Podcast: lidando com as emoções das crianças

As competências socioemocionais das crianças. Como lidar com as emoções dos nossos filhos, respeitando a personalidade deles

Maria Cunha e Roberta Manreza* Publicado em 25/09/2021, às 07h00

As habilidades socioemocionais das crianças -
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Neste podcast do Papo de Mãe, da OLA Podcasts, você ouve a entrevista completa de Roberta Manreza com o psicólogo Tiago Tamborini sobre a importância das habilidades socioemocionais, que até fazem parte do currículo escolar dos nossos filhos.

Cada criança irá possuir seus valores, sua carga emocional e suas habilidades para lidar com os desafios cotidianos e é nesse contexto que o desenvolvimento das competências socioemocionais se apresenta como necessidade essencial. 

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aprovada em 2017, que norteia as propostas pedagógicas das escolas públicas e particulares do Brasil, incluiu as habilidades socioemocionais como parte dos conteúdos a serem trabalhados em salas de aula.

O futuro

Aprender a lidar com as emoções deverá estar no foco da Educação Infantil até o Ensino Médio. Crescimento pessoal que faz parte da educação integral dos alunos, aprendizado que irá ajudar os pequenos a enfrentar os dilemas da infância e da vida adulta. Pessoas mais preparadas para as exigências do mercado de trabalho, por exemplo, analisa Tamborini. 

O psicólogo faz uma progressão do que foi importante nos últimos anos. Ele lembra a época do datilografar, que o candidato a uma vaga de emprego colocava a velocidade que  datilografava. “Era o diferencial. Depois, foi o ensino médio completo, depois foi língua, depois foi o pacote Office. Quem nunca comprou um livrinho na banca de jornal para aprender a mexer no Power Point e Excel?”, brinca Tiago. “E assim foi. Universidade, qualidade da universidade, experiência no exterior.

Atualmente, são as competências socioemocionais, também muitas vezes dentro de um pacote que a gente vai chamar de Soft Skills”, explica ele. Tamborini define Soft Skills(características da personalidade)como as competências que são extracurriculares no que tange o conhecimento teórico daquela profissão ou do dia a dia.

Segundo o especialista, quando a gente fala que um profissional sabe e tem boas habilidades em Excel, é Hard Skills (habilidades que podem ser aprendidas). E acrescenta que quando a gente diz que ele tem uma boa capacidade de relacionamento interpessoal,  entre os colegas da empresa, é Soft Skills.

Tamborini responde porque as Soft Skills têm sido importantes. Ele diz que existem várias possibilidades de análises. Ele vê duas principais. “A primeira, porque nós fomos ao longo do tempo perdendo um pouco o desenvolvimento natural delas. Não é que hoje elas são mais importantes do que foram no passado. Elas sempre foram, mas nós desenvolvíamos parte delas de forma mais natural e hoje, a gente tem que se preocupar em desenvolvê-las.

Já, por um outro ponto de vista, a gente tem a condição de que , no nosso dia a dia, em que as exigências de resultado, de cobrança, estão maiores,  então, é ainda maior a necessidade de cuidarmos daquilo que envolve o nosso emocional, o nosso comportamento, a nossa maneira de lidar e enxergar a vida”, reflete Tamborini. 

As crianças aprendem a lidar com as próprias emoções e se posicionar nas relações com o mundo.

A tecnologia 

Essa nossa dificuldade de lidar com as emoções, com os nossos sentimentos, acontece, em parte, por causa do excesso das telas, da falta do olho no olho? O que acontece com a geração dos nossos filhos? O psicólogo diz que depende de que Soft Skills, de que socioemocional estamos falando. De acordo com Tamborini, o que as telas, o que a comunicação através de dígitos, digitando, o que ela dificulta no desenvolvimento é  a comunicação oral, tão necessária para qualquer habilidade profissional.

O especialista acrescenta: “Eu vou ter que fazer uma entrevista de emprego, provavelmente será falando, eu tenho que lidar com clientes, eu tenho que lidar com a apresentação de uma reunião, eu tenho uma menor capacidade de desenvolvimento da minha comunicação. A tecnologia também impacta nisso. Então, eu tenho menos capacidade de lidar com a condição emocional de ser surpreendido e precisar ter uma ideia rápida”. 

 Tamborini  dá o exemplo de quando tínhamos como único recurso, para conversar com alguém, à distância, o telefone. “Um adolescente que conhece uma menina em uma festa e eles trocam o número de telefone. Na hora do garoto ligar, ele corria o risco do pai, da mãe, do irmão ou dela atender, não tendo como pensar previamente como agir. Então, veja que nessa hora, a pessoa desenvolvia naturalmente, no dia a dia, uma habilidade de comunicação, de criatividade, um jogo que ajudava, que hoje não tem mais".

Já no que tange a questão emocional, segundo o psicólogo, nós temos as redes sociais, que nos impactam o tempo inteiro com filtros que fazem todos parecerem lindos, que impactam com a ideia de que todos foram viajar, menos a gente, que todos estão debaixo do sol, menos a gente, todos estão felizes, menos a gente, bem sucedidos, menos a gente. Ele analisa que a temos vários impactos e quando a criança é mais tímida, mais fechada, facilita resolver a questão, o problema, o desafio pelo WhatsApp, utilizar a tecnologia. “Agora na pandemia, aquelas crianças que já eram mais fechadas, contidas, caseiras, elas disseram: ‘Ufa, que legal, agora posso ficar trancada no meu quarto sem ninguém exigir que eu saia dele’. E automaticamente, criaram uma dificuldade muito maior de desenvolver uma série de competências necessárias para a vida.

Já aqueles que são mais sociáveis, eles foram mais para dentro das redes sociais, porque era a maneira que eles tinham de socializar, e foram ainda mais impactados no seu emocional, porque eles criaram ainda mais esse lugar de comparação, de preocupação com a estética, com a forma como eu me comporto”, conta Tamborini. 

Por outro lado, para o psicólogo, a pandemia foi uma forma de a gente ter de lidar com as nossas emoções.  Todos fomos obrigados a ter de lidar com esse lado psicológico.

Divisor de águas

Tamborini retrata a pandemia como um marco nas questões emocionais.  Ele revela: “Quando a gente pensa na nossa inteligência emocional e correlaciona ela com a pandemia, primeiro a gente descobriu o nível que a inteligência emocional estava, porque nós fomos absolutamente impactados com a mudança de rotina, com a maior convivência entre os familiares. Nós tivemos situações de mães que se viram, de repente, em uma junção de tarefas ainda maior do que já tinham, que sabíamos que não eram poucas.

Então, nessa hora, fomos exigidos, e com as crianças não foi diferente, naquilo que era do seu emocional”. Mas, o psicólogo ressalta que tem uma questão importante para colocar.  O que ele percebeu é que as crianças estavam bem mais preparadas do que os adultos nessa história. Boa parte dos problemas, segundo ele, estava no despreparo dos pais.

Tamborini diz que a criança, num primeiro momento, sofreu, sim, o impacto de ficar longe da escola, mas aquelas famílias que puderam e conseguiram, porque nem sempre podem também, falando de realidades muito diferentes, mas aquelas que puderam e conseguiram trazer para a criança um lugar mais de harmonia, de menos conflito, de menos angústia, aquela família que sabia que não era legal deixar a TV ligada no anúncio de quantas mortes pelo mundo, aquela família que soube filtrar a conversa na hora do jantar, que deu atenção quando pôde para aquela criança, teve uma relação com aquela criança e aquela criança ficou mais saudável. E ele acrescenta que, aquela família mais ansiosa, aquela família que sofreu mais o impacto por causa de doenças dentro da própria família ou por natureza era mais preocupada, gerou na criança também mais ansiedade.

“Então, é uma boa notícia, porque eu acho que as crianças mostraram para a gente (durante a pandemia) que elas têm uma boa capacidade de resiliência, boa capacidade'', comemora o especialista. 

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A função dos pais

Estimular as habilidades socioemocionais é um papel também dos pais, das mães e dos cuidadores? A gente também precisa ensinar essas habilidades para os nossos filhos? Tamborini alerta que tem uma visão muito, muito pessoal, própria, sobre isso e ela é diferente da maioria. Ele esclarece que que a gente pode, tem recursos para isso e as escolas também. “Mas, sabe? Eu acho que se a gente se preocupar em não atrapalhar, o desenvolvimento acontece naturalmente. Porque o desenvolvimento da competência socioemocional, ela se dá no sócio. Então, aquele pai e aquela mãe que permite que o filho viva as experiências naturais do sócio, estará naturalmente desenvolvendo a competência socioemocional nessa criança”, explica o psicólogo. Ele dá o exemplo daquele pai, daquela mãe, que está acompanhando a criança no parquinho, no tanque de areia, e chega uma outra criança que quer de alguma forma compartilhar os recursos do tanque de areia; o baldinho, a pazinha. Naquele momento, segundo o psicólogo, está existindo uma interação sócio que vai gerar um emocional: quero ou não quero emprestar, troco ou não troco, senta comigo ou não senta, faz junto ou não faz junto.

Para Tamborini, quando esses pais, diante da sua ansiedade ou do desejo de ajudar, se antecipam a essas experiências, já interferindo, dizendo empresta ou não empresta, mas então troca, faz desse jeito, eles interferiram no desenvolvimento natural, porque o ideal é que eles se entendam ali. “Esse é só um exemplo de várias coisas do dia a dia, que se os pais estiverem atentos em deixar que os filhos vivam a própria experiência, eles desenvolverão mais facilmente a inteligência socioemocional. Como lida com o irmão para resolver um problema, como negocia com um professor uma data de prova. Você, mãe de um adolescente, vai ligar para a escola para resolver a data da prova com o professor? Não! Quem vai ligar é ele! Ele tem um problema! Então, no dia a dia, se nós delegarmos para os filhos, não importa a idade, a condição de viver as experiências do sócio, eles desenvolverão mais facilmente as suas inteligência para isso”, afirma ele. 

O perfil

E em relação a personalidade? Algumas crianças vão conseguir resolver essas questões mais facilmente e outras não.  Como os pais devem agir? Tamborini orienta que nestes casos são ajustes finos, aquelas interferências mais delicadas. Quando interferir? Ele confessa que não sabe, que não tem essa resposta pronta. Ele orienta que é um resgate que esse pai e essa mãe tem de fazer, a escola também, de uma percepção sobre: é da personalidade, contra o que dessa personalidade vai sofrer enquanto impacto? E aí, de acordo com o especialista, vale a regra primeira, deixa viver. Ele conta: “É mais tímido, portanto, tem mais dificuldade de em um hotel fazer amizade, quando chega na hora da recreação. Você pode ajudar, estimulando, indo até lá, ficando um perto, trazendo alternativas, mas há um limite para isso. E esse limite vai até o momento em que a criança precisa entender que aquela personalidade de vergonha, de ser mais acanhada, traz limites para ela. Ao mesmo tempo, aquele filho mais expansivo, que é mais comunicativo, que faz amizade em todo lugar, vai também ter seus limitadores sociais, por esse excesso, e vai viver os impactos disso, o pai e mãe vão estar na retaguarda para acolher, para trazer reflexões, a razão de estar tão difícil, e como ajudar no passo a passo”. E Tamborini traz um fechamento dessa ideia, dizendo,  ainda assim, terá algo que é da criança e ela terá que viver diante da condição da personalidade dela. Ele comenta que nós não podemos protegê-la de tudo. 

Tiago Tamborini é psicólogo especialista em comportamento de crianças e adolescentes.

O psicólogo acrescenta que quanto mais a gente conhece as nossas fragilidades, os nossos pontos fracos, melhor a gente tem a chance de minimizá-los, até muitas vezes mudá-los, mas também de aprender a lidar com eles, no sentido de que nem todos a gente vai deixar de ter. “A gente não é perfeito, nem deveria ser. Eu, Tiago, por exemplo, sou um cara desorganizado, por natureza, sempre fui e tenho uma baita dificuldade com isso. Sabendo disso, eu tenho a condição de minimizar essa desorganização, mas deixar de ser desorganizado até hoje eu não consegui. Eu crio recursos. Eu tenho minha agenda do Google, com o Excel, com o celular, que sincroniza tudo ao mesmo tempo, mais a de papel e assim vai. Então, eu sabendo dessas dificuldades, minimizo seus impactos”, assume ele. E vai além: “Talvez uma criança tímida jamais deixe de ser tímida, mas ela pode aprender a lidar com isso.  Eu sofro o impacto da desorganização até hoje. Às vezes eu deixo de pagar uma conta e eu tenho que pagar o juros do boleto, às vezes eu deixo de emitir uma nota e tomo bronca de uma mãe, e aí sofro o impacto dessa fragilidade minha. Mas, daí querer que eu não tenha fragilidade, ou entrar nessa, das redes sociais, da tecnologia, numa onda das pessoas que querem vender para nós que somos capazes de o tempo inteiro de melhor, evoluir e crescer? Que coisa chata! Eu quero, às vezes, olhar para alguma coisa minha e dizer eu tenho esse problema, é isso, eu sou desorganizado”, finaliza o psicólogo. 

Como Educar do Século XXI

Tiago Tamborini é autor do livro Como Educar do Século XXI, que tem ajudado muitos pais, mães e cuidadores. A obra tem o nome,  exatamente, por conta de como ela é estruturada. São 21 capítulos, cada capítulo é uma pergunta de uma mãe ou de um pai, que ele responde naquele capítulo. São, para o psicólogo, as principais 21 perguntas que ele entende, hoje, no século XXI, como importantes. É um livro gostoso para pais de crianças de 5 anos de idade até  filhos na adolescência, com 18, 20 anos de idade. Um sucesso que pode ser comprado em todas as plataformas  de vendas online. O Tiago também nas redes sociais dando muitas dicas e orientando pais e mães. 

Ouça aqui a entrevista completa de Roberta Manreza, do Papo de Mãe, com Tiago Tamborini.

*Maria Cunha e Roberta Manreza são repórteres do Papo de Mãe 

**O Programa Nestlé por Crianças Mais Saudáveis é uma iniciativa global da Nestlé, que assumiu o compromisso de ajudar 50 milhões de crianças a serem mais saudáveis até 2030 no mundo todo. Desde 1999 foram beneficiadas mais de 3 milhões de crianças no Brasil.

Com o lema “muda que elas mudam”, a partir de uma plataforma de conteúdo, o programa estimula famílias a adotarem hábitos mais saudáveis e ainda promove um prêmio nacional que ajuda a transformar a realidade de 10 escolas públicas por ano com reformas e mentorias pedagógicas.

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