pmadmin Publicado em 26/07/2016, às 00h00
Fui uma criança um tanto imaginativa… Além disso, era mimada, malandra e chorona. Ganhava tudo na base da manha e ainda me fazia de coitadinha.
A maior lembrança que tenho com minha avó é de uma vez em que quis tanto ficar doente para não ir à escola – isso lá pelos seis anos – que a coisa acabou acontecendo mesmo…
Reza a lenda que eu tive um febrão e que virei o bicho mais dengoso da casa. Não queria comer, não queria brincar e não queria que ninguém saísse de perto de mim.
Faltei uma semana inteira de aula. Vi a família inteira tentando me animar, assisti a todos os desenhos na televisão e me recusei a comer a montanha verde a que era obrigada diariamente – a propósito, essa coisa de comer salada para crescer forte e saudável não funciona com criança. Aprendi a gostar disso depois de adulta e juro que foi porque a dieta exigiu. Caso contrário, seria a rainha do fast food e das comidinhas exóticas como carne de tigre com abobrinha, por exemplo…
Sim, o anjo aqui, no auge da enfermidade, resolveu sacanear a vovozinha que estava mais do que esmerada em me fazer comer. Prometi a ela que se o cardápio da noite fosse o que eu havia pedido (tigre), abandonaria a mamadeira e passaria a me alimentar direitinho…
Lembro do meu tio, malandro desde sempre, dar uma piscada rápida para a minha avó e, logo em seguida, sair do quarto em direção à sala. A casa em silêncio, a velhota calada e eu me sentindo a rainha da sabedoria…
Mas, para meu espanto, eis que surge o moçoilo com uma espingarda de pressão e um chapéu para minha avó. Saíram os dois, com aquela cara de “Indiana Jones”, prometendo trazer o que eu tanto queria comer…
Durante meia hora tive os devaneios mais loucos. Fiquei imaginando se eles teriam mesmo coragem de ir até o zoológico (tigre, para mim, só morava nesse lugar) e abater o bicho ou se o açougueiro da esquina, baixinho e bigodudo, teria encomendado a carne só para mim.
Depois de muita espera, entram os dois pela porta do meu quarto… Meu tio com o rosto sujo de terra e a respiração a milhão. Minha avó com a roupa embarrada, uma bandeja cheia de folhas e um prato com a maior porção possível de bife picadinho e tomate: “Mar, minha querida, a carne de tigre foi fácil, mas a abobrinha…” rsrsrs
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Estou enviando uma foto onde está minha vó linda. Só ontem, quando fui procurar, é que me dei conta que não tenho nenhuma foto com ela depois de grande. Encontrei essa, com meus padrinhos e meu primo, na minha festa de aniversário de 3 anos. Lembro como se fosse hoje ( e lá se vão 30 anos). Passamos uma semana inteira organizando tudo. Eu estava feliz que só vendo. A surpresa aconteceu no dia da festa. Minha vó apareceu com aquelas bonequinhas que estão em cima da mesa (Chapeuzinho Vermelho) e que seriam as lembrancinhas. No lugar do rosto de plástico, uma fotinho 3 x 4 minha, milimetricamente recortada e com cabelinhos de nylon. rsrsrsrsrs… ela não é maravilhosa??? A propósito, minha vó Gilda é essa de vestido listradinho e com cara de safada do meu lado. Um beijo e obrigada. Marjorie
Papo de Mãe: Querida Marjorie, muito obrigada por enviar o seu relato! Feliz Dia dos Avós para Vovó Gilda!