É necessário tirar as crianças das telas e incentivar o brincar seriamente e livremente
Silvia Adrião* Publicado em 20/05/2022, às 06h00
Era o último dia de aula, e estávamos saindo da escola para voltarmos para casa. Então, meu filho me disse: "Finalmente, férias! Não vejo a hora de poder brincar seriamente!" (Miguel – 7 anos)
Em 28 de maio, é comemorado o Dia Internacional do Brincar, criado pela International Toy Library Association (ITLA). A data foi reconhecida pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e é celebrada em mais de 40 países.
No Brasil, a “Aliança pela Infância”, movimento por uma infância digna e saudável, organiza a Semana Mundial do Brincar. Este ano, entre 21 e 29 de maio, diversas ações pelo brincar serão promovidas país afora. O tema escolhido é o “confiar na força do brincar”.
O brincar nutre a confiança da criança em si mesma, nos outros e no mundo. É assim que o invisível se torna visível e que o impossível se torna possível. Confiar no brincar é confiar na alegria, é confiar no encontro. Brincar é estar no mundo e confiar que ele vai dar certo e que pode ser melhor.”
Nos documentos curriculares oficiais, temos também um destaque especial para o brincar. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) dá um salto histórico ao reconhecer a Educação Infantil como etapa essencial e estabelecer seis direitos de aprendizagem: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se.
Com isso, mais que nunca, o brincar se torna um direito inadiável dado o seu valor para o desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social dos pequenos.
É preciso compreender que a perspectiva do brincar para uma criança é bem diferente da do adulto. O adulto brinca para relaxar, para se divertir e se desconectar um pouco do mundo, mas as suas atividades “importantes”, “sérias”, estão sempre em outro campo, no campo do trabalho ou afins.
Para a criança, a concepção de brincadeira é outra. A criança brinca seriamente! Ao entender essa distinção, conseguimos compreender a importância que o brincar tem na fase inaugural da vida.
Por meio das brincadeiras, a criança vai se constituindo como sujeito. Ela brinca de artista, brinca com os objetos, brinca de investigação, brinca com a natureza, brinca de bombeiro, de casinha... A brincadeira se torna uma potente linguagem de conexão e reflexão sobre o mundo.
O brincar para a criança vai muito além do “se divertir”. Para ela, é algo genuinamente valioso, é o seu trabalho! Por isso, devemos dar o espaço que a ludicidade deve ter na rotina dos pequenos. As experiências brincantes constituem o imaginário, a rede de conhecimentos e de relações que as crianças necessitam desenvolver para crescerem de forma integral e equilibrada.
Vamos brincar seriamente?
*Silvia Adrião é especializada em Construtivismo e Educação, mestra na área de Sociologia da Educação e doutoranda no campo da Educação e Saúde, com ênfase em neurociências. Tem mais de 25 anos de experiência no trabalho com crianças e na defesa das infâncias, e atualmente é diretora pedagógica da Escola AB Sabin.