O pediatra Moises Chencinski fala sobre a Semana Mundial de Aleitamento Materno e o marketing das empresas
Redação Publicado em 21/07/2022, às 09h25
Você já percebeu que quando você resolve comprar um carro e já pensa em uma cor, começa a ver muito mais carros desse mesmo modelo e da mesma cor na rua, como você nunca via antes?
E isso vale para roupas, móveis, plantas... Será que isso era o que hoje se chama algoritmo? O “algoritmo da vida”? O “Google real”? As máquinas (ou quem está por trás delas) começando a determinar nossos destinos? Aliás, já escrevi sobre isso por aqui.
É aquela história de você procurar um sapato no Google, não comprar, e receber milhões (exagero) de mensagens em todas as suas redes sobre aquele sapato e até um da própria loja, às vezes em questão de segundos, dizendo:
“Falta apenas um clique para você adquirir seu produto. Não perca a oportunidade”.
Dica de filme (documentário): O dilema das redes. Parece filme de terror, misturado com ficção científica, sem romance e nem comédia. Affffeeee.
São tantas emoções, que ficamos entre muitas: surpresa, desconfiança, insegurança, sarcasmo, depressão... Escolhe a sua (ou as suas). E vida que segue.
Sempre que aparece uma data em especial, o Google é inundado por textos e informações e publicidades a respeito. Assim, nem precisamos de calendários para nos lembrarmos que estamos perto (ou já passamos) do Dia do Amigo (20/07), Dia dos Avós (26/07), Dia Mundial do Chocolate (07/07) ou Dia da Pizza (10/07) só para falar de alguns de julho mesmo.
E isso sem contar os famosos Dias das Mães, dos Pais, das Crianças, Natal, Páscoa, entre outros muito famosos. Sabe quem não nos deixa esquecer disso sempre?
Tá errado isso? Até que não. Essa é, talvez, a principal função do marketing.
Frase feita? Temos:
“Criar dificuldades, para vender facilidades”.
Autor desconhecido (se alguém souber quem foi, avise, por favor).
Sim, eu entendo, e até ingenuamente acredito, que essas datas comemorativas tenham sido criadas para celebrar, sensibilizar, homenagear. Massss... até a ingenuidade tem limites. Pelo menos, limites econômicos. Não dá pra gastar tanto, né? Lembrancinhas são criadas para esse momento.
E aí chegamos na...
De 1 a 7 de agosto celebra-se a 31ª SMAM e o 6º AGOSTO DOURADO. A cada ano temos um tema definido pela WABA e traduzido por nós aqui. Para 2.022: FORTALECER A AMAMENTAÇÃO EDUCANDO E APOIANDO.
Isso quer dizer que a partir da última semana de julho até o meio de setembro, o Google estará repleto, a cada dia mais, de informações a respeito da importância da amamentação, das capacidades do leite materno, dos riscos de não amamentar, da relevância da empatia, escuta ativa, sem julgamento (especialmente para as mães que não conseguiram ou optaram por não amamentar).
E aí, o MARKETING se aproveita, de forma subliminar, desse mesmo período para criar dois grupos aparentemente antagônicos: as mães que amamentam e as mães que não amamentam. E, de forma muito sutil, estimulam esse movimento usando um sábio ensinamento: DIVIDIR, PARA CONQUISTAR.
E, nesse momento, mães que são mães quer tenham tido partos normais, cesarianas ou fórceps, quer tenha sido por necessidade ou opção própria, mães que optam pelo seu direito (e de seu bebê) de amamentar ou não seus bebês, que dormem em cama compartilhada ou com seus bebês em um berço ao lado da sua cama ou em outro quarto, mães que têm 1, 2 ou 5 filhos, ..., são colocadas umas contra as outras através da força das redes sociais, que têm, hoje em dia, muitas cabeças pensando e agindo pelas “nossas costas”, em busca de likes e lucros.
Quanto mais se divide, mais fácil fica.
E, na verdade, existe um grupo só: MÃES.
Mães que querem ser mães, que querem ser felizes, que querem o melhor para seus filhos, que não são números ou algoritmos. São MÃES.
Informação é fundamental. Antigamente ela vinha em livros. E para se mudar essa informação levava-se anos, até décadas. Os estudos aconteciam de forma muito mais lenta. Hoje a informação nem chegou e, algumas vezes, já mudou. E quando chega, já tem estudos que provam que talvez não seja bem assim... e todos ao mesmo tempo. SOCORROOOOOOOOOOOOOOOOOOO...
Assim, a partir de agora se preparem para a avalanche de postagens sobre todos os temas e possibilidades que estejam relacionados ao aleitamento materno. Agosto está logo aí. Apelos e informações chegarão. Muitas. Demais. De todos os lados. Tenham uma boa base de rede de apoio e de profissionais com credibilidade para esclarecimento.
- Leite materno é o padrão ouro da alimentação infantil.
- Amamentar é um direito de mãe e bebê.
- Informação e ciência são as bases para a decisão da mãe.
- Aconselhamento é fundamental: Escuta Ativa. Empatia.Sem julgamentos.
- Em relação à saúde, nos referimos, não por ordem alfabética, mas pela lógica e pela importância, à saúde materno-infantil. Não é infanto-maternal. Para que a criança esteja bem, a mãe sempre será a prioridade (não exclusividade) da nossa atenção.
- FORTALECER A AMAMENTAÇÃO. EDUCANDO E APOIANDO. Esse é o tema da SMAM desse ano. A semana mundial de aleitamento e o agosto dourado são oportunidades a mais para sensibilização e conscientização a respeito do leite materno e da amamentação. Mas nem começa e nem termina aqui. É uma atividade para o ano todo. Na verdade, para uma vida toda.
Segue uma frase que Fernanda Montenegro considera ser a mais tocante atribuída ao escritor Nelson Rodrigues. Eu gosto.
“Aprendi a ser o máximo possível de mim mesmo”.
Ser o máximo possível deveria bastar.
*Dr. Moises Chencinski , pediatra e homeopata.
