Papo de Mãe

Tudo mudou e agora? Breves reflexões sobre educação financeira

pmadmin Publicado em 21/12/2010, às 00h00 - Atualizado em 03/12/2014, às 22h56

21 de dezembro de 2010


Por Fabiano Calil*

Ao ser convidado para gravar, me chamou atenção o nome do programa “Papo de Mãe”. Simplesmente gostei, e como pai, me lembrava do universo masculino: “conversa de homem”, “conversa de pai para filho”, “conversa de homem e mulher”, mas “papo de mãe” vinha como inusitado.

Mães ativas, mulheres do século XXI tocando o programa, trazendo as suas questões, perguntas, angústias e anseios para compartilhar com o coletivo num programa de TV.

As mulheres sempre tiveram mais facilidade para as conversas do que nós homens. Elas falavam com os maridos, com os filhos, com os pais e nós tínhamos o privilégio do silêncio. Fosse no momento da caça dos nossos antepassados, ou das pescas atuais, onde o silêncio é mandatório, ou em algumas tribos e grupos onde os grupos saem e ficam numa roda em silêncio e jejum por dias até que “encontrem”os nomes dos filhos. Enquanto isso, as mães estavam gestando os filhos, administrando as caças, aguardando os maridos e cuidando do andamento da tribo.

Umas das definições de economia, vem da economia doméstica. Iniciou-se lá na administração econômica do lar que, invariavelmente, dizia respeito às mulheres, pois elas administravam os recursos escassos trazidos pelos homens trabalhadores. Não à toa, nossas leis matrimoniais regem que as mulheres têm direito a 50% do patrimônio dos seus maridos, pois sem o cuidado e a dedicação delas ao lar e aos filhos, o marido não poderia sair para trabalhar.

Assim, as mulheres aprenderam a fazer várias despesas, no armazém, na feira, no mercado, na padaria, as roupas da família, os funcionários, escola, etc. Aos homens, reservaram-se os negócios e “conquistas”, carros, casa, terras, empresas e grandes compras.

Hoje, os comportamentos são assim, mulheres gastam com maior frequência e valores menores, e nós homens, quando gastamos, costuma ser alta a conta, uma TV, computador, itens para o carro, etc.

Aí então as mulheres, mães, saíram para o mercado de trabalho. Hoje, no Brasil, as mulheres além de serem em maior quantidade que nós homens, tem mais anos de estudos, o que significará maior qualificação, empregabilidade e renda no tempo.

Mas trouxe também um ajuste nas relações que somam ao esforço da adaptação. Nós homens cuidamos dos filhos e vamos ao supermercado, as mulheres viajam a trabalho, dividem-se as contas, elas ganham mais em alguns casos e como lidam com esta nova realidade? A sociedade cobra, a família também e as famílias se atrapalham.

Para incrementar temos a sociedade do consumo impulsionada pela mídia, a falta de educação financeira para a geração que hoje cuida e administra recursos financeiros e econômicos, pois não recebemos dos nossos pais, que não sabiam, e nem nas escolas, como algumas crianças hoje já tem acesso.

Como lidar com isso associada a culpa de ficar o casal fora trabalhando o dia todo? A tarefa de dar limites fica agravada, sabemos que é nosso papel como pais. “Mas esta semana nem vi meu filho. Cheguei, ele estava dormindo. Saí, ele continuava dormindo”. Então, quando ele pede algo, o que fazemos? Compensamos esta ausência, é natural. O racional é tentar cuidar das emoções e para isso precisamos estar confiantes das nossas escolhas, dos dois saírem para trabalhar como uma exigência para conquistarem o padrão de consumo que desejam e que desfrutem dos sonhos de cada um, do casal e da família.

Sem firmeza aqui, a casa vai balançar. Ou o casal começa a se atacar, ou um dá um grito com o chefe e joga tudo para cima, ou criamos o que nós mesmo chamamos de “monstrinhos”, sem limites, crianças frágeis por não tolerarem a frustração e quando dão de frente com a vida real…dói.

Sabemos que o esforço é grande, lidar com necessidade e desejo, aplicar uma mesada que nunca recebemos, lidar com cartões e limites de crédito de modo consciente, implementar um consumo sustentável e coerente com os nossos valores familiares e pessoais, mas somos os modelos que eles seguirão, e aqui está a nossa responsabilidade. Vamos em frente com coragem!

*Fabiano Calil é economista e participou como especialista convidado no programa Papo de Mãe sobre Educação Financeira, exibido em 19.12.2010. Para saber mais sobre o trabalho dele acesse: http://www.fabianocalil.com.br/




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