Roberta Manreza Publicado em 28/04/2017, às 00h00 - Atualizado às 08h46
Por Patricia Medici*, psicóloga
Há 20 anos trabalho como terapeuta e há 14 com terapia familiar. Além disso, tenho um filho na adolescência e uma filha na universidade morando fora de casa e quero falar como mãe e profissional sobre uma série televisiva que está mexendo com a cabeça dos jovens e preocupando os pais.Meus dois filhos assistiram a série e me relataram a influência na baixa do humor que sentiram. Para o meu garoto de 16 foi muito mais relevante do que para minha filha de 19. Ainda, que eles não estejam passando por um processo depressivo, a série mexeu com o estado emocional deles de uma forma preocupante.Penso que a série possaser responsável pela piora do estado emocional de um adolescente que estiver passando por um processo depressivo severo e, ao assistir a série, ele possa encontrar aquilo que pensa ser uma solução para o grande abismo e escuridão que está.O suicida não quer tirar sua vida, ele quer tirar sua dor! Na busca por encontrar a solução para seus problemas, por estar depressivo, distorce o real (o ‘’eu’’, o outro e o mundo) para o negativo e , nessa procura, não consegue ver uma saída. Se jovem estiver passando por situações como as que a série relata, sem ajuda familiar ou profissional, de fato pode encontrar no suicídio a solução.A série tem um enfoque maior na vingança e culpa daqueles que fizeram a protagonista Hanna sofrer. O enredo não explicita que sua família possuía problemas de relacionamento, porém há uma grande desatenção a verdadeira necessidade dela.Pais, educadores, amigos e familiares estejam atentos aos sintomas depressivos. Eles podem ser mascarados e, às vezes, sutis. Ao sinal de desmotivação, queixa de cansaço excessivo, muito sono e irritabilidade, busque ajuda. São essas pequenas alterações, que podem nos sinalizar que algo não está certo.Nem todo depressivo é suicida, mas todo suicida está gravemente deprimido. Mas como saber quem é um e qual é outro ? Somente quando é indagado por seus desejosos suicidas, é possível que ele fale sobre sua desesperança e de razões que possui para não acreditar que vale a pena viver. Se a família e o profissional ajudá-lo na resolução dos seus conflitos, o jovem com intenção de tirar a vida, pode ter uma chance de enxergar razões para viver.Nossos filhos não são “aborrescentes”, não use este neologismo para justificar um comportamento normal dessa idade totalmente influenciada pela revolução hormonal. Investigue e esteja perto dos seus filhos e amigos, contribuindo com momentos de alegria e amor.*Patricia Medici é psicologa clínica e familiar. Especialista em terapia cognitiva.
Pós-graduada em terapia cognitiva pelo Instituto de Terapia Cognitiva ligada a Universidade da Pensilvânia e ao Beck Institute .