29 de dezembro de 2010
Olá, estamos de volta!E hoje temos mais uma entrevista muito bacana para vocês. Nosso repórter, Pedrinho Tonelada, conversou com o cardiologista Dr. Anísio Pedrosa*. Vejam o que ele tem a dizer sobre Transplante.
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Pedrinho Tonelada e Dr. Anísio Pedrosa |
Pedrinho: Dr. Anísio muito se fala em transplante, mas muita gente não sabe o que é um transplante. O que é um transplante?Dr. Anísio: Como o próprio nome talvez já sugira, transplante é quando você tem no nosso corpo um órgão que não está funcionando adequadamente, que não está tendo condições de manter a vida da pessoa num nível mínimo de qualidade de vida. Este funcionamento inadequado faz com que você retire esse órgão, pegue um órgão bom de um doador e substitua no corpo. Então você volta a ter uma qualidade de vida normal ou próxima ao normal.Pedrinho: Quais são os órgãos do corpo humano mais transplantados?Dr. Anísio: Os mais transplantados são os mais fáceis de transplantes e que você tem em maior número, que são as córneas e os rins, que são dois para cada pessoa. Então, por isso se tem um número maior de transplantes de córnea e de rim. Já coração, fígado e pâncreas você tem um número menor, já que é um para cada pessoa.Pedrinho: Por quanto tempo, doutor, um órgão retirado ou de um cadáver ou de uma pessoa viva doadora sobrevive até ser transplantado no receptor?Dr. Anísio: Esse tempo de viabilidade do órgão depois que é retirado do doador varia de acordo com o órgão. O fígado e o rim aguentam um pouco mais; o coração, em média, de 4 a 6 horas, desde que ele seja retirado e colocado dentro de um líquido para manter todas as substâncias que ele [o coração] precisa.Pedrinho: É seguro doar órgãos?Dr. Anísio: É seguro. Quando a pessoa vai doar, ela já está numa condição de morte cerebral, que a partir do momento em que você fez uma série de provas, é irreversível. Então, essa pessoa não tem chance de voltar mais. E por que é seguro? Porque esses órgãos vão ser doados para as pessoas que precisam. É super seguro porque existe uma legislação que impede que as pessoas peguem os órgãos de alguém que tenha alguma chance de sobreviver. Pedrinho: Quais são as chances de um transplante dar certo e quais são as chances de dar errado?Dr. Anísio: Os órgãos que são doados, são órgãos bons. São considerados bons porque são pessoas, normalmente, hígidas, que sofreram algum acidente ou alguma tragédia e aí entraram em morte cerebral. O problema se é útil e qual a chance do transplante funcionar depende muito do receptor. O receptor não pode estar em uma condição muito depauperada, muito ruim, de modo que ele vai receber um órgão bom, mas o resto do corpo dele já esteja numa condição muito ruim que não vai sobreviver. Por isso existem alguns critérios para você contraindicar um transplante. Se a pessoa atinge um certo nível que não tem mais volta, em termos do próprio organismo, é diferente de se pegar uma pessoa num tempo bom, quando a chance do transplante funcionar é grande.Pedrinho: O que é morte cerebral?Dr. Anísio: A gente considera morte cerebral a partir do momento em que o cérebro teve uma isquemia ou uma lesão grave através de um trauma ou de um acidente vascular cerebral, em que apenas faltou oxigênio para o cérebro, aí esse cérebro morre. Morrer significa que não há mais comunicação entre o cérebro e o resto do corpo. Então, o corpo está funcionando independentemente do cérebro. Existe uma série de provas que os neurologistas, os intensivistas ou médicos que trabalham em transplante fazem para testar e saber que, com certeza, esse cérebro não tem mais funcionamento.Pedrinho: Mito ou verdade: quem recebe o órgão de uma pessoa, adquire determinados hábitos do doador?Dr. Anísio: Eu acho que não existe explicação para isso. Olhando cientificamente, do lado da Medicina, eu colocaria como mito, porque não tem como você transplantar um órgão e transplantar alguma coisa a mais que funcionava no cérebro do doador. Eu não acredito nisso, eu acho que é mito. Mas existem algumas alterações psicológicas, que aí os psiquiatras e os psicólogos podem explicar. Às vezes, o contato com a família do doador faz com que a pessoa comece a gostar de algumas coisas que o doador gostava. Mas como médico, eu acredito ser mito. Pedrinho: O senhor é medico cardiologista, faz transplantes. Ninguém da família de algum transplantado veio com essa conversa?Dr. Anísio: Sim, já vieram com algumas histórias de que antes não gostava de atividade física e depois passou a gostar… Eu fico pensando, por outro lado, que a pessoa passou a ter isso porque a qualidade de vida melhorou muito, e aí passa a gostar de uma atividade física. Gostar de tomar água, que não podia anteriormente, gostar de uma bebida que não podia tomar anteriormente… Então, acho que no final é uma combinação de coisas. A qualidade de vida da pessoa melhora muito e ela volta a ter o que gostava antes, como uma bebida, uma atividade física e tudo mais.* Dr. Anísio Pedrosa é médico cirurgião cardiologista, membro do Instituto de Moléstias Cardiovasculares Oswaldo Cruz (IMOC) e participou do Programa Papo de Mãe sobre Transplantes, exibido em 26.12.2010.