Em entrevista, a arte educadora Diana Tubenchlak fala sobre seus projetos e a importância da presença da arte na primeira infância
Sabrina Legramandi* Publicado em 11/08/2021, às 07h00
Já se sabe que a arte é essencial para a vida de crianças e adultos. Seja para criar um pensamento crítico, ou mesmo como uma “válvula de escape”, poder ter a arte presente durante toda a vida é poder extrair as belezas da vida.
Mas, afinal, é possível ter a compreensão sobre o que é a arte já nos primeiros 18 meses de vida? Diana Tubenchlak, autora de “Arte com Bebês” (Panda Educação; 2020) e, com Renata Sant’Anna, de “Entre: a arte é sua” (Panda Books; 2021), explica que não apenas é possível, como é essencial que práticas culturais sejam estimuladas desde cedo.
Formada na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), a arte educadora desenvolve, desde 2015, os projetos “No Colo” e o “Embalada – Arte Educação”, que estimulam a arte na primeira infância e também a multissensorialidade – a exploração de todos os sete sentidos do corpo.
Antes da pandemia, o “No Colo” acontecia no Instituto Tomie Ohtake e o “Embalada – Arte Educação”, nas unidades do Sesc. Hoje, seus livros mostram também a importância de levar a cultura para casa. Feito inicialmente para educadores, ambos passaram a ser adquiridos, durante a pandemia, por pais interessados pelo assunto.
Ao Papo de Mãe, a arte educadora contou sobre o “No Colo” e também sobre aquela que é a “melhor maneira de receber quem acabou de chegar”: a arte.
Papo de Mãe – Quão importante é a arte na primeira infância? E como fazer os bebês se interessarem por ela desde cedo?
Diana Tubenchlak – Eu gosto de pensar na forma em que nós seres humanos recebemos as pessoas que estão chegando no Planeta Terra. E eu tenho para mim que a arte é uma boa forma de receber os recém-chegados, como diz a filósofa Hannah Arendt. Além disso, as importâncias da arte para a vida são muitas: tem toda a ideia da exploração de diferentes materiais e a relação com esses materiais diversos.
No caso das relações com as mães, pais e outras pessoas da família, a arte traz a ideia de criar algo em conjunto.
Quando a gente pensa nos espaços culturais, a gente pensa também nessa ideia de formação de público. Desde pequena, a criança vai ver exposições, participar de propostas.
Então eu gosto de pensar que são muitas áreas importantes da arte desde a primeira infância.
PM – Como funciona o “No Colo”, no Instituto Tomie Ohtake?
DT – Durante a pandemia, os projetos foram pausados, principalmente por conta do perfil das propostas: essa relação toda criada entre os bebês.
O “No Colo”, mesmo durante esse período, continuou existindo através das formações de professoras que trabalham com essa faixa etária. Há cinco anos, ele surgiu quando o coordenador da área de acessibilidade do Instituto Tomie Ohtake, Cláudio Rubino, me convidou para criar uma proposta e, após conversarmos, inauguramos o projeto nessa perspectiva das famílias pegarem os bebês no colo e mostrarem e verem as exposições juntos.
Além da formação de educadores e dessa proposta das exposições, que funcionava no pré-pandemia, o “No Colo” também é itinerante. Nós vamos a abrigos de mães com bebês, por exemplo, tanto em São Paulo quanto em outros estados.
PM – O que é a multissensorialidade? E por que trabalhar com ela?
DT – Quando pensamos nas exposições de arte, a ideia, inclusive quando eu crio as propostas, é agregar os outros sentidos nas artes visuais, que partem justamente do sentido da visão.
Os adultos têm uma relação muito visual com o mundo, mas os bebês gostam muito de sentir o cheiro, ver com a mão, descobrir o mundo com todos os sentidos.
Então, quando eu crio as propostas, eu procuro pensar nessa ideia de como a gente pode abarcar dois, três sentidos em cada proposta. Por exemplo, eu faço tintas com aromas naturais e penso nas texturas, que vão ativar essa ideia do tato. Tudo isso a partir da ideia da potência pedagógica dos materiais: como que cada material se comunica com a criança pequena.
*Sabrina Legramandi é repórter do Papo de Mãe