A interação com animais pode trazer benefícios na socialização e resgatar sensações de bem-estar nos pacientes
Júlia Bandeira* Publicado em 27/08/2021, às 13h03
Você já ouviu falar em terapia assistida por animais? É uma prática muito antiga que inclui a participação de animais em processo terapêuticos e que é cada vez mais usada em tratamentos para pessoas com algum tipo de deficiência ou transtornos. Os animais, além de fazer parte do dia-a-dia de muitas famílias, passaram a desempenhar papeis que vão muito além da companhia.
“Bicho é bom, né? Ser feliz não tem contraindicação.” A frase é de Liana Santos, psicopedagoga que há 32 anos trabalha com a terapia assistida por animais com bichos de grande e de pequeno porte. Quem entra em sua clínica em São Paulo logo se depara com a coelha Diana ou com a Jade, uma calopsita. Liana deu continuidade a um trabalho iniciado em 1975 pela mãe, a psicopedagoga e psicanalista Ione Pires Santos. “A terapia assistida por animais é qualquer intervenção terapêutica com a inclusão de um animal na situação de um setting terapêutico”.
Foi na década de 60 que a médica psiquiatra Nise da Silveira passou a observar e a descrever os benefícios que a presença de um animal promovia nas sessões terapêuticas. Hoje, quase 60 anos depois, a terapia assistida por animais já virou até lei. Em maio de 2019, foi regulamentada no Brasil a prática de equoterapia – a terapia com cavalos - para pessoas com deficiência. Liana acredita que em breve a Agência Nacional de Saúde vai regulamentar os Estados e a equoterapia será oferecida pelos planos de saúde. “É um grande avanço”, ela comemora.
Aos 41 anos, Pablo Henrique Pires sabe bem os benefícios da “pet terapia”. Com paralisia cerebral, ele tinha 3 anos quando começou o tratamento. Uma sugestão de seu neurologista. Na época o menino não se sentava, não tinha equilíbrio e tinha muito medo de qualquer bichinho. A primeira interação foi com uma galinha chamada Ximbica. “Isso foi gerando nele uma estabilidade tão grande que dai para frente foi só alegria”, conta Maria das Graças Teixeira, mãe de Pablo.
A inclusão de pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho também pode ser trabalhada com a assistência de animais. Esse é um dos focos de trabalho de Ronaldo Novoa e seus cachorros: “Esses jovens normalmente são cuidados. Todo mundo cuida deles. Quando chega um cachorro, ele passa a cuidar do cão. É uma virada de chave para um mundo completamente diferente”.
O trabalho com cachorros também é cada vez mais usado no tratamento para pessoas com autismo. Segundo Liana Santos a situação de socialização é maravilhosa para um autista. “É a criança que busca o cão, é um cão preparado para isso.” A psicopedagoga também cita o trabalho com animais de pequeno porte como, por exemplo, um jabuti. “O jabuti entra na casa dele quando ele quer. Ele também só sai quando quer. Isso tem muita conexão com o autismo”.
E é claro que como em todo tratamento existem algumas contraindicações Situações de fobia e reações alérgicas também precisam ser analisadas. A psicopedagoga também lembra que na terapia com cavalos a grande contraindicação é a luxação de quadril.
Mas a lista de benefícios é bem maior. “A terapia mobiliza as famílias, mobiliza a equipe, mobiliza o afeto das crianças. É muito saudável”, conclui Liana.
*Júlia Bandeira é repórter do Inclua Mundo