pmadmin Publicado em 01/02/2011, às 00h00 - Atualizado em 03/10/2014, às 20h04
Edith e seu filho |
por Edith Modesto*
Hoje eu sei que, desde cedo, os homossexuais se percebem diferentes e aprendem que são considerados inadequados. As pessoas, injustamente, os vêem como anormais, dizem que foi uma “escolha”… E eles têm de esconder a sua homossexualidade dos colegas, dos vizinhos e, principalmente, dos seus pais!
Vivendo esse conflito, fecham-se em si mesmos. Eles têm poucos amigos e, sobretudo, não têm quem os oriente, não têm modelos positivos.
Qualquer criança, qualquer jovem, quando sofre, procura a mãe: “Mãe, fulano me chamou de tampinha… de gorducha… de quatro olhos…”
Os nossos filhos homossexuais, quando ofendidos, ao contrário, tendem a se retrair, não denunciando ofensas, nem procurando ajuda, pois sabem que a sociedade discrimina o diferente, que não serão aceitos pela família… Ficam sós, jogados à própria sorte, lutando em segredo contra o seu próprio preconceito e contra o preconceito alheio. E se apavoram de medo de perder o amor de suas mães.
E, assim, provavelmente aconteceu com o meu filho caçula.
E eu? Onde estava eu, a mãe que deveria lhe dar carinho, apoio, deveria protegê-lo dos perigos e do sofrimento de ser discriminado?
Como toda mãe, antes de ele nascer, preparei um enxoval azul quando soube que ia ter um menino. Mais tarde, fiquei feliz ao perceber que ele era bonito, forte, inteligente e esperava que meu filho arrumasse uma namorada, se casasse e me desse netinhos.
Eu percebi, sim, que, na adolescência esse filho tornou-se um garoto triste, calado, distante, mas sempre arrumei uma desculpa para isso. Nunca me passou pela cabeça que ele pudesse ser gay.
Gay? Na verdade, eu não tinha a mínima idéia do que era ser gay. Um dia, estranhando o seu jeito fechado e o fato de nunca ter tido namorada, eu lhe perguntei se não gostava de mulheres. E o meu mundo caiu, quando ele confessou que era gay.
A descoberta da homossexualidade de um(a) filho(a) é quase sempre uma tragédia para os pais. Para nós também foi como se aquele filho querido desse lugar a um outro, estranho, desconhecido…
Passei por um lento processo de aquisição de conhecimentos e aceitação. Fiquei brava, inconformada, triste, desesperada, senti medo, vergonha… E me senti muito só. Não tinha com quem conversar. Qualquer semelhança com o que, certamente, meu filho sentiu, não foi mera coincidência. Os pais, como os filhos, também passam por um processo de aceitação, também têm de “sair do armário” e também precisam de apoio. Uma ajuda que, dificilmente, seu filho(a) homossexual tem condição de lhes dar.
Na época, o meu maior desejo era conversar com outra mãe como eu. Trocar idéias, sentimentos, desabafar… Mas não consegui encontrar nenhuma! Poucos anos depois, fundei o GPH – Grupo de Pais de Homossexuais (mã[email protected]) – para que os pais pudessem se encontrar.
Hoje somos mais de 200 pais no grupo. Conversamos entre iguais, trocamos informações, nos ajudamos mutuamente nos momentos de desalento e nos sentimos fortalecidos, principalmente porque sabemos que, com o nosso apoio, nossos filhos se sentirão mais seguros e felizes.
*Edith Modesto é escritora, fundadora da primeira ONG brasileira de apoio a pais de homossexuais e participou como convidada do programa Papo de Mãe sobre homossexualidade. Para saber mais sobre trabalho da ONG, acesse: www.gph.org.br.
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Dica: Papo de Mãe – Homossexualidade