O implante coclear é uma opção para crianças com perdas auditivas severas a profundas
Fernando Balsalobre* Publicado em 07/07/2022, às 08h55
Na rotina das maternidades, os bebês precisam passar por alguns exames logo após o nascimento. Isso porque, algumas doenças que não costumam apresentar sintomas imediatos precisam ser precocemente diagnosticadas. Um dos testes obrigatórios é o da orelhinha, que permite detectar problemas auditivos leves ou graves nos recém-nascidos.
Para entender melhor os níveis de perda auditiva, que é medido em decibéis (dBHL), podemos classificar da seguinte forma: acima de 25 dB é considerado como perda auditiva leve; entre 40 e 69 dBHL como moderada; entre 71 e 90 dBHL como severa; e superiores a 90 dBHL são as perdas profundas. De acordo com o grau e tipo de perda auditiva do bebê ou da criança será definida a solução mais adequada para o caso.
Hoje, vou explicar um pouco sobre a solução por meio do implante coclear, que é um dispositivo implantado cirurgicamente que capta o som do meio, transforma este estímulo em elétrico e que, através de um eletrodo implantado na Coclea (órgão auditivo), estimula diretamente o nervo da audição.
Bebês e crianças aprendem a falar ouvindo seus pais e o mundo ao seu redor, portanto, costumo dizer que a audição é fundamental para o desenvolvimento da linguagem.
Quando uma criança nasce com perda auditiva e após o diagnóstico é realizado o implante coclear, é muito provável que suas habilidades linguísticas sejam mais fortes se comparadas àquelas tratadas quando já tinham dois anos de idade. Isso mostra que, quanto mais cedo for o diagnóstico e o tratamento da perda auditiva, maior será a chance do seu filho desenvolver uma linguagem equivalente à de uma criança com audição normal.
O implante coclear é uma opção para a habilitação ou reabilitação de perdas auditivas severas a profundas e indicado para todas as idades a depender do tipo de perda, tanto para bebês que nascem com surdez ou mesmo para pessoas que desenvolvem a surdez ao longo da vida.
Apesar de muitas pessoas ainda não terem ciência dessa informação, o implante coclear é uma tecnologia coberta tanto pelos planos de saúde (ANS) quanto pelo SUS. Já em relação aos aparelhos auditivos convencionais, esses sim possuem maior dificuldade de acesso pela população, mesmo com programas de governo para essa finalidade. Os planos de saúde, por sua vez, também não são obrigados a fornecer esses dispositivos, o que faz com que muitos pacientes acabem ficando desamparados devido ao custo elevado.
Muitas famílias de paciente me perguntam como é a vida de uma criança após o implante. Costumo dizer que, com os acompanhamentos de rotina necessários, a vida é normal. Eles podem correr, brincar, nadar, se divertir como qualquer outra pessoa. Os implantes possuem tecnologia e qualidade de última geração, portanto, feitos para durar muito tempo. Inclusive, o crescimento da criança não afeta no funcionamento do implante.
Vale ressaltar que, caso a criança implantada ou usuária de aparelho convencional comece a apresentar dificuldades de comunicação ou que se queixe de dificuldade de escutar, os pais deverão procurar atendimento especializado imediatamente com otorrino e fonoaudióloga. As consultas periódicas fazem parte da agenda de todos os pacientes usuários de dispositivos para surdez. Manter essa disciplina é a receita do sucesso para uma vida comum de crianças ou adultos de qualquer idade.
- Os implantes cocleares são para crianças com perda auditiva entre severa e profunda em um ou nos dois ouvidos ou para crianças que obtêm benefício limitado de aparelhos auditivos.
- Após avaliação criteriosa e detecção de surdez profunda, crianças a partir dos 6 meses de idade já podem se submeter ao procedimento, oferecido pelo SUS e coberto pelos planos de saúde privados.
- Se a cirurgia for feita entre 6 meses e 1 ano de idade, pacientes atingem mesmo desempenho auditivo e de linguagem que colegas ouvintes. Crianças com mais de 7 anos que nasceram surdas não costumam apresentar resultados satisfatórios.
- O paciente costuma ter alta no mesmo dia. A parte externa do dispositivo é acoplada à interna 30 dias depois da cirurgia e seu aspecto físico lembra o de um aparelho auditivo comum.
- Recuperação da audição: a recuperação da audição e o início da fala variam de acordo com o caso e o tempo de privação sonora e envolvem também o trabalho de uma fonoaudióloga.
*Dr. Fernando Balsalobre é otorrinolaringologista (USP), membro da Sociedade Brasileira de Otologia (SBO).
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