Roberta Manreza Publicado em 21/01/2017, às 00h00 - Atualizado às 16h50
Por Claudio Henrique dos Santos*
Banheiros públicos sempre provocam apuros aos pais que acompanham suas filhas pequenas. Pensei que iria parar na cadeia por causa disso.
Um leitor do meu livro “Macho do Século XXI” enviou foto tirada numa loja da Leroy Merlin, mostrando a iniciativa da empresa de incluir nas suas lojas banheiros masculinos com fraldários. Essa atitude da empresa é muito bacana e me fez lembrar de uma situação inusitada que passei com minha filha alguns anos atrás, que resumo aqui para vocês.
Quando a Luiza tinha uns quatro anos, morávamos em Singapura e decidimos fazer um passeio de carro na Malásia. No meio da estrada, a Luiza pediu para ir ao banheiro. Criança nessa idade quando avisa é porque já está no limite.
Sem muito tempo para pensar, parei no primeiro banheiro que vi pela frente, num posto de gasolina. Parecia que o problema estaria resolvido. Só parecia. Duas informações sobre a Malásia antes de seguirmos em frente. O primeiro é que muitos sanitários por lá consistem naqueles buracos no chão, onde a gente se agacha e resolve tudo por ali. Para limpar, usamos uma canequinha e um baldinho de água. O segundo é que a maioria da população é muçulmana, com algumas regras de convivência diferentes para homens e mulheres.
Quando entramos no banheiro masculino, aconteceu o que eu já imaginava. Uma zona. Água e outras coisas mais espalhadas para todo lado. Dá uma vergonha de ser homem nessa hora. Nem eu mesmo teria coragem de usar aquele banheiro, imagine colocar a Luiza ali. O jeito era tentar o banheiro feminino, que era sempre um último recurso de emergência, mas que às vezes, com muito jeitinho, eu acabava usando, pois estava todos os dias com a Luiza para lá e para cá.
A situação exigia cuidado, mas como a Luiza já andava desesperada, saiu correndo e entrou pela primeira porta que viu. Ainda tive tempo de verificar se não havia mais alguém no banheiro. Fiquei aliviado. Apenas uma moça que fazia a limpeza passava por ali. O alívio durou pouco, pois enquanto eu ainda tentava tirar a calça da Luiza e ajeitá-la no buraco, ela saiu porta afora em desabalada carreira, gritando qualquer coisa que, naturalmente, eu não podia compreender.
Resolvido o problema da Luiza, agora viria a segunda parte, que seria o incômodo de encontrar alguma outra mulher dentro do banheiro. Por sorte, ninguém mais havia aparecido por ali. Missão impossível completada. Ledo engano. Ao sair do banheiro dou de cara com dois seguranças e a senhorinha falando sem parar.
Com cara de poucos amigos um deles falou alguma coisa em malaio e logo descobri que nenhum dos dois falava inglês (nem a senhorinha, claro). Na base da mímica, tentei explicar a situação, apontando o tempo todo para a Luiza.
Naqueles segundos, passaram um milhão de coisas pela minha cabeça – será que vão me levar preso? E a Luiza, vão levar para onde? Como faço para avisar minha esposa? Impressionante como no desespero nosso cérebro consegue processar tanta informação em tão pouco tempo.
Quando viram o tamanho da Luiza e o meu desespero para tentar explicar o que aconteceu, os seguranças felizmente relaxaram. Mas para não perder a viagem me passaram um sabão em malaio. Eu não sabia o que diziam, mas poderia imaginar e somente concordava com a cabeça. Fomos embora. A Luiza, de boa, não fazia a menor ideia do que havia se passado. Eu estava com a adrenalina a mil. Que sufoco!
Não foi a primeira vez nem a última que passei esse tipo de aperto com a Luiza. É duro ver que uma situação cotidiana como essa de um pai levar a filha para um banheiro público ainda causa muito constrangimento. Por isso, antes tarde do que nunca, iniciativas como a da Leroy Merlin são muito benvindas, embora um fraldário ainda não tivesse resolvido uma situação como a que eu passei.
Atualmente, falamos tanto de diversidade, mas ainda estamos aprendendo a conviver com ela. Para mim, gente é tudo igual e banheiro serve para uma coisa só – está bem, as mulheres podem querer retocar a maquiagem na frente do espelho, mas isso dá para fazer na frente de qualquer um, certo? Mas como por enquanto não podermos compartilhar os banheiros públicos, uma saída como a adoção dos banheiros para a família, já vemos em alguns grandes centros comerciais, ajuda muito os pais nessa hora.
*Cláudio Henrique dos Santos é jornalista, escritor, palestrante e autor dos livros “Macho do Século XXI” e “Mulheres modernas, dilemas modernos”. Participou do Papo de Mãe sobre ‘homens que são donos de casa’.
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