Mãe de 5, Émillie Desirrê conta sobre o seu transformador parto de gêmeos
Émillie Desirrê* Publicado em 10/05/2022, às 06h00
Olá, meu nome é Émillie Desirrê, eu tenho 33 anos, sou mãe de 5 filhos maravilhosos e hoje estou aqui para compartilhar o meu relato de parto dos dois últimos que nasceram no dia 6 de setembro de 2021.
No artigo anterior, meu marido Elton Euler, d'O Corpo Explica, contou como foi a experiência de ter gêmeos depois de já termos três filhos, fez algumas provocações para tentar unir mais os casais e incluir os homens no desafio de tornar a maternidade mais leve para suas mulheres, e disse que me convidaria para compartilhar o meu relato de parto aqui com vocês. Quem me conhece sabe o quanto eu sou reservada, mas o convite foi gentil, a causa é nobre e talvez eu seja um perfil de mulher da "turma do meio", nem tão "encantada" e nem tão "prática", com a qual muitas mulheres se identificarão.
Espero que tanto a nossa coragem em bancar o nosso sonho de ter mais filhos, coisa rara nos dias de hoje, dias de medo, quanto a nossa experiência e a minha transformação possa te inspirar e te tocar de alguma forma.
Muitas coisas extraordinárias aconteceram na minha gravidez. Há muito tempo o Elton e eu pensávamos se teríamos ou não outro filho e a primeira dessas coisas (extraordinárias) foi ter engravidado no dia em que decidimos e tivemos certeza que queríamos outro filho. A segunda foi o Elton "adivinhar" que seriam gêmeos e mais tarde que era um casal. Sério, tudo impressionante e amplamente registrado nas redes sociais do OCE. No entanto, pra mim o mais impressionante foi ele ter previsto a data (na verdade o termo que usamos por aqui não é adivinhado, nem previsto. O termo usado é escolhido). Ele escolheu tudo isso! Mas isso é assunto pra outro texto, vou voltar para o que vim fazer aqui, o relato do parto.
A gravidez foi tranquila, não precisei fazer repouso até fazer 33 semanas quando tive o início da saída do tampão uterino. No mesmo dia fui examinada e passei a tomar progesterona e fazer repouso moderado. Claro que em uma gravidez de gêmeos depois que se passa do sétimo mês a barriga vai ficando cada vez mais pesada e fazer repouso se torna meio que compulsório na medida em que o tempo avança.
Pois bem! Foi mais ou menos nesse período que ele disse que os gêmeos nasceriam dia 6 de setembro, véspera do feriado de independência. Na semana anterior, por indicação médica, parei de fazer uso da progesterona, já que a partir de 36 semanas eles "já poderiam vir".
Acho importante comentar que entrei nesse mundo da humanização do parto agora, nessa gravidez, confesso que antes tinha até um pouco de preconceitozinho, achava um pouco de irresponsabilidade e coisa do pessoal que abraça a árvore (nada contra) mas é que sou uma pessoa bastante prática.
Engano meu! O mundo da humanização no parto me surpreendeu e acabei me rendendo aos benefícios de um parto humanizado, seja ele cirúrgico ou natural, com informação, preparação, respeitado de acordo com as vontades da grávida, sem interferências desnecessárias e com um pós parto confortável para o bebê.
As escamas dos meus olhos caíram. Fiz osteopatia, fisio pélvica, obstetrícia humanizada e também pediatria humanizada. Tudo isso por estar bem consciente de que eu era a protagonista do meu parto e deveria decidir se teria uma cesariana ou o normal. Essa dúvida permeou minha gravidez inteira. Tive certeza das duas coisas em vários momentos diferentes. {- Amor, agora decidi, quero cesárea. Não quero sentir dor não…}. O diálogo contrário também aconteceu váaarias vezes.
Mas vamos lá, dia 4 de setembro, na sexta feira, eu decidi que não faria mais repouso e que iria aproveitar os últimos dias sem bebês recém nascidos em casa. Nesse final de semana saímos em todas as ocasiões possíveis. Fomos a quase todos os nossos restaurantes preferidos de Sanja. Claro que era do carro pra mesa. Lembrando que mal conseguia me movimentar. Estava quase no estilo grávida de Taubaté.
E falando sobre meus planos para a hora do parto, sempre pensava onde ia encaixar meus três pimpolhos mais velhos quando meu trabalho de parto começasse. Mandaria eles pra um hotel com a minha mãe? eles assistiriam? O fato é que no domingo de manhã os três foram para Atibaia numa festa na casa de alguns amigos e, ineditamente, deixei eles dormirem lá do dia cinco para o dia seis (coincidência?!).
No domingo à noite, dia cinco, fomos num show de comédia aqui em Sanja, (sentadinha, claro) com minha mãe que estava cuidando de mim nos últimos dias da gravidez e uma amiga que veio dormir na minha casa justamente naquele dia (outra coincidência?). Depois do jantar no meu sushi favorito da cidade, chegamos em casa por volta de 11:30 e pensei: “- Dessa vez ele errou, se fossem nascer amanhã eu teria dado sinal hoje”, e eu não estava sentindo absolutamente nada. Nenhuma dorzinha diferente.
Fomos dormir e às 1:30h da manhã, - surpresa! - senti a minha bolsa estourar! Não acreditei. Acordei assim, sem dor nenhuma, somente ensopada de líquido, ui. Não me mexi nenhum centímetro, mesmo com muita adrenalina no sangue. Falei para Elton, que por sua vez se levantou e começou a andar feito uma barata passada veneno, ele não gosta que eu falo isso haha.
Na realidade ele foi terminar de ajeitar as coisas que cabiam a ele, como aprender a abrir e fechar o carrinho. Entrei em contato com minha doula, com a enfermeira obstétrica e com minha médica, deixando claro que, em que pese a bolsa ter estourado, eu não estava sentindo nada e que eu ia dormir e ficaria avisando como as coisas iam desenrolando. Na minha cabeça eu ia passar o dia em trabalho de parto, fazendo todas aquelas coisas que ensaiei, as que aprendi na fisio pélvica, que a doula explicou e que eu planejei (como dançar umas músicas sertanejas com o meu amor, nos intervalos das contrações) lembrando que ainda tinha que decidir se levaria meu parto normal avante ou escolheria a cesariana. O plano era de que se optasse pela cesárea, ao menos deixaria os bebês estarem prontos, ou seja, esperaria entrar em trabalho de parto, esqueci de contar essa parte.
Apesar de ter pensado muito em como passaria as horas do trabalho de parto, e que ele poderia demorar muitas horas, pensava e falava que queria um parto rápido. Falava que queria continuar a tradição de parto gemelares da minha família, inclusive tive uma tia que teve um no carro e outro na maca a caminho da sala de parto.
Com todas essas coisas na cabeça e com meu marido que não vinha deitar de novo eu não ia mesmo conseguir, mas esse não foi o motivo de não dormir, o fato é que no instante em que terminei as ligações com a médica as contrações se iniciaram. Começamos a contar com um app que eu usava e elas foram ficando cada vez mais ritmadas e com intervalos cada vez menos longos. Por volta das 2:30h da manhã eu liguei para o pessoal e avisei sobre isso e elas resolveram que já era hora de vir pra minha casa. Quando a enfermeira chegou, depois de uns 40min, ela fez aquele exame super legal de toque, que foi o mais gentil que já havia recebido, e viu que eu já estava com 5cm de dilatação (pasmem). Minha médica que já havia ido para a maternidade disse que era para irmos quando eu estivesse com 7cm. Confesso que há essa altura já tinha entendido que talvez eu não fosse passar o dia todinho em trabalho de parto não rsrs.
Mas, enfim, minha médica sugeriu que eu tomasse um banho quente. Entrei na banheira tranquilamente sentindo contrações já um pouco mais dolorosas. Esse foi um momento muito gostoso. Primeiro o Elton ficou ali comigo, tinha pouca luz, um óleo essencial no difusor e muita muita paz no ambiente. Consigo me lembrar exatamente daquela atmosfera. Minha mãe e minha amiga vieram ficar comigo depois, ainda naquele ambiente de paz. Conversamos sobre coisas do passado, minha mãe contou histórias antigas e muitas vezes repetidas, mas que eu adoro ouvir. Rimos dos meus gritos durante as contrações e minha praticidade em continuar falando exatamente de onde eu parei antes de começar a contração anterior rsrs. Impressionante como a dor cessa nos intervalos.
Foi um momento realmente maravilhoso estar ali com aquelas pessoas que eu amo.
Mas não durou muito, por volta das 4:30 comecei a ter contrações muito dolorosas e segundo minha enfermeira meu padrão de gritos tinha mudado, mas o que me alertou mesmo foi o fato de em uma das contrações na banheira eu ter sentido vontade de fazer força, o famoso puxo. Pois bem, saí da banheira e fizemos novamente o toque, só pra ter certeza que já estava na hora de ir, os 7cm haviam chegado. Um pouco mais agitada, me arrumei e fomos pro hospital, a doula e a enfermeira, o Elton e eu com os gêmeos ainda na barriga. No caminho do hospital, que fica por volta de 10 min da minha casa, senti três contrações, sendo que em uma delas também senti aquela mesma vontade de fazer a força de expulsão, ops. Depois o Elton me contou que naquela hora ele gelou e apertou o passo.
Chegamos no hospital exatamente 5:55h. Estava sentindo dores muito intensas e nem participei da parte burocrática, estava levemente consciente de que alguém da minha equipe avisou o pessoal do hospital que não faria o acesso venoso naquele momento, já que o meu parto seria humanizado e normal (Espere aí, quem decidiu isso? kkk), que a minha médica estava lá pra assistir um outro parto além do meu e que precisavam me colocar numa sala de parto mais estruturada já que o meu parto era de gemelar. Nessa hora também fiquei sabendo que a pediatra dos meus filhos já estava lá se preparando para recebê-los também. Em meio a tudo isso, restavam também os meus muitos gritos de dor. Já na porta da sala de parto vi minha equipe insistindo com a equipe do hospital que precisavam entrar com as bolsas delas, já que ali estavam os equipamentos que usariam durante o meu trabalho de parto.
Gente, nem fiquei sabendo que equipamentos eram esses, assim que entrei na sala, dispensei a banqueta de parto e quis ficar em pé, apoiada na cama alta e naquele momento percebi que o trabalho ativo começara. Todos estavam ali, os bebês, eu e o meu amor. Todas as pessoas que realmente importavam.
Passado o momento romântico, fui lembrada pela próxima contração da razão pela qual eu estava em dúvida pela cesariana. Jesus amado, dói demais! Naquele momento comecei a falar que queria cesárea, que queria que parasse, que não queria mais. Olhando hoje, sei que foi rápido, mas daquela perspectiva demorou muito. Já falei que doeu né?!
O fato é que às 6:34h, comigo em pé, sem analgesia e da maneira mais humana e instintiva possível, a Antonella nasceu. Minha princesa. Chorei, o papai chorou e peguei minha menininha no colo para mamar com o cordão ainda pulsando. O papai cortou o cordão quando parou. Foi incrível, eu fui incrível.
Estávamos ali, naquela bolha, só nos três naquele momento. Ninguém da equipe estava ali, apesar de estarem todos. Só meu amor, nossa menininha e eu.
Durante toda a gravidez, tinha curiosidade para saber, caso optasse pelo parto normal, quanto tempo demoraria para o segundo parto começar. Já tinha visto relatos de partos gemelares que duraram horas pra recomeçar e outros de minutos. Como seria o meu?
Bem, depois de apenas 10 minutos o Dom quis entrar para nossa banda, tocar com a gente a mais bela música que se pode tocar, a vida. Entreguei Antonella pro papai e então recomeçamos. Gritos, choros e mais pedidos de cesariana (nessa hora minha médica até sugeriu uma analgesia), nem escutei, ela me contou depois.
O fato é que 14 minutos depois de recomeçar, da mesma forma, animal e humana, brutal e suave o Dom nasceu. Lindo, vigoroso, forte e com seis dedinhos em cada mão, assim como o Elton Jr. e a Duda e o vovô Paulo. Meu meninão, aparado por alguém da equipe, já que nessa hora minha médica foi olhar o outro parto que ela estava fazendo. Ninguém imaginou que ele fosse vir tão rápido.
Fizemos a mesma coisa, contato pele a pele, cordão pulsando e muito amor, mas por menos tempo que a Antonella. Eu tive um desmaio leve por conta da intensa perda de sangue. Depois soube que fui carregada e que houve um minuto de tensão pelo fato de que caso eu precisasse de algo urgente eu não tinha acesso venoso (lembram?). Felizmente não precisei. Logo saímos da sala de parto com os bebês ótimos, sem nenhuma intervenção e a salvo de procedimentos desnecessários.
Meu segundo gemelar nasceu com 2.760kg às 6:54 da manhã, 24 minutos depois da irmã mais velha, que nasceu com 2.480kg no dia 6 de setembro de 2021, exatamente como meu marido havia "escolhido".
Sendo bem franca, se eu enrolasse mais um pouco em casa eles teriam nascido na banheira mesmo rsrs. Em menos de uma hora no hospital e apenas cinco horas após minha bolsa estourar, eu pari meus dois bebês. Meu parto dos gêmeos foi rápido, intenso e transformador. Saí daquela sala outra mulher, ainda mais poderosa do que já era.
Não foi meu primeiro parto normal. Mas entrar no mundo da humanização e entender o significado de tudo aquilo certamente foi transformador.
E claro, doeu. E muito. Eu sempre brinco que olhando sob essa perspectiva "cesária é vida''. Mas o fato é que os meus filhos "escolheram" como queriam nascer. Não deram tempo pra mamãe optar pela outra via de parto. Eles quiseram vir daquele jeito mágico.
Obrigada Antonella e Dom, vocês mudaram o meu mundo e começaram isso da forma mais incrível de todas. Mamãe ama vocês.
Esse não é só um relato de parto normal de gêmeos (muita gente nem sabe ser possível), mas um relato de uma uma mulher objetiva e controladora que se permitiu viver e aproveitar da forma mais humana possível a gênese dessa jornada linda a qual todos nós somos protagonistas, a vida.
Espero que tenham gostado e que de alguma forma eu tenha contribuído para a sua jornada feminina e materna.
*Émillie Desirrê: "Eu não sou muito blogueira, mas compartilho algumas coisas no meu perfil do Instagram @emillieeuler e no perfil do O Corpo Explica @ocorpoexplica você encontrará muito conteúdo rico que fará você entender a si mesma, ao seu marido e aos seus filhos. Super recomendo que vocês sigam.
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