Em entrevista ao Papo de Mãe, a ginecologista Tatiana Marchesi explica como o coronavírus impactou no aumento de recém-nascidos prematuros
Maria Cunha* Publicado em 05/07/2021, às 18h15
No Brasil, a pandemia da Covid-19 já matou pelo menos 1.461 grávidas, sendo 1.007 apenas neste ano, segundo dados oficiais reunidos pelo Observatório Obstetrício Covid-19.
Além disso, com o aumento dos casos de infecção pelo coronavírus em 2021, houve também um crescimento relevante no nascimentos de bebês prematuros, o que levou à lotação de maternidades e UTIs neonatais em diferentes locais no país.
A ginecologista e obstetra, Dra. Tatiana Marchesi, explica que nos últimos meses, aumentou muito a taxa de prematuridade relacionada à Covid, porque as gestantes, naturalmente, já têm uma sobrecarga no corpo como um todo.
Quando elas se infectam pelo Sars-CoV-2 e pegam Covid, essa sobrecarga aumenta muito, além do estado inflamatório generalizado. Isso acaba gerando uma sobrecarga na parte cardiovascular, circulatória e respiratória dessa gestante, então muitas gestantes acabam evoluindo com um maior número de complicações.
Além disso, a obstetra relata que ao analisar mulheres da mesma idade, infectadas pela Covid, comparando gestantes e não gestantes, no grupo das gestantes, o impacto é muito maior. Em razão disso, a Dra. Tatiana Marchesi conclui que aumentou muito a taxa de prematuridade espontânea e também a iatrogênica (provocada por intervenção médica).
“Por conta da infecção da mãe, acaba que espontaneamente evolui para um quadro de trabalho de parto prematuro. Quanto a prematuridade iatrogênica, que é aquela que nós médicos precisamos fazer, precisamos anteciparo parto por conta das condições clínicas maternas. Às vezes, a situação fica crítica em um ponto que, além do bebê entrar em sofrimento, a mãe passa a ter um comprometimento importante, então, a única maneira da gente melhorar o quadro clínico dela, salvar a mãe e o bebê, é antecipando esse parto e fazendo uma cesariana, por exemplo”.
A ginecologista completa ao dizer que, depois que a pandemia começou e a doença passou a ter um comportamento diferente no grupo das gestantes, a ocupação de leitos em UTI neonatal aumentou bastante, um resultado da questão da prematuridade relacionada à doença.
É importante dizer que, segundo a Dra. Tatiana Marchesi, a gestante com infecção confirmada por Covid também fica em isolamento assim como outros pacientes.
“Ali naquele isolamento, tanto para os cuidados maternos, quanto para os fetais, é tudo feito com os cuidados de isolamento como qualquer outro leito. Da mesma maneira que os outros pacientes ficam, elas também ficam. Destina-se leitos para isso e, depois que ela tem o parto, ela continua em isolamento e o bebê da mesma forma na UTI neonatal”.
Outro ponto destacado pela obstetra é que não necessariamente um bebê que nasceu de uma mãe com Covid-19 nascerá com a doença, já que a transmissão vertical, por via placentária durante a gravidez, não foi comprovada.
“Existiram alguns casos isolados, mas não teve relevância científica, então, a princípio, não se tem a transmissão durante a gravidez. Nas infecções neonatais de recém-nascidos, o que se observou foi sempre em relação aos cuidados da mãe com o bebê na hora de trocar a fralda, amamentar, de repente, não teve cuidados de higiene e esse bebê foi infectado”, explica a Dra. Tatiana Marchesi.
A ginecologista completa ao dizer que, infelizmente, mães com infecção aguda têm que ficar isoladas de seus bebês. Em alguns casos, é feita a amamentação com máscara, com todos os cuidados.
“As gestantes em estados mais críticos não vão ter contato com o bebê, ele vai ser cuidado por um terceiro e, se estiver na UTI, pela equipe de trabalho da UTI”.
A Dra. Tatiana Marchesi finaliza ao falar sobre os possíveis efeitos futuros da prematuridade, que pode trazer muitos prejuízos para o desenvolvimento cognitivo e motor.
“Os bebês prematuros têm mais chance de hemorragia cerebral, retardo no desenvolvimento psicomotor. Nas habilidades que os bebês vão apresentando ao longo dos primeiros meses de vida, pode haver um atraso, são bebês mais suscetíveis a infecções, com alterações imunológicas e até sequelas motoras ou neurológicas. Bebês prematuros podem ter retionopatia da prematuridade que pode até causar cegueira, então eles sempre têm mais chances de complicações de todos os tipos”.
Por isso, a longo prazo, futuramente, a ginecologista acredita que possa haver um aumento do número dessas complicações e sequelas.
*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe