A empresária Simone Azevedo escreve sobre suas jornadas profissional e materna e de como as duas se misturam: mães e negócio
Simone Azevedo* Publicado em 08/07/2021, às 07h00
Dentre as várias coisas que fiz e ainda faço na minha vida, as que menos “exploro”, são as que fiz como mãe ou chefe da família. Vou explicar o porquê disso.
Casei aos 26 anos, aos 29 tive meu primeiro filho e virei mãezona. Todo mundo surpreso porque eu trabalhava muito e viajava demais; achavam que eu não ia dar conta de ter filhos (ou ter tempo).
Veio o segundo filho, prematuro, e o esquema não mudou não. Às vezes me perguntavam como eu dava conta de cuidar de tudo. Muito simples: amo ser mãe e tinha família que ajudava, babá e marido. Ou seja, apesar da correria, tudo acontecia direitinho.
Aí veio o divórcio e, logo depois, a oportunidade de mudarmos para os Estados Unidos. A empresa onde trabalhava me relocou para Boston e lá fomos nós. Mudei com meus dois meninos, 6 e 9 anos na época, na cara e na coragem para viver sem família, sem babá e sem marido. Ou seja, o meu papel de mãe ia ter que dar conta de tudo isso.
Pois bem, aluguei casa, abri conta no banco, inscrevi os meninos na escola (aqui tem uma vantagem – eles ficavam na escola entre 8h e 15:30h e depois iam para o “extended day” até as 18h. Extended day é um programa oferecido pelas escolas onde as crianças ficam depois do horário para fazerem dever de casa e brincar) e fui trabalhar.
Nem vou contar como era a nossa rotina porque se parar pra pensar vou achar que era louca.
Quero mesmo é chamar atenção para o seguinte: em 16 anos trabalhando aqui, fui promovida inúmeras vezes, meu salário triplicou, viajei o mundo todo, liderei programas multimilionários, mudei de casa 5 vezes, casei, mudei, trabalhei mais e ai resolvi pedir demissão e largar tudo em 2019.
Um dia meu novo marido, um holandês, me disse que estavam tentando contratar um “executivo sênior” para a empresa onde ele trabalhava (eu já tinha trabalhado lá também). Ele descreveu o perfil que estavam procurando e eu expliquei que conhecia uma pessoa. Ele ficou todo entusiasmado e me perguntou detalhes.
Descrevi assim: profissional com mais de 25 anos de experiência, responsável por operações internacionais, desenvolveu equipes, multiplicou os bens da empresa com crescimento acima da inflação acumulada. Gerenciou vários escritórios, criou importantes alianças e tem sólida reputação.
Ele foi logo pedindo o nome e o curriculum para levar para a empresa. Eu ri.
Falei pra ele: você está olhando para ela. Essa profissional sou eu. Não esqueço a cara dele. Expliquei:
Agora, se conto isso em qualquer empresa, jamais seria contratada. Iam falar que não tenho as qualificações.
Portanto, estou aqui para falar pra você pensar no “seu negócio” e, como diria o Cazuza, no “o nome do seu sócio” também.
Eu fiz isso recentemente: hoje sou empresária. Abri minha empresa no meio da pandemia, meu irmão e meu marido são meus sócios e já lançamos nossos primeiros produtos no Brasil.
Não vai achando que está sendo fácil não. A Xingu Health (e agora temos a Xingu do Brasil também) tem muito chão pela frente. Criamos um aplicativo, o Xingu4H, para as pessoas tomarem conta da sua própria saúde e armazenarem seus dados médicos.
Muita gente adora a ideia, mas vou contar um segredo: o ser humano tende a não cuidar daquilo que é “importante” (por exemplo, a saúde) até na hora que vira “urgente”. Esperamos convencer as pessoas a não deixarem pra última hora – quem tiver alguma dica pra convencer mais gente a usar o aplicativo, me avise! Afinal, quando mães compartilham sabedoria e ideias, a gente muda o mundo, não é?
*Simone Azevedo é empresária e CEO da Xingu Health