção generalizada, e a morte. Não que isso não afete o bebê, mas, em geral, quando a gente pensa nas questões relacionadas ao DIU, de riscos, tem esses três fatores: abortamento, infecção ou, eventualmente, um trabalho de parto prematuro”.
A Dra. Ligia Santos ainda diz que a gestação é considerada de alto risco e precisa de um seguimento de pré-natal um pouco mais cuidadoso, mas não há nenhum exame específico só por causa da presença do DIU.
“Então, vai fazer os ultrassons normais, ultrassom morfológico, ecofetal, colher exame de sangue, tudo normal. A questão do alto risco é por conta da chance de abortamento, infecções e, por isso, a gente aumenta a frequência com que essa mulher passa nas consultas de pré-natal”.
No caso de Paula, o bebê nasceu com 36 semanas, um pouco antes do que é esperado.
A Dra. Ligia reforça que é importante deixar claro que o DIU, embora não seja um método infalível, e não vai existir nenhum método contraceptivo infalível, é um método que é muito bom, porque é um método contraceptivo de longa duração, então as mulheres vão ficar com esse DIU, se quiserem utilizar até o final da validade dele, por pelo menos cinco anos, mas podem ficar de cinco a dez anos.
“É um método que você não precisa se preocupar com muita coisa, você pode utilizar o DIU e fazer suas consultas de seguimento anual, semestral, com seu médico, sem problema nenhum. Você vai estar segura em relação ao método e a questão da gestação”.
A ginecologista também afirma que o DIU é um método que não precisa de hospitalização para ser aplicado e não vai gastar muito dinheiro, mesmo se você for comprar um DIU (lembrando que o dispositivo também é oferecido pelo SUS).
“Quando a gente compara quantas pílulas eu vou usar no período e quantas injeções eu vou tomar, com o DIU o preço sai muito mais barato, então é um método que acaba sendo barato, prático e confiável”
A Dra. Ligia Santos conclui ao relembrar que o DIU, não é infalível, então, às vezes, aparecem pessoas com uma histórias parecidas com a de Paula, mas não são casos comuns.
“Eu acho que quem tem interesse em colocar DIU não precisa mudar de ideia por conta de casos raros, vale a pena investir nesse método”, finaliza a obstetra Dra. Ligia Santos.
*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe