Papo de Mãe

Quem muda o mundo são as pessoas, não os livros. Os livros, mudam as pessoas

Sabe quantas palavras seu filho terá no vocabulário aos 8 anos, se ele não for estimulado a ler desde pequeno? 4 mil palavras.E agora sabe quantas palavras seu filho vai ter de repertório nesta mesma idade, se ele receber estes estímulos a partir dos 3 anos? 12 mil palavras.

Roberta Manreza Publicado em 30/09/2020, às 00h00 - Atualizado às 12h12

Imagem Quem muda o mundo são as pessoas, não os livros. Os livros, mudam as pessoas
30 de setembro de 2020


Por Stela Greco Loducca, autora de livros infantis e criadora do site O Pequeno Leitor, um site lúdico que incentiva a leitura com muitas historinhas e atividades, despertando esse hábito desde cedo

Para falar dos meus livros infantis e da importância que a leitura tem desde cedo para os pequenos, gostaria de voltar alguns anos no tempo e contar um pouco como essa história começou.

Depois de 18 anos trabalhando como redatora publicitária, após o nascimento do meu filho, larguei a profissão, virei a página e comecei uma nova história. Passei a me dedicar somente a assuntos que diziam respeito ao universo infantil, a Educação e ao desenvolvimento cognitivo dos pequenos.

Quais eram os estímulos necessários para que isso acontecesse, passou a ser meu foco principal. A escrita, claro, continuou traçando o meu novo caminho. Ela se transformou em narrativas infantis que usei como instrumento para fazer do incentivo a leitura, uma grande causa a ser estimulada desde pequeno. E a partir daí, minha história começou.

Durante dois anos desenvolvi um projeto social de incentivo a leitura para crianças pequenas, através da Congregação de Santa Cruz, no CCA Bom Jesus, em uma comunidade carente localizada no Jaguaré.

Lá, pude constatar como a falta de estímulos na primeira infância causa buracos enormes no desenvolvimento intelectual dos pequenos. Era muito triste ver crianças de 10 anos, mal conseguirem recontar uma simples história, quanto mais escrever. A organização do pensamento lógico e do raciocínio é muito difícil para aqueles que não têm um repertório.

E era mais impactante, quando eu comparava com a realidade de crianças de 5 anos do meu convívio social, que faziam isso com facilidade.

Nessa mesma época, li um estudo feita pelo americano James Heckman, ganhador do Prêmio Nobel da economia por desenvolver métodos de avaliação de ensino, que comprovou a realidade que vivi na prática com essas crianças. Acho importante dividir aqui, porque foi um norte para o caminho que tomei em seguida. Os números desse estudo são surpreendentes:

Sabe quantas palavras seu filho terá no vocabulário aos 8 anos, se ele não for estimulado a ler desde pequeno? 4 mil palavras.

E agora sabe quantas palavras seu filho vai ter de repertório nesta mesma idade, se ele receber estes estímulos a partir dos 3 anos? 12 mil palavras.

Não é preciso entender muito de matemática para ver como a diferença é gritante, não?

E ele ainda questiona: Que chances esta criança terá de compreender o mundo a sua volta com um repertório tão limitado? O que ela vai compreender de uma estrutura um pouco mais complexa da língua, exigida em qualquer disciplina na escola?

A diferença entre ler e entender aquilo que leu, é enorme.

É importante que os pequenos tenham vivências e experiências que permitam perceber a escrita e a leitura como meio de expressão e comunicação. O problema era que as crianças da Comunidade não tinham essa vivência no dia a dia delas. Então como esperar que na falta do objeto, ela adquira o conhecimento necessário para se tornar uma pessoa mais crítica-reflexiva?

Hoje é comprovado cientificamente que, quem lê desde pequeno tem um desenvolvimento intelectual muito maior, porque a literatura é um instrumento que permite essa sensibilização da consciência e a expansão da capacidade de compreensão da vida de uma forma mais refinada.

A partir desse trabalho social, usei minha experiência publicitária em prol da leitura. Pensei o que eu faria se um cliente me pedisse para criar uma campanha de incentivo a leitura. Como eu queria abranger o maior número de pessoas possível, escolhi a internet como meio de democratizar a leitura a todos, já que um estudo dizia que em comunidades carentes, eles não têm acesso a livros, bibliotecas e livrarias, mas têm acesso a lan houses.

Daí nasceu O Pequeno Leitor, um site lúdico voltado para o universo da leitura, que usa histórias animadas, jogos de interpretação de textos e uma área para o estímulo a produção literária, onde os pequenos criam suas próprias histórias para serem publicadas no site, que tem como objetivo ser uma ferramenta a mais para sensibilizar a criança a criar um vínculo com a leitura e com esse mundo através do prazer e não da obrigação, na mesma época em que todos os outros hábitos estão se formando.

É importante ressaltar que o estímulo dos pais na formação literária dos filhos é fundamental. Essa responsabilidade não é só da escola. Este hábito começa dentro de casa, anterior ao processo de alfabetização. Para uma criança vir a ser uma grande leitora, é muito importante que ela veja seus pais lendo, que ela crie esse vínculo através do afeto de ler junto com eles ou que ela possa ter acesso a livros a volta dela.

Todas as histórias do O Pequeno Leitor, são escritas por mim e a maioria delas foi inspirada nas diversas fases do meu filho desde pequeno, observando seus interesses, suas curiosidades, seus medos, questionamentos, enfim … a maternidade foi determinante para chegar até aqui.

Costumo dizer que O Pequeno Leitor nasceu junto com ele e se concretizou a partir do trabalho Social no Jaguaré.

Quatro das histórias que estão no O Pequeno Leitor, viraram livros pela Companhia das Letrinhas e outras virarão também. No final de cada livro, desenvolvi diversas atividades lúdicas como forma de estimular a criatividade e a imaginação da criança a partir da historinha.

O Pum, foi minha primeira historinha escrita quando meu filho estava naquela fase divertida que toda criança adora, muito intrigado em querer saber quem era o pum, se ele era gente, por que nunca aparecia etc e tudo era motivo para questionamento sobre o assunto. As crianças menores se encantam com essa historinha, pois se identificam muito. E ainda no site, a graça é a historinha ser bem barulhenta, o que diverte bastante.

A Lobinha Ruiva é um reconto da Chapeuzinho Vermelho com um novo olhar, onde o malvado na narrativa não é o bicho, e sim o homem. Essa historinha criei na fase  em que meu filho tinha uns 5 anos, queria virar vegetariano e começou a me questionar, dizendo que os bichos muitas vezes só querem se defender dos ataques do homem e que éramos nós, seres humanos, que maltratávamos os bichos. A história também aborda o perdão e uma segunda chance. É um livro bastante adotado em escolas e as crianças adoram debater esse olhar diferente da historinha quando me encontro com elas.

Dudu e a Caixa e Dudu e o Plástico Bolha, fazem parte de uma série e em breve a terceira historinha também vai virar livro. São os mais adotados pelas escolas, justamente por trabalhar o universo lúdico e a imaginação da criança. Esses livros contam sobre um menino que fica sempre a espera do carteiro, pois muitas coisas chegam através dele e transformam seu mundo de pernas para o ar. Na primeira história, é a chegada de uma encomenda que veio dentro de uma caixa enorme que vai agitar a vida do Dudu. O menino só se interessa pela caixa que, através de sua imaginação, vai se transformar em vários brinquedos. No final quando a caixa está velha e vai para a reciclagem, entra a tristeza pela perda do objeto, mas em seguida, a narrativa termina em alegria quando a campainha toca e chega outra encomenda embrulhada em plástico bolha. E claro, o personagem só se interessa pelo plástico, que também dará asas a sua imaginação. O segundo livro começa com a chegada do plástico bolha, que é o fim do primeiro e assim será toda a sequência dessa historinha. Todas elas foram criadas a partir de uma vivência na sala de minha casa, quando de fato recebi uma encomenda em uma caixa enorme, e que por um mês, virou de tudo no meio da minha sala e só acabou a brincadeira, quando a caixa já não parava mais em pé e foi dada. Daí para frente, com cada coisa que ia aparecendo, como o plástico bolha, meu filho inventava um universo cheio de imaginação, novos brinquedos iam surgindo pela casa e assim por diante.

Atualmente criei também o Podcast O Pequeno Leitor, hoje com mais de 40 histórias. São episódios semanais onde narro historinhas novas, além de receber pequenos leitores para um bate- papo, onde eles dão dicas de seus livros prediletos e falam de suas experiências literárias.

O Podcast é um outro jeito de aguçar na criança, a magia pelas histórias, pois é importante também que ela seja instigada, através do áudio somente, a criar sua própria imagem daquele universo narrado, já que ela não conta com a ilustração, como em um livro ou em um vídeo.

E para os pequenos que ainda não sabem ler, o diferencial do podcast, é esse encantamento por escutar histórias pura e simplesmente, uma vez que a oralidade é fundamental, pois ter o que expressar é pré-requisito para a alfabetização.

Concluindo, utilizar diferentes meios de incentivo a leitura, para introduzir o universo das histórias, seja através de livros, internet ou podcast, é interessante, pois eles diversificam a rede de desenvolvimento cognitivo dos pequenos.

Foi assim que o desafio de levar a leitura às crianças virou uma causa para mim.

Os livros e a leitura são extremamente importantes para formar cidadãos melhores e mais conscientes, e é através do saber que seremos capazes de lutar por todas as causas que hoje nos são importantes. Atualmente, os pequenos já nasceram com uma causa bastante urgente e grande, que será necessário toda a capacidade crítica e intelectual para essa missão: salvar o planeta.

http://www.opequenoleitor.com.br

www.olapodcasts.com/channels/opequenoleitor



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