pmadmin Publicado em 30/05/2012, às 00h00 - Atualizado em 19/09/2014, às 19h33
A Endometriose é uma doença que atinge, atualmente, um número grande de mulheres e, muitas delas, nunca haviam ouvido falar da doença, antes de receber esse diagnóstico que, muitas vezes, pode levar anos para ser detectado, acarretando, assim, um enorme desgaste físico e emocional.
Em geral, a mulher vive dúvidas e angústias com esse diagnóstico, além de uma série de frustrações e conflitos como raiva, ansiedade, revolta e medo – sentimentos comuns em todas as pessoas que se descobrem com uma doença crônica.
Sintomas físicos e emocionais presentes na doença
Os sintomas mais comuns são a dor e a infertilidade. Existem estudos que demonstram um tempo de início do sintoma até o diagnóstico definitivo de até aproximadamente oito anos para a dor e de cinco anos para a infertilidade. Nesse meio tempo, muitas são as crises de ansiedade pelas quais as mulheres passam.
Sentimentos de irritabilidade, tristeza, falta de prazer na vida como um todo, incapacidade são comuns a essas mulheres que, muitas vezes, precisam recorrer a uma psicoterapia para conseguir suportar tamanho peso emocional.
Quando acometida da dor, ela vai gradativamente deixando de lado as tarefas diárias e, com o passar do tempo, acaba adaptando a sua vida com a presença ou não da dor, o que é por si muito limitante. Frequentemente, ela se afasta do convício social e até começa a apresentar dificuldades nos laços afetivos. A família, muitas vezes, sem saber como ajudar, assim como os amigos, acaba se afastando, o que só agrava um quadro que já é, por si só, difícil. E essas mulheres acabam, muitas vezes, desenvolvendo um quadro de depressão que, se não for tratado, trará graves consequências, dentre elas, o agravamento da doença em si já existente.
Se sentir sozinha e com sentimentos de inferioridade são sentimentos recorrentes na vida dessas mulheres. E, infelizmente, nem sempre esses sentimentos são tratados pelas pessoas que as cercam com a devida atenção e com o devido respeito.
O objetivo de considerar o aspecto emocional no tratamento da endometriose, é compreender a associação existente entre esse fator, a doença e seus sintomas para estabelecer um tratamento mais afetivo, garantindo atenção para as queixas físicas e emocionais.
A ansiedade presente na vida de muitas pessoas pode aumentar a dor já existente e reconhecer essas situações e sentimentos que interferem na sensação dolorosa faz com que a pessoa consiga controlar melhor a sua dor. Nosso corpo é uma unidade onde tudo acontece em conjunto. Reconhecer a influência de suas emoções no enfrentamento da endometriose certamente fará com que essas mulheres se sintam mais seguras para superar as dificuldades naturais do tratamento.
Traços de Personalidade
Alguns traços de personalidade são observados com frequência nas mulheres portadoras de endometriose. São eles: perfeccionismo, autoexigência, dificuldade em lidar com os próprios erros, enorme capacidade de controle e comando, enorme objetividade na hora de organizar tarefas, necessidade de manter o controle de tudo sempre, tendência a assumir os erros dos outros, elevado coeficiente intelectual, egocentrismo, mecanismos de defesa altamente estruturados, onipotência e dificuldade em lidar com as próprias emoções.
Endometriose X Modernidade
Considerada uma doença do mundo moderno, ela tem como o stress seu fator mais importante no seu desenvolvimento e tratamento. Atualmente, a mulher é extremamente cobrada de diversas formas pela sociedade e por ela mesma e essa cobrança se inicia na infância. O resultado é se sentir sobrecarregada e com vários e pesados conflitos emocionais. Numa tentativa de corresponder às expectativas externas, essa mulher, muitas vezes, passa por cima de si mesma e até mesmo desconhecendo os seus reais interesses na vida. Muitas fazem coisas não porque de fato desejam, mas sim porque é isso que esperam delas. O resultado disso não pode ser coisa boa, evidentemente. E tudo isso em nome de ser amada, aceita e inserida no contexto social e familiar.
Nem sempre é possível se retirar os fatores estressores, mas pode-se tentar mudar a própria relação com eles. Os sintomas físicos do stress são: taquicardia, mãos geladas, respiração rápida, agitação física, dor de estomago, falta de apetite, insônia, dentre outros. Lembramos que um pouco de stress é normal, mas tudo tem que acontecer dentro de limites saudáveis. E vale lembrar que quando tais sintomas acontecem é porque já ultrapassamos os nossos limites e por isso mesmo o corpo grita num sinal de socorro. Parar ou não é uma escolha nossa, mas, certamente, qualquer que seja ela, pagaremos um tributo com isso.
Tratamento do stress
Mudanças de hábito podem ser bastante saudáveis no combate ao stress. Colocar obstáculos a essas mudanças em nada ajudará, e devemos ter claro sempre que nós somos os principais responsáveis pela nossa vida e, consequentemente, pela nossa saúde. Acreditar que a cura de qualquer doença virá única e exclusivamente de medicações prescritas pelos médicos é tentar se livrar de toda e qualquer responsabilidade pela própria saúde, pois a medicação só faz efeito quando a agressão é detida de forma eficaz.
Devemos assumir o comando de nossas vidas e lembremos que nosso corpo e nossa mente agem permanentemente em total e absoluta harmonia. Mudar hábitos de vida que adoecem o nosso corpo é acima de tudo, uma consequência natural da nossa autoestima e também na saúde física e emocional. Nós colhemos apenas aquilo que plantamos. Vivemos numa sociedade em que não ter tempo para nada é “chique”, é valorizado. Não se cultiva mais o ócio criativo, o simplesmente não fazer nada de vez em quando, tudo em nome de um falso “status”, que na verdade só nos levará a patologias as mais variadas.
Aspectos emocionais da Infertilidade
Sentimentos de enorme inferioridade sufocam as mulheres que passam por esse problema. Criadas numa sociedade em que o ponto máximo da feminilidade é a maternidade, a esterilidade é uma bofetada no ego já machucado dessas mulheres, gerando culpa, revolta e tristeza profunda. E isso nada mais é, muitas vezes, uma punição inconsciente por se mutilar durante anos, passando por cima dos próprios desejos e das próprias necessidades. Tudo tem um preço na vida, não devemos nos enganar a respeito disso, e às vezes ele é bem alto!
Reflexão final
Toda doença crônica, seja ela qual for, exige do paciente um trabalho permanente no sentido do seu bem estar e da superação dos percalços inerentes à patologia. Desistir e se entregar é sempre o caminho mais fácil, mas certamente não melhor a ser seguido. Contar com a ajuda da família e de amigos é de fundamental importância. Mas nem sempre isso é possível, bem sabemos. Então, nesses casos, sugerimos que a mulher conte com aquela que de fato mais deve querer o seu bem estar: ela mesma! Fácil não é, mas também não é impossível, pois frequentemente subestimamos a nossa capacidade e, por conta disso, perdemos o melhor da vida, em muitos momentos. E ajuda especializada existe e de qualidade. Para se beneficiar dela, é só tomar a atitude em favor de nós mesmos!
*Solange Melo é Psicóloga, Psicanalista e Psicoterapeuta de adultos, casais e famílias em São Paulo e Diretora do Gabinete de Psicologia em São Paulo. Já participou do Papo de Mãe como especialista convidada. Contato: [email protected]