Ginecologista comenta um possível intercâmbio das vacinas Astrazeneca e Pfizer. O que diz o Ministério da Saúde e o estado do Rio de Janeiro
Maria Cunha* Publicado em 09/07/2021, às 18h46
Ontem, o Ministério da Saúde reiterou sua posição em relação à vacina AstraZeneca. A primeira orientação dos órgãos oficiais era que a grávida que tomou a primeira dose da AstraZeneca esperasse terminar a gravidez e mais 40 dias após o parto para tomar a segunda dose da mesma vacina. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ainda pediu para que os estados seguissem esta recomendação e não a do Rio de Janeiro.
Na semana passada, o estado tomou uma decisão e começou a orientar a mistura das vacinas, ou seja, que as gestantes que tomaram a primeira dose da AstraZeneca, tomassem a segunda dose depois dos três meses recomendados, mas da Pfizer.
Com isso, começou uma movimentação se isso é permitido ou não e qual é a base desta decisão. A Dra. Débora Recchi, ginecologista e obstetra da USP e do Hospital Albert Einstein, especializada em gestação de risco, cometa o assunto.
A Dra. Débora Recchi pontua que, atualmente, há muitos estudos em relação à vacina, gravidez e coronavírus. É importante lembrar que o coronavírus já é cientificamente comprovado mais grave nas mulheres gestantes e puérperas, até 45 dias depois do parto.
“Os estudos têm mostrado pra gente que as grávidas que pegam coronavírus têm partos mais graves do que as mulheres da mesma faixa etária que não estão grávidas, então elas têm maior necessidade de internação e, quando internadas têm mais necessidade de oxigênio”.
Além disso, a médica conta que, infelizmente, há maior índice de mortalidade, chance de falecimento, em uma mulher com Covid-19 grávida, do que sem estar grávida.
Desde novembro do ano passado, quando as informações começaram a surgir, as gestantes foram colocadas como grupo de risco, do mesmo jeito que antes eram colocados idosos e pessoas com doenças prévias, que também têm casos mais graves. Com isso, foi iniciada a campanha para as grávidas entrarem como prioridade na vacinação.
“Então, oficialmente, todas as gestantes, primeiro as com comorbidades e depois as sem, foram colocadas como grupo prioritário na vacina. A princípio, inicialmente, todas as vacinas disponíveis poderiam ser aplicadas em grávidas, porque, até então, não havia tido nenhum desfecho, nenhum relato e nenhum trabalho científico só com grávidas. Assim, começou no Brasil a vacinação de grávidas com Coronavac e Astrazeneca, a Pfizer ainda não tinha chegado, estava começando a chegar no Brasil”.
Em razão disso, algumas poucas gestantes tomaram Pfizer, mas a maioria, na primeira dose, logo no início da campanha, tomou Coronavac e AstraZeneca.
O problema surgiu no dia 19 de maio, quando a AstraZeneca foi proibida para gestantes, devido a um caso raríssimo, no Rio de Janeiro, de uma trombose grave em uma grávida que tomou a vacina e faleceu.
“Por conta desse caso específico e isolado, foi suspensa a AstraZeneca para todas as grávidas. Surgiu, então, a dúvida do que fazer com as mulheres que já tinham tomado a primeira dose da vacina AstraZeneca”, explica a Dra. Rebeca Secchi.
Segundo a Dra. Débora Recchi, o Rio de Janeiro se baseou em estudos europeus, o que explica a recomendação de aplicar a segunda dose da Pfizer e não da Coronavac, já que não há aplicação ou testes da segunda na Europa. Entretanto, a ginecologista e obstetra explica que o problema é que esses estudos do Reino Unido e da Espanha não estão utilizando gestantes como grupo alvo de estudos, mesmo que os resultados, até agora, sejam positivos e promissores.
“Esses trabalhos mostraram, principalmente o espanhol, publicado no mês passado, que a combinação da primeira dose da AstraZeneca com a segunda dose da Pfizer é segura, não há efeitos colaterais graves, só os comuns das vacinas, como dor local e mal-estar leve, nada além disso”, explica a Dra. Débora Recchi.
A médica conta que o estudo também mostrou que a combinação de vacinas trouxe um aumento dos anticorpos.
Embora na Itália já haja a recomendação de realizar a intercambialidade de vacinas em gestantes e o Rio de Janeiro tenha adotado essa prática, no momento, as orientações do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, são contra.
O Ministério da Saúde reforça a ideia de que ainda não há comprovação científica da combinação de vacinas e que os estudos que estão saindo agora não incluem gestantes, ou seja, mesmo que os índices dessa mistura estejam sendo positivos, não há comprovação da eficácia em mulheres grávidas.
*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe