Roberta Manreza Publicado em 26/08/2016, às 00h00 - Atualizado em 29/08/2016, às 09h26
Clarissa Meyer – Portal Papo de Mãe
A alegria de mãe e filho passeando num supermercado, num carrinho adaptado, chamou atenção esta semana no Facebook. O post era um agradecimento de Luciana Cassal à rede de supermercados Zaffari, que havia atendido ao pedido dela de providenciar um carrinho adaptado para que pudesse fazer as compras com o filho. João Victor, que tem 14 anos, nasceu com a Síndrome de Angelman, um distúrbio neurológico que provoca uma série de comprometimentos físicos e mentais.
A iniciativa dos carrinhos adaptados, embora já seja realidade em alguns supermercados do país, é pouco divulgada. No caso da Luciana, foi por meio de uma postagem de uma mãe de São Paulo que ela ficou sabendo da existência do carrinho. “Quando vi o post daquela mãe sobre o carrinho de supermercado adaptado, a realidade caiu sobre mim. Há quanto tempo meu filho não ia somente comigo ao supermercado? Eu não tinha cogitado a possibilidade de já existir um carrinho adaptado. Não pensei duas vezes, apontei a dificuldade para a Cia Zaffari, mostrei a solução e o resultado da implementação que ocorreu em SP.”
Gaúcha, mãe de 2 filhos (ela também é mãe do Vicente de 7 anos), Luciana reside em Porto Alegre/RS e conta que precisou adaptar a vida às necessidades especiais do filho. Formada em Publicidade e Propaganda, ela trabalha como autônoma na criação de logomarcas e artes para material gráfico, além de ter um atelier virtual de papelaria personalizada para festas e lembrancinhas infantis. “O trabalho convencional é outro desafio para pais de crianças com necessidades especiais. Este foi o caminho que encontrei para poder conciliar a carreira com as consultas, terapias e exames do meu filho”.
Apesar das limitações, o pais sempre fizeram questão que João participasse dos programas familiares. “Desde pequeno, nós sempre fizemos muitas atividades com ele. Vamos a parques, cinemas, praças, praias, viagens, shoppings, etc. Enquanto eles são pequenos, não sentimos tanto as dificuldades, mas com o crescimento, todas as barreiras começam a ficar mais evidentes”.
Luciana lembra que, embora as leis ajudem, ainda falta acessibilidade nas coisas mais básicas, como por exemplo o nivelamento das calçadas, as rampas de acesso e a pavimentação das ruas. “A minha luta no momento tem sido as calçadas do bairro onde moro. As pessoas não percebem que para nós a dificuldade sempre vai existir, pois tudo exige um esforço além do natural. Precisamos que a sociedade minimize as barreiras e não as dificulte ainda mais. Manter a calçada plana e em condição de todas as pessoas transitarem sem perigo, sem dificuldade, é uma questão de cidadania. O direito de ir e vir de todos começa por cada um. Isso é respeito ao próximo. Infelizmente, é isso que mais falta: empatia e responsabilidade social”.
Sobre a experiência de João Victor no supermercado, Luciana relata o quanto foi importante para ambos. “Ele adorou! Inicialmente, ficou encantado com o carrinho, explorou, tocou, sorria muito. Estava muito feliz e satisfeito. Interagia com as pessoas, com o ambiente. Tenho certeza que ele adorou o passeio. Poder fazer algo tão trivial com ele me trouxe uma sensação maravilhosa de esperança, de fé na humanidade. Inclusão é isso. Em vários momentos, fiquei emocionada e pensei: sim, tem muita coisa ruim acontecendo no mundo, tem muita coisa para melhorar lá fora, mas ainda é o amor que move o mundo. É o sorriso satisfeito e verdadeiro de um garoto repleto de limitações, mas que por causa de uma única ação pode estar ali fazendo compras com a sua mãe no supermercado”.
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