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O antirracismo é urgente

Seja antirracista e crie filhos antirracistas. Uma campanha fixa do Papo de Mãe. Nesta entrevista, a advogada Monique Prado e a pedagoga Clélia Rosa falam sobre antirracismo

Mariana Kotscho* Publicado em 07/04/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h12

O antirracismo precisa estar nas escolas
O antirracismo precisa estar nas escolas

Racismo não é opinião nem liberdade de expressão. Racismo é crime. Quem o comete precisa entender que há atitudes, gestos e palavras que são proibidos.

Nossa sociedade ainda precisa evoluir muito em relação ao tema, pois ainda é extremamente racista. Seja o racismo declarado, estrutural, velado ou revelado.

Desde o começo de 2020, o Papo de Mãe vem fazendo uma campanha de combate ao racismo. Os vídeos estão nas nossas redes sociais (@papodemae) e abaixo.

Em entrevista ao Papo de Mãe, a pedagoga Clélia Rosa e a advogada Monique Prado falaram sobre o assunto, explicando a importância de uma educação antirracista para todas as crianças. A luta antirracista deve ser de toda a sociedade e a população branca precisa fazer parte dela.

Falar mal do cabelo do outro, com desdém, como aconteceu recentemente no BBB, não é brincadeira. É racismo. É preciso, portanto, entender o que é racismo. Enquanto houver racismo, é preciso falar sobre isso.

Clélia Rosa explica que o termo antirracista significa você ter uma ação prática, concreta contra o racismo, não basta apenas dizer “não sou racista”

“Ser antirracista é você se colocar em movimento, ter ações práticas que caminhem na contramão do racismo”(C.R.)

A pedagoga Clélia Rosa
A pedagoga Clélia Rosa

“O racismo é estruturado nas próprias políticas, como diz o intelectual Silvio Almeida. Racismo é crime porque pressupõe a exclusão de um grupo racial”, explica Monique Prado.” No Brasil existe o crime de injúria racial e o crime de racismo.

Assista aqui entrevista completa de Mariana Kotscho e Roberta Manreza, do Papo de Mãe, com Monique Prado, advogada,  e Clélia Rosa, pedagoga – inscreva-se no canal Papo de Mãe

Para Clélia Rosa, são várias frentes de combate: “Uma é o fortalecimento da autoestima de crianças negras e pessoas negras em geral. Entretanto é importante dizer que precisa existir a mesma força para educar as crianças não negras para não reproduzirem o racismo. Porque não adianta eu, enquanto mãe negra, fortalecer minhas filhas, estimular a autoestima delas se quando elas vão pra rua elas se deparam com o racismo ao se relacionar.”

“Quando seu filho fala um palavrão, como você atua? É a mesma coisa na educação antirracista: tem que ser pontual, reiterado, corrigido. Para que não vire um hábito. A criança não nasce racista, mas acaba sendo formatada racista. O legal de ser antirracista é, por exemplo, ir na escola do seu filho e perguntar: Quantos professores negros tem aqui?”(M.P.)

A advogada Monique Prado
A advogada Monique Prado

Racismo Estrutural

O racismo estrutural está na base da nossa sociedade, segundo Clélia Rosa. Uma das formas de revelar isso é a falta de ascensão da população negra. “O racismo estrutural age de várias formas, uma delas é não permitir e não possibilitar que pessoas negras alcancem outros postos de trabalho. Ele atua para manter pessoas negras em trabalhos de baixa remuneração. Isso retrata o modo como o racismo opera. A perversidade é tão intensa que faz com que as pessoas achem isso normal. Por exemplo, é “normal” ter uma pessoa negra trabalhando como segurança, mas não é “normal” ter uma pessoa negra na gestão de uma escola.”

Racismo na escola

“A representatividade é importante, é fundamental que as crianças tenham professores negros e negras, tanto para crianças negras quanto para crianças brancas. No campo escolar, penso que a gente precisa ir além da representatividade: garantir que o conhecimento chegue nas crianças e adolescentes. A Lei Máxima da educação já estipulou que haja o ensino da história africana a afrobrasileira em todas as etapas do ensino. Mas há escolas que ainda não cumprem a lei”, relata Clélia Rosa. E completa: “A escola tem papel institucional de ampliação e construção de conhecimento. Quais os conhecimentos que a escola está ampliando e construindo sobre a história africana e afrobrasileira? Temos que questionar isso. Quais conhecimentos sobre a contribuição do povo negro para a construção do Brasil e das Américas?

Leis sobre racismo

“Do ponto de vista jurídico, nós tivemos algumas conquistas que foram mobilizadas pelos movimentos sociais (movimentos negros) e a sociedade civil. A gente tem o Estatuto da Igualdade Racial, a Legislação que versa sobre estudo da África nas escolas, as leis que incidem sobre ensino público e sobre concurso público das cotas raciais, são duas leis”, explica a advogada Monique Prado, mas ressalta que os avanços sofrem retrocessos constantemente: “As cotas raciais são medidas efetivas e precisam ser levadas a sério”.

“Se a gente quer uma sociedade melhor, precisa começar na base e repensar também as palavras racistas que ainda são usadas na sociedade”, completa Monique.

A criança numa sociedade racista

“A criança não está sozinha na sociedade. Ela convive com adultos que precisam dar o exemplo. A família deva agir intencionalmente numa educação antirracista. Do ponto de vista coletivo, é entender e fortalecer as ações afirmativas que já existem, como a política de cotas”, diz Clelia Rosa.

E ficam as perguntas

Você quer um filho antirracista? E você? É antirracista?

Leva seus filhos para conviver em ambientes democráticos e com diversidade?

Aonde estão as bonecas negras nas prateleiras?

Você defende as políticas de cotas?

Consome cultura e literatura de pessoas negras ou que falem da cultura afrobrasileira?

Cobra na escola dos seus filhos uma educação antirracista?

Como você age coletivamente?

Reivindica que a imprensa e a mídia valorizem personagens negros?

Reivindica mais pessoas negras nas empresas e em cargos altos e bem remunerados?

*Mariana Kotscho é jornalista e apresentadora do Papo de Mãe

Leia artigo da colunista do Papo de Mãe Tatiane dos Santos

“Ser mãe de menino negro é ter medo que eles andem pela noite na rua, ou até mesmo durante o dia, e que sejam confundidos com bandidos”

“Uma leoa, uma mãe, mãe negra.”

Tatiane, Lucas Florio e Florio Joaquim
Tatiane, Lucas Florio e Florio Joaquim

Se tornar mãe e colocar uma criança no mundo é uma decisão às vezes difícil, que envolve dúvidas, medos, idealizações e receios. Ser uma mãe negra e criar uma criança negra no mundo em que vivemos aumenta ainda mais a complexidade dessa experiência. Principalmente quando se é mãe de menino.

Eu, Tatiane Santos, sempre achei que seria mãe de menina, sonhava com laços e turbantes mãe e filha. Pensava em empoderá-la, em ser uma mulher forte e independente, e, principalmente, ensiná-la a ter pertencimento quanto a nossa etnia.

Então, na primeira gestação,  recebi Lucas Florio, Um menino lindo com um sorriso encantador, hoje com 4 anos.

Lucas e a mamãe Tatiane
Lucas e a mamãe Tatiane

Enquanto ele crescia, também crescia minha militância diante do racismo estrutural que sofremos no mundo, e que principalmente acontece em um espaço onde as crianças têm o seu primeiro aprendizado sobre o que é pertencimento.  A escola é o local onde normalmente acontecem os primeiros episódios de racismo e é onde as crianças se percebem negras ou entendem o peso que sua cor pode ter na sociedade.

A partir deste contexto me torno mãe de menino e também militante étnico racial infantil. Meu objetivo é compartilhar com outros educadores a mudança de olhar, de falas e de atitudes racistas que acontecem na escola, onde a criança negra muitas vezes é invisibilizada, nos livros e em representatividade nos brinquedos e desenhos das paredes.

Após 2 anos de tentativas, eu e meu marido, resolvemos em frente à pandemia ficar apenas com o Lucas como filho único, mas fomos “surpreendidos” por uma segunda gestação. Estamos esperando Noah Akim! Sim, mais um menino. Além disso, tenho uma irmã que também tem dois meninos.

Noah Akim na barriga da mamãe Tatiane
Noah Akim na barriga da mamãe Tatiane

Vocês já devem imaginar: minha militância apenas ficou mais forte, tanto que eu e meu marido decidimos por um nome de matriz Africanapara registrar a nossa luta.

Aprendi que ser mãe de menino é receber um olhar todos os dias como se você fosse uma heroína, acordar descabelada e receber um beijo com a frase ” está linda mamãe” .

É ouvir a palavra “mãe” de perder as contas todos os dias,  é receber um amor incondicional com todos os seus defeitos. É ser uma Rainha rodeada por príncipes.

É também ter medo, medo de vê-los crescer e precisar enfrentar um mundo de desigualdade e racismo, ter medo que eles andem pela noite na rua, ou até mesmo durante o dia,  e que sejam confundidos com bandidos pelo simples fato de serem meninos/homens pretos.

Amor de irmãos
Amor de irmãos

Colocar uma criança negra no mundo é pensar que ela vem com uma bagagem. Você tem que explicar como é o dia a dia de uma pessoa negra no Brasil, como é lidar com a violência na rua, explicar sobre nossa história e porque lutamos até hoje. É deixá-los fortes para responder com respeito e também lutar pelos seus direitos e ocupar os espaços antes negados a nós, e que agora estamos ocupando.

Quero que meus filhos e sobrinhos sejam o que quiser: médico, bombeiro, esportista, empresário, que possam freqüentar as melhores faculdades, que saibam dos seus direitos e deveres, mas que principalmente saibam quem são, que valorizem e lutem pelo seu povo.

Não será fácil, mas estarei aqui lutando como uma Leoa por eles.

Uma leoa, uma mãe, mãe negra.

Por Tatiane Santos – Pretinha Educadora

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