Mariana Kotscho Publicado em 12/11/2020, às 00h00 - Atualizado em 10/12/2020, às 11h12
Por Maria Isabel de Barros.
Assim como eu, muitas pessoas com mais de 40 anos se lembram de uma infância a céu aberto.
Chegávamos da escola e logo estávamos na rua, nas praças e nos descampados que existiam nos bairros e nas cidades. Era lá que encontrávamos outros meninos e meninas e, num gradual exercício de exploração, expandíamos nosso raio de ação e movimento, vivendo experiências que desenvolviam um forte senso de pertencimento ao território, alimentavam a imaginação e desafiavam nossos limites físicos e sociais.
Sempre que pergunto para um grupo que imagens vêm à mente quando imaginam crianças saudáveis e felizes as respostas se parecem com esse cenário… Elas estão brincando com terra e água, fazendo um piquenique num parque, escorregando de papelão num barranco, subindo numa árvore com os amigos. Para quase todos, essas são experiências essenciais da infância e sintetizam saúde e bem-estar. São as crianças em sua melhor expressão e potência.
Mas muita coisa mudou em nossa sociedade, numa complexa e intrincada dinâmica, e tornou o mundo natural, os espaços públicos e a convivência livre e independente com crianças de idades e contextos diferentes cada vez menos frequentes na vida dos meninos e das meninas. Eles simplesmente não podem mais sair lá fora e as consequências dessa perda são enormes. Sedentarismo, excesso de peso, hiperatividade, baixa motricidade e miopia entram na lista dos problemas de saúde mais evidentes causados por essa realidade, mas diversos outros fatores também estão em jogo, como a intoxicação digital e a solidão.
Na esteira do lançamento, em 2005, do livro A Última Criança na Natureza, do jornalista e ativista pela infância norte-americano Richard Louv, vimos surgir muitas vozes de educadores, pais e especialistas chamando a atenção da sociedade para o fato de que o convívio com a natureza na infância, especialmente por meio do brincar, ajuda a fomentar a criatividade, a iniciativa, a autoconfiança, a convivência, a tomada de decisões e a resolução de problemas. E mais ainda, vivências amorosas para e com a natureza contribuem enormemente no desenvolvimento de vínculos, fomentando um sentimento de pertencimento ao mundo natural e atitudes de cuidado e respeito com a Terra.
Essas experiências deveriam fazer parte do dia a dia das crianças e não ser atividades consideradas especiais ou um luxo ao qual poucos têm acesso. Somos todos responsáveis por garantir a elas a uma infância saudável e plena, com oportunidades cotidianas de brincar ao ar livre e em segurança. Pais, mães e responsáveis, escolas, poder público e cidades podem e devem fomentar essas oportunidades de diversas formas e em diversos contextos: em casa, nos bairros, nas comunidades, nas escolas, em suas políticas e nas áreas verdes públicas.
Esse tema é tão fundamental e urgente que tornou-se a pauta do mais novo documentário produzido pela Maria Farinha Filmes, apresentado pela Fundação Grupo Boticário e pelo Instituto Alana. O Começo da Vida 2 : Lá Fora está disponível nas principais plataformas digitais. Confira e faça parte do movimento pela reconexão de crianças e adolescentes com a natureza, para o bem estar das infâncias e do planeta!
(*) Maria Isabel Amando de Barros, Engenheira Florestal e mestre em Conservação de Ecossistemas. Desde 2015 trabalha como pesquisadora do programa Criança e Natureza do Instituto Alana.
Assista aqui a entrevista de Mariana Kotscho e Roberta Manreza com Renata Terra, diretora do filme O Começo da Vida 2: Lá Fora.