Roberta Manreza Publicado em 09/11/2017, às 00h00 - Atualizado às 12h00
Por Profª Drª Titular Maria Cecília de Moura*, fonoaudióloga
Quantas pessoas comentando e falando sobre o tema da redação do ENEM: “Desafios para a formação Educacional de Surdos no Brasil”. Opiniões contra e a favor. O que pensar sobre assunto tão importante? É bom, não é? Mas, os estudantes de Ensino Médio nada sabem sobre políticas educacionais… então não é bom…
Muitos professores também sabem pouco sobre a forma de educar os Surdos… afinal é uma diversidade de pessoas que não ouvem, são Surdas, deficientes auditivas, implantadas… o ser humano adora categorizar e depois não saber o que fazer… o não saber o que fazer não é culpa do professor, é bom se deixar muito claro, mas de políticas públicas inclusivas mal compreendidas e mal administradas.
Mas, enfim, foi uma boa escolha ou não foi? Eu acho que foi muito bom! Não porque as respostas estarão corretas ou incorretas, mas porque colocou em pauta um assunto que deve ser discutido por toda a sociedade. Pensem bem – quantas famílias discutiram este assunto neste domingo? Quase 5 milhões de famílias! Quinze, vinte milhões de pessoas? Talvez mais via redes sociais. Dez por cento da população do Brasil discutindo um assunto que não era sequer pensado por eles até ontem de manhã.
Nunca tantas pessoas se debruçaram sobre um assunto tão importante. Nunca se discutiu, mesmo sem se conhecer as políticas públicas, assunto tão controverso.
Meus alunos da graduação quando iniciam as aulas de Libras (ministrada por um professor Surdo na PUC-SP quanto ao ensino da língua e por mim quanto aos aspectos teóricos) não sabem nada sobre o indivíduo Surdo quando começam a cursar a disciplina. Temos orgulho em dizer que ao fim do Curso de Libras (obrigatório ou optativo na PUC-SP) eles entendem o que quer dizer ser Surdo, surdo, deficiente auditivo e as dificuldades pelas quais eles passam em sua vida. As políticas públicas são discutidas e formas de incluir o Surdo na sociedade são pensadas. Mas, estes estudantes que são chamados a pensar sobre este complexo assunto são poucos, pouquíssimos. Ou melhor, eram… agora, após a prova do Enem, esperemos que muitos possam refletir e, ao entrar na Faculdade possam, cada um em sua área, postular formas novas de incluir os Surdos no mundo humano.
Mas, quero deixar claro que todos deveriam ser mobilizados para repensar a educação de outros segmentos da população, pessoas com outras deficiências, por exemplo. A inclusão sem um plano de ação bem delineado, sem a formação adequada dos seus atores não inclui, segrega sob o mais perverso de seus disfarces: o da inclusão perversa (SAWAIA, B., 2001; MOURA, M.C. 2010).
Que este assunto continue a ser ventilado por todas as Universidades que receberão estes alunos e que da “Inclusão Perversa” possamos passar para a “Inclusão Humana” objetivo maior de nossa sociedade (ou que deveria ser…).
Abraços a todos,
Cecília Moura
*Maria Cecília Moura possui graduação em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1972), mestrado em Distúrbios da Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1984) e doutorado em Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1996). Maria Cecília é fonoaudióloga clínica, professora do Curso de Fonoaudiologia da PUC-SP e vice-coordenadora do Depto de Linguagem da SBFa. Ela é autora do livro “O surdo – caminhos para uma nova identidade”.