Surfista profissional, empreendedora, mãe e agora comentarista das Olimpíadas de Tóquio, Claudia Gonçalves fala sobre projetos, maternidade e protagonismo feminino no esporte
Ana Beatriz Gonçalves* Publicado em 19/07/2021, às 12h33 - Atualizado em 21/07/2021, às 19h10
Ela tinha apenas 3 anos quando começou a subir na prancha, e apesar de ainda não saber falar todas as palavras do português, Claudinha Gonçalves já entendia a linguagem do surfe. "Comecei a surfar praticamente depois que aprendi a andar. Meu pai era apaixonado e sempre incentivou eu e meu irmão", lembra ela, que hoje, com 36 anos, repete a história com a filha Clara, de 1 ano e meio.
Natural do Guarujá, litoral sul de São Paulo, Claudinha morou por muitos anos na Praia do Francês, em Maceió, Alagoas, onde começou a aprimorar o esporte. No entanto, foram as visitas frequentes à avó, que morava no litoral paulista, que a fizeram descobrir que o mar poderia ser além de uma paixão, mas também seu principal ganha-pão e filosofia de vida.
"Não imaginava que eu ia me tornar surfista profissional. A gente sempre passava as férias no Guarujá. Em uma das férias escolares fui pra casa da minha avó, eu tinha uns 12 anos, e participei de um campeonato na praia do Tombo. Era um campeonato só feminino chamado Festival Surfe Trip – foi o primeiro do Brasil deste tipo. Eu competi na categoria amadora e fiquei em 4º lugar", conta.
Aos 13, Claudinha já morava longe dos pais para ficar perto dos circuitos e competições de surfe que aconteciam no sul e sudeste do Brasil. Conquistando cada vez mais seu espaço na categoria de amadora, Claudinha alcançou a modalidade profissional e, em paralelo, cursou a faculdade de jornalismo, para poder também trabalhar como jornalista esportiva. "Tinha o sonho de juntar as duas paixões", comenta. A maternidade, entretanto, era algo que Claudinha não entendia como conseguiria conciliar.
Sempre sonhei em ser mãe, sempre tive essa vontade. Na verdade, meu maior sonho sempre foi formar uma família para poder completar a minha vida. Poder passar um pouco dessa minha filosofia que envolve a natureza e outras coisas. O surfe veio desses valores, junto ao mar e a natureza, e a minha maior vontade era construir uma família atrelada a todos esses ensinamentos". (CG)
Apesar de ter sempre se imaginado mãe, Claudinha Gonçalves conta que por ser esportista e depender da boa forma física para seu desempenho, a maternidade acabou sendo adiada por alguns anos em sua vida.
"Eu tinha uma visão de gravidez muito diferente. Todas essas coisas ficavam passando pela minha cabeça e faziam eu pensar que tinha que esperar o momento certo. Acabou que aconteceu um pouco de surpresa", conta ela, que teve Clarinha em plena pandemia. "Já estava com o meu companheiro há 4 anos, e nós tínhamos planos de construir uma família, mas eu dizia 'vamos esperar mais um pouco'. Eu ainda estava muito na ativa, gravando, viajando, etc", comenta.
Todo o receio que a surfista sentia da gravidez acabou caindo por terra quando ela engravidou da Clara. Segundo ela, em nenhum momento a gestação a impediu de surfe, pelo contrário, ela pegou onda até completar 8 meses.
Eu consegui conciliar muito bem e isso me surpreendeu. Fiquei ativa, com a criatividade mais aguçada, com mais vontade de construir coisas, com um novo propósito de vida", diz.
Por ser atleta desde criança, a surfista acredita que o esporte a tornou uma pessoa determinada, que sabe focar exatamente em seus objetivos. E segundo ela, o maior de todos é, agora, a filha.
"Ela é a número um na minha vida. Hoje eu vejo as coisas de outra forma, a minha vida pessoal, a minha profissão, até a minha maior paixão que é o surfe… virou, de fato, segundo plano", conta ela. Já acostumada com o pé na areia e as ondas do mar, a pequena Clara, assim como Claudinha, já entende a linguagem das ondas. E sem precisar de muito esforço.
Para Claudinha, transmitir seu amor pelo esporte e pela natureza para Clara é sua maior felicidade. "Ela surfou na minha barriga até os 8 meses, ela reconhece o mar como a casa dela, é muito familiarizada. É o ambiente que ela mais se sente segura e isso me deixa muito feliz", afirma.
Ela me apoia, está sempre comigo e com a Clara. Pra mim é muito bom, não existe segurança maior do que deixar a minha filha com a minha mãe. É um privilégio que não sei nem mensurar". (CG)
Pelo fato de ser dona do seu próprio negócio, Claudinha Gonçalves diz que consegue intercalar bem as demandas do trabalho com as da Clara. "Eu construo a minha agenda, crio os meus projetos, então acabo tendo essa liberdade de me organizar de acordo com cada necessidade."
Mãe, atleta, empreendedora e agora comentarista. Claudinha Gonçalves foi convidada pela rede Globo para comentar as Olimpíadas de Tóquio 2020. Esta é a primeira edição em que o surfe está incluso na lista de competições. E para alguém que é veterana no esporte, ela não poderia estar mais feliz com isso.
"A inclusão do surfe é um passo gigantesco, é um reconhecimento ainda maior. Ainda mais na fase em que o Brasil está. Temos um time de atletas brasileiros que são os melhores do mundo hoje, nós somos os favoritos para ganhar", palpita.
Já sobre o convite da emissora de televisão, Claudinha diz que é a realização de um sonho. "Fiz a faculdade visando essa parte da comunicação, então hoje pra mim ter sido convidada é a junção dos melhores mundos. Nada melhor do que comentar sobre algo que eu entendo, apesar de estar sendo um grande aprendizado para mim".
*Ana Beatriz Gonçalves é jornalista e repórter do Papo de Mãe
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