Aleitamento materno exclusivo: redução de 20 mil mortes maternas e 823 mil mortes de crianças, e economia de 302 bilhões de dólares por ano, no mundo. Na "startup da amamentação" o lucro é para todos
Dr. Moises Chencinski* Publicado em 17/05/2021, às 09h36
Aviso: Esse texto contém imaginação e humor (mas é sério e real).
Definição atual, mais aceita:
“Uma startup é um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza.”
Modelo de negócio escalável
Um negócio escalável precisa ter lucro (financeiro e de clientes/usuários) de forma desproporcional (conceito técnico). Atingir resultados excelentes com um investimento menor (conceito prático).
Modelo não escalável
Um atleta de alta performance, um corredor de 100 metros, por exemplo, precisa investir diariamente em alimentação, treinamentos, equipe e equipamentos, e muito mais, para, depois de meses ou anos, diminuir sua marca em um segundo e manter o investimento para, pelo menos, não perder o resultado.
Amamentação: um modelo escalável?
Existe um “investimento inicial” financeiro (pediatra, fono, odontopediatra, osteopata, laserterapia, bombas de extração de leite, entre outros) e pessoal (informação, noites mal dormidas, ansiedade), para seu “funcionamento e sucesso”. Mas, com o mesmo investimento, atinge-se resultados inimagináveis.
Aleitamento materno exclusivo, desde a sala de parto e em livre demanda até o 6º mês, estendido até 2 anos ou mais, reduz 20 mil mortes maternas, 823 mil mortes de crianças e traz uma economia de 302 bilhões de dólares por ano, no mundo.
A cada 12 meses do mesmo aleitamento (somando-se o período com todos os filhos), cai o risco de câncer de mama (4,3%), de ovário (amamentar por até 3 meses reduz em 18%; por 12 meses ou mais – 34%) e de endométrio (11% a menos).
O mesmo aleitamento diminui o sangramento pós-parto, favorece a perda de peso da mulher, diminui riscos de osteoporose, de problemas cardíacos e diabetes tipo 2.
Sem contar os benefícios para os bebês, com esse mesmo aleitamento( os conhecidos e as novas descobertas constantes).
É uma selva aí fora. Todo dia, empreendedores estão tentando fazer as pessoas usarem seus aplicativos, entrarem em seus sites, pagarem por seus sistemas, “criando necessidades” para vender seus produtos. A influência da “indústria da desinformação” (fake news, internet), do marketing de substitutos de leite materno, da formação profissional insuficiente a respeito do tema atinge as mães em um momento de máxima vulnerabilidade.
Sem rede de apoio adequada (pessoas, profissionais, leis) a incerteza gera insegurança que leva a um maior risco de desmame e “falência da startup” amamentação, às vezes, antes até de ela poder ter chance de se estabelecer.
Repetível? Aqui está uma grande diferença
O fator de repetibilidade numa startup está na não persosonalização do que é entregue para o cliente. Ou seja, cada cliente/usuário novo não precisa que seja criada uma solução ou software personalizado para ele.
Apesar de conhecermos mais de 800 ingredientes que compõem o produto (leite materno) e de ele ter componentes, em sua imensa maioria, muito estudados, ele é único e inigualável para cada díade mãe-bebê.
Ele muda do começo ao final da mamada, do começo ao final do dia, através do tempo, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza (acho que já li isso em algum lugar...) e dá ao bebê praticamente tudo aquilo que ele precisa em cada momento de sua vida, em termos nutricionais, imunológicos.
É um modelo de um produto altamente específico, personalizado para cada mãe e cada bebê, para cada necessidade, em cada fase do dia e da vida, mesmo tendo a mesma fonte e ingredientes muito semelhantes.
Afinal: é ou não uma startup?
Sendo uma startup ou, como já deveria ser, uma “grande empresa sólida e estabelecida no mercado”, com muitas franquias (uma para cada lactante), gerando “lucros” (saúde) por uma vida toda para as mães, para os bebês, para o meio ambiente, para a sociedade, para o mundo, o que falta para que ela seja protegida, apoiada e promovida de forma satisfatória?
Spoiler da campanha de marketing de 2021.
Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos.
Esse é o tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno para esse ano, que será mais conhecido e esclarecido daqui para frente e celebrado de 1 a 7 de agosto e, no Brasil, durante todo o mês de agosto (Agosto Dourado).
E esse todossomos nós: profissionais de saúde, empresas, sociedade, governos, legisladores, mídias, publicitários em seu marketing, enfim, o planeta.
Essa startupprecisa do apoio global para progredir e gerar frutos. O lucro será compartilhado por todos.
*Dr. Moises Chencinski é pediatra e homeopata.
Presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Autor dos livros HOMEOPATIA mais simples que parece, GERAR E NASCER um canto de amor e aconchego, É MAMÍFERO QUE FALA, NÉ? e Dicionário Amamentês-Português
Editor do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Criador do Movimento Eu Apoio leite Materno.
Assista ao programa do Papo de Mãe sobre amamentação:
Amamentar e doar leite: um ato de responsabilidade social
Semana Mundial do Aleitamento Materno: a importância da amamentação e da hora dourada
O protagonismo da amamentação deve ser da mãe e do bebê
Olho no olho? Você não é um fracasso se não puder amamentar
Coronavírus e amamentação