A iniciativa abrange 20 mil alunos de escolas particulares e públicas, estimula a doação de livros e promove ações de incentivo à leitura
Sabrina Legramandi* Publicado em 24/08/2021, às 16h22
“Convocar famílias com farto acesso a livros a doarem obras para famílias com acesso restrito, e promover ações de incentivo à leitura que criam pontes”. É assim que o Movimento Leve História define o propósito da iniciativa em sua página no Instagram.
A ideia começou com uma realidade que estava “tirando o sono” dos criadores durante a pandemia da Covid-19: a evasão escolar. Patricia Auerbach, arte-educadora, escritora e uma das fundadoras do Leve História, conta que pensar em resgatar as relações entre professores e alunos, principalmente nas escolas públicas, foi o que deu o impulso ao projeto.
Cada um viveu a pandemia de um jeito e cada um tem suas marcas. E eu acredito que a literatura é um bom começo para falar sobre essas marcas.” (Patricia Auerbach)
Patricia acredita na literatura como um “olhar a vida pelos olhos do outro”, algo que acha essencial, principalmente durante o contexto pandêmico que o mundo atravessa hoje.
O Leve História, para além de apenas fazer a doação de livros, serve como um resgate do “olhar gentil e generoso do professor” e, mais do que isso: cria vínculos entre pessoas através da busca do prazer e do direito à literatura. “Eu não acho que todo mundo precisa ser leitor erudito, mas todo mundo precisa ter o direito de escolher o que quer ler”, afirma a escritora.
Patricia Auerbach conta que, atualmente, o Leve História abrange cerca de 14 escolas particulares doando livros e 25 escolas públicas recebendo. A iniciativa funciona em trios: um representante da rede particular, um da rede pública e um mediador do projeto.
Mas o intuito também é estimular a leitura, criar vínculos e, dessa forma, promover o real acesso à literatura. Para que o Leve História consiga atender outras instituições no futuro, também foram criados projetos de incentivo voltados a alunos, professores e, até mesmo, pais.
A nossa ideia é que a gente possa fazer as pessoas darem as mãos e que essas mãos fiquem dadas independentemente do Leve História.” (Patricia Auerbach)
Uma das ações, inclusive, surpreendeu os criadores. Uma das escolas participantes resolveu envolver alunos do ensino médio para que, através de pesquisas, os estudantes não apenas participassem da arrecadação de livros, mas também da triagem.
Ao contribuir nessa ajuda, esses alunos doadores passaram a trazer relatos sobre como a doação fez com que eles mesmos descobrissem o prazer da leitura. “Isso é uma coisa que nós não estávamos contando”, diz Patricia.
Outra iniciativa envolve professores da rede particular e da rede pública em torno de hábitos de leitura. Muitos desses professores, independentemente da escola em que lecionavam, não se reconheciam como leitores. “Se você não lê, é muito difícil convencer um aluno de que ler é bom”, comenta a escritora.
Porém, Patricia, que também descobriu a literatura através da tradição oral de sua família, afirma que incentivar essa tradição contribuiu para que muitos manifestassem esse prazer.
Tem sido muito bonito, eles se descobrem leitores e legitimam a experiência que têm: cordel, canção, contação de causos da família. Dessa maneira, os professores passam a fazer parte desse grupo.” (Patricia Auerbach)
Além dessas duas formas de estímulo, há também um projeto voltado aos pais para que esse vínculo familiar em torno da literatura também seja criado. Durante os horários de saída dos alunos, há contação de histórias para eles e, durante os finais de semana, há contação para as famílias ao ar livre.
O grande objetivo do Leve História, como afirma Patrícia, é criar “pontes que sejam perenes”.
A gente precisa parar com essa ideia de só mandar livros, casacos, comida, dinheiro. Quem são as pessoas que estão recebendo? A gente precisa olhar de verdade, ouvir de verdade, se aproximar de verdade.” (Patricia Auerbach)
Por conta da alta demanda e por ser um movimento totalmente voluntário, o Leve História atualmente não está aceitando novas inscrições de escolas públicas. No futuro, o objetivo é ampliá-lo para outras escolas e, até mesmo, para outras cidades além de São Paulo.
Há três postos de coleta em livrarias parceiras na capital do estado. Todos eles, além das principais perguntas sobre o funcionamento, podem ser vistos neste link ou no perfil no Instagram do Leve História.
*Sabrina Legramandi é repórter do Papo de Mãe