Papo de Mãe

Férias longe dos pais: seu filho está preparado?

Roberta Manreza Publicado em 16/12/2015, às 00h00 - Atualizado às 10h57

Imagem Férias longe dos pais: seu filho está preparado?
16 de dezembro de 2015


O fim das aulas chegou e com ele vem a possibilidade de as crianças passarem alguns dias fora de casa. Viajar com um amiguinho, ficar um tempo com os avós ou participar de um acampamento são algumas das opções. Como saber se eles estão prontos para essa aventura?

Por Vanessa Lima – Revista Crescer Online

Viagem (Foto: Reprodução)

Eles nascem totalmente dependentes e, com os anos, adquirem cada vez mais liberdade e confiança para se soltar: primeiro, algumas horas na casa dos avós, depois, a escola, e, mais tarde, um passeio com os primos… No período de férias, muitos pais não conseguem combinar o período de descanso no trabalho com o dos filhos. Então, surge a oportunidade de passar um tempo longe, o que implica em dormir fora de casa. Mas será que estão mesmo prontos? Como saber se é hora de permitir ou não? Como os pais se preparam para esse momento?

Não é nada fácil, mas faz parte do processo de amadurecimento de todos. É o que diz a psicóloga Vera Zimmermann, do Centro de Referência da Infância e Adolescência da Unifesp (SP). “Quando se trata de educar uma criança, a família tem a tarefa de equilibrar dois valores: o pertencimento e a individualização. O primeiro se dá por meio do vínculo. A criança deve saber e sentir que faz parte daquela família. O segundo é o desenvolvimento de sua própria personalidade e de suas características. É o que a deixa segura para explorar o mundo além dos pais. Quando o desejo dessa individualidade aparece, ela manifesta a vontade de descobrir e se aproximar de outras pessoas e de conhecer outros ambientes”, explica. Nessa hora, seu filho pode dar sinais de que está, sim, pronto para passar mais tempo longe de casa e até dormir fora.

De acordo com a psicóloga, esse processo acontece aos poucos. Os pais devem preparar os filhos para essas novas experiências, oferecendo liberdade gradualmente. Se a família criou um vínculo forte nos primeiros anos do bebê, chega a hora de mostrar que há outras pessoas em quem ele pode confiar: os avós, a babá, a professora. “É preciso encorajar esse movimento para criar a individualização, que é uma forma dele se conhecer e descobrir o mundo”, ressalta Vera. Embora não existam regras, se houver o equilíbrio, por volta dos 3 e 4 anos, eles podem manifestar a vontade de dormir na casa dos avós; aos 5 ou 6 anos já têm aquelas brincadeiras de noite do pijama e, por volta dos 7 ou 8, costumam estar mais seguros para dormir na casa de um amigo, mas isso varia de acordo com cada criança.

Um degrau de cada vez
O primeiro passo é conhecer seu filho e observar se ele está mesmo preparado, se passou bem por todas as etapas anteriores, se demonstra segurança e manifesta esse desejo. “Se a criança nunca dormiu nem na casa dos avós, que são mais próximos, é mais difícil ficar uma semana fora da cidade com a família de um amigo. O desenvolvimento é gradual”, explica Vera.

“Os pais também precisam conhecer bem as pessoas com quem o filho vai viajar, conversar antes, saber se a família que vai recebê-lo está disposta para apoiar a criança nesse grande passo, que é ficar longe dos pais”, aponta a especialista.

E se ele chorar à noite?
Esse é o maior medo dos pais, da criança e do adulto que vai recebê-la, mas é uma reação completamente normal. Os adultos devem se preparar para ampará-la nesse momento. “É uma dor que vem da separação. Eles sabem que os pais estão longe e no meio da noite bate aquela frustração. O importante é que o adulto – o avô, a avó, os tios, os pais do amigo ou da amiga – se disponha a consolar, conversar, abraçar e dizer que vai passar. Normalmente, atitudes assim resolvem a questão”, diz a especialista.

A não ser que ela fique extremamente triste e ansiosa, em um ponto que os adultos acreditem ser além da saudade apenas, levá-la de volta para a casa dos pais ou pedir que eles a busquem não é uma boa solução. “Isso pode trazer uma sensação de falha, de fracasso, já que não é o que ela queria fazer de verdade “, reforça Vera.

Mudança de hábito
Passar alguns dias fora de casa também significa mudar de rotina. Todos aqueles costumes que você instituiu a muito custo (hora de dormir, de brincar, de tomar banho, de comer e o que comer…) provavelmente não serão seguidos durante aquele período. Mas não se preocupe (e nada de entrar em conflito com os avós, parentes, amigos…). Isso é positivo para o crescimento. “Sair da rotina, nesse caso, faz parte do amadurecimento. Durante aquele período, a criança vai perceber que existem outras formas de viver e que naquela casa tudo acontece de uma maneira diferente, em comparação aos hábitos seguidos pelos seus pais. E vai aprender a se adaptar e esse novo ritmo”, comenta a psicóloga.

O seu desafio virá depois, na volta do seu filho para os hábitos da sua casa. É nessa hora que começam argumentos como: “Não quero dormir. Na casa da minha amiga podíamos ir para a cama mais tarde” ou “Os pais do meu amigo nos deixavam comer assistindo à TV”. De acordo com Vera, pai e mãe devem enfrentar o problema com firmeza e ensinar que cada casa tem suas próprias particularidades, regras e costumes. “Vale dizer que os pais do amigo também foram mais permissivos justamente porque era um período de férias e que, com a volta às aulas, eles também dormem mais cedo por lá”, exemplifica a médica.

Sim, seu filho está crescendo!
Chegar a essa nova etapa do desenvolvimento dos filhos não causa insegurança apenas nos filhos. Pais também ficam apreensivos e se perguntam o tempo todo se tomaram a decisão certa ao permitir que as crianças finalmente passem uma temporada longe deles. Por isso, antes de deixar ou não, é preciso observar a idade, o comportamento, o estilo e os gostos de cada um. É preciso ter cuidado e confiar no adulto que ficará responsável nesse período. Mais que isso: é preciso acreditar no seu filho e em sua capacidade de desenvolvimento. Por isso, resista ao impulso de telefonar a cada minuto para saber o que está acontecendo por lá. Ligar de vez em quando é saudável, mas o exagero tornará a situação desconfortável para todos – além de deixar o seu filho inseguro. Apesar do receio dos pais – um sentimento normal – é fundamental se esforçar para superar as dificuldades e permitir a experiência, que é um primeiro passo para a individualidade e para compreender que o mundo é muito maior do que a nossa própria casa.

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