Estudos sugerem que mulheres grávidas transferem anticorpos para bebês quando vacinadas contra Covid-19
Dra. Tatiana Provasi Marchesi* Publicado em 17/04/2021, às 00h00
O avanço das pesquisas sobre a Covid-19 oferece, a cada dia, mais respostas sobre as consequências e os reflexos da doença que se alastrou pelo mundo. Entre as novas descobertas, está a possibilidade de transferência da imunização de mãe para bebê durante a gestação nos casos de contaminação pelo novo coronavírus e, também, pela vacinação.
Um estudo publicado na revista científica JAMA Pediatrics – The Science of Child and Adolescent Health demonstrou que mulheres que foram infectadas pelo SARS-Cov2 transferem anticorpos protetores para seus bebês de forma eficiente, especialmente se forem infectadas no início da gestação. Diante desse fato, a pesquisa também se mostra otimista sobre a possibilidade de que os anticorpos atravessem regularmente a placenta após a vacinação da gestante.
Para entender como essa transferência se torna possível, precisamos considerar que temos dois tipos de imunoglobulinas (anticorpos humorais) principais, que reagem contra um antígeno quando temos uma infecção, o IgG e o IgM.
O primeiro é “menor” e ultrapassa a barreira placentária e, por isso, chega até o bebê promovendo uma imunidade passiva adquirida de curta duração. Já o IgM não atravessa a placenta e só é encontrado no sangue do bebê quando ele mesmo produz. Por isso, quando uma gestante é vacinada e apresenta imunoconversão, ou seja, se torna imune, ela é capaz de passar para o bebê esses anticorpos protetores por um tempo.
Outro estudo divulgado no final de março avaliou 84 gestantes que receberam as vacinas Moderna e Pfizer. Destas, 13 tiveram seus bebês durante os dois meses de acompanhamento e 10 tiveram os cordões umbilicais estudados, sendo que todos apresentaram anticorpos.
No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda a vacinação para gestantes com comorbidades inclusas no Plano Nacional de Vacinação (diabetes, hipertensão arterial, obesidade, asmáticas, portadoras de doenças autoimunes e doenças renais crônicas, imunossuprimidas e transplantadas), sendo que a vacina pode ser oferecida também para gestantes sem comorbidades, após avaliação de riscos relacionados às atividades de trabalho exercidas por elas.
Até o momento, não há indicação de riscos para o feto em nenhum trimestre, mas é importante que os profissionais de saúde informem às mulheres sobre limitações no conhecimento quanto à eficácia e segurança das vacinas para que elas possam tomar a decisão de maneira esclarecida.
Contudo, é possível dizer que o número de evidências e risco não são significativos para acreditar em dano fetal e não são suficientes para justificar a negação ao acesso dessas mulheres à vacina diante de um surto epidêmico como o do novo coronavírus.
Até o momento, entidades nacionais e internacionais não contraindicam a vacina para gestantes, puérperas e lactantes. Grandes colégios e instituições renomadas consideram que o risco para o feto de uma vacina de vírus inativado e vetores virais não replicantes é muito baixo, considerando os riscos da infecção pela Covid para essas mulheres.
Dra. Tatiana Provasi Marchesi se formou em medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em Uberaba, e tem duas residências médicas pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), sendo uma em ginecologia e obstetrícia e outra em ultrassonografia obstétrica e ginecológica.
Apaixonada pelo universo feminino, Dra. Tatiana possui títulos de especialista nas duas áreas pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e pelo Colégio Brasileiro de Radiologia.
Atualmente, atende em seu consultório na clínica Humanitá Araraquara, onde segue no propósito de prestar assistência humanizada e integrativa à mulher e ao nascimento.