2 de novembro de 2010
Olá! Para dar prosseguimento à nossa semana de entrevistas, trouxemos para vocês a entrevista feita por nossa repórter, Rosângela Santos, com a psicóloga e terapeuta familiar Roberta Palermo sobre pais separados. Confiram!
PAPO DE MADRASTA Aos 3 anos, os pais dela se separaram e ela ficou com a mãe. Aos 12, foi morar com o pai. Aos 13, ganhou uma madrasta e uma irmã. Mais tarde, casou-se com um homem separado com 2 filhos e teve mais um filho. Chegou a cursar arquitetura, mas com toda essa experiência de vida tornou-se psicóloga e especializou-se em terapia de casais. Há sete anos, fundou uma associação de madrastas – categoria a qual pertence hoje – e é autora dos livros “Madrasta, quando o homem da sua vida já tem filhos” e “100% madrasta – quebrando as barreiras do preconceito”. RS: Filhos de pais separados: dá para ser uma criança bem resolvida? |
Roberta Palermo |
RP: Dá sim, desde que os pais saibam construir uma relação bacana após a separação. Quando pai e mãe se separam precisam entender que a relação deles acabou, mas vão continuar sendo pai e mãe das crianças. Isso também deve ficar claro para as crianças: o casamento acabou, papai e mamãe não vão mais ficar juntos, mas vocês são as pessoas mais importantes da nossa vida. Nós vamos continuar amando vocês, mas nós não vamos mais continuar morando todos juntos. Isso tem que ficar claro.
RS: E como fica a convivência?
RP: Normalmente, como a guarda fica com a mãe das crianças, o pai se torna mais ausente. Mas isso não significa que ele tem que sumir. É importante que ele tenha os dias de convivência dele com frequência. Normalmente, são finais de semana alternados. Isso é fundamental porque toda separação traz sequelas. As perdas vão acontecer, então é importante que a criança tenha um final de semana com a mãe também. No dia a dia, a criança vai para escola, a mãe para o trabalho, então a mãe precisa do final de semana para se dedicar aos filhos. Aí, no outro fim de semana, as crianças ficam com o pai. E se as férias estiverem garantidas meio a meio, a criança vai ter um crescimento adequado. Ela não vai viver em um ambiente com briga e o pai e a mãe vão se entender para discutir os problemas relacionados a elas numa convivência bacana. O que desgasta as crianças é quando os pais não se entendem, um fala mal do outro, o pai some ou a mãe fica ausente. O problema é quando as mágoas ficam…
RS: E normalmente ficam, né?
RP: É muito difícil para um ex-casal dar conta de separar aquele homem daquele pai, aquela mulher daquela mãe. É sempre traumático… E, às vezes, a mãe ou o pai acham que precisam falar a verdade para criança. Só que a criança não quer escutar ninguém falando mal do pai e da mãe dela. Então, é perda de tempo. Só vai frustrar a criança, chateá-la. Um dia ela vai crescer, ter idade e maturidade para entender o que aconteceu com os pais dela. Quando ela tem 3, 5, 10 anos de idade, ela não tem maturidade… Normalmente, a mágoa é tão grande e é comum a mulher ter menos paciência porque ela tem a guarda, vive aquela angústia, perde a condição financeira. Então, a mãe, às vezes, fica com os gastos maiores porque pensão é sempre muito para quem paga e pouco pra quem recebe… Então, como aquele valor que ela recebe não vai dar pra suprir todos os gastos da criança, ela fica com mágoa e daí solta “seu pai largou a gente, está fazendo outra família e nós ficamos aqui”. Então, a criança começa a ter mágoa do pai e isso vira alienação.
RS: Quando acontece a alienação parental?
RP: É mais comum a mãe se alienar porque a guarda é normalmente dela. Ela desvalida o pai ou ela some com a criança e fala mal do pai e até mente (ex: diz que o pai não foi buscar a criança…). Há uma perda muito importante nisto. A criança precisa conviver com o pai e com a mãe, senão ela fica com a sensação de abandono porque a criança acredita na mãe. Mas por mais que mãe faça isso, nada justifica o pai desistir da criança. Se a mãe some, o pai tem que entrar na justiça porque, até pouco tempo atrás, o pai era considerado o vilão mesmo.
RS: Como foi a sua experiência?
RP: Eu tive sorte depois da separação dos meus pais. Eu tinha 3 anos. Fiquei com minha mãe em SP e meu pai no interior. Minha mãe nunca atrapalhou nossa convivência. Pelo contrário, recebia meu pai na nossa casa porque era importante eu conviver com ele. Mas eu sempre quis que meus pais voltassem a conviver juntos.Eu rezava à noite e pedia para o papai do céu um presente: que meu pai e minha mãe ficassem juntos. Até meus onze anos nunca deixei de querer… Eu tive uma relação boa com eles. Nunca um falou mal do outro. Eu passava as férias com meu pai, comia super mal, voltava encardida, imunda, mas voltava feliz da vida.
RS: Quais as conseqüências para a criança que vive no meio de brigas antes, durante e depois da separação?
RP: Depende de cada criança. É um mistério. Você pode ter 3 filhos que viveram a mesma situação. Um nunca deu bola, o outro ficou numa boa e o outro nunca aceitou… Sabemos que cada um vai lidar com o problema de maneira diferente. Nos casos mais difíceis, a criança que conviveu num ambiente com brigas tem um conlito muito grande e pode ter sequelas enormes. Começa na escola, com dificuldade para se relacionar. Ela repete o padrão que vê em casa porque é modelo que ela tem. Ela é reflexo do ambiente em que vive. Então, se ela tem brigas em casa é possível que brigue na escola. Os pais ficam bravos com a criança, mas se ela vê isso em casa, ela vai fazer… Muitos filhos falam “graças a Deus que meus pais se separaram”, porque eles não agüentavam mais ver aquele ambiente com briga. Após a separação, tudo vai depender de como ficou este ex-casal e a questão financeira. O que prejudica a criança é a ausência de um dos pais e a diminuição da questão financeira. Muitas vezes, tem troca de escola ou começam a faltar as coisas que elas estavam acostumadas… Outra questão difícil para elas é o modelo familiar. Mas isso não dá para generalizar porque elas podem construir outros modelos de família. Podem olhar para os problemas da sua família e mudar a sua vida: “nunca vou repetir o que aconteceu com meu pai e minha mãe”.
RS: Você teve uma madrasta e hoje você é madrasta. Essa relação no meio da separação mudou sua vida?
RP: Foi ruim a minha experiência com a minha madrasta porque ela não soube conduzir a relação. Ela tinha ciúmes de mim com meu pai. Ele era grudado comigo. Mas isso acontecia só nas férias e era muito chato. Eu lutava para manter meu espaço com meu pai e ele nunca deixou de fazer as coisas para mim. Mas, por ela, eu tinha perdido muita coisa. Ela tinha atitudes inadequadas. Com minha madrasta aprendi tudo o que eu não deveria fazer para os meus enteados…
RS: Você é “boadrasta”?
RP: Ah, eu sou. Nunca quis prejudicar. Mas não adianta a madrasta chegar cheia das boas intenções e a mãe falar mal da madrasta para a criança, não incluir madrasta no dia a dia. E meu marido nunca teve dó das crianças por causa da separação. Tinha limites, casa organizada. A maior dificuldade da madrasta é quando pai tem dó das crianças e medo da ex-esposa. Quando ele faz tudo o que ela quer, aceita chantagem. Não dá para conviver com pai banana… É importante que os pais saibam que não é normal se separar. Na maioria das vezes, a mãe ou pai fala “ah, hoje todo mundo se separa…” Não é nada disso! É muito cruel com a criança. É injusto… Todo filho quer o pai e a mãe juntos. Aqueles que querem a separação é porque vivem em lares com brigas. Mas no fundo, o desejo deles é apenas que os pais não briguem. A separação não pode ser vista como uma coisa normal porque está muito banalizada. Nem 8, nem 80. Nem aquilo de que “casou tem que ficar para sempre” porque não é bem assim. Todo mundo tem direito a ser feliz. Então, se tentou resgatar a relação e viu que não dá, tem que separar. Agora, tem que saber que isso vai fazer mal para os filhos.
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Para conferir as postagens anteriores referentes ao tema e assistir um trecho do programa clique
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