Na Semana Mundial do Aleitamento Materno, a Dra. Mônica Fráguas fala sobre a importância da amamentação. A bancária Cássia França conta sua história
Maria Cunha* Publicado em 01/08/2021, às 16h52
Na primeira semana de agosto acontece a Semana Mundial do Aleitamento Materno(SMAM). A campanha global foi criada em 1992, pela WABA (World Alliance for Breastfeeding Action), para aumentar a conscientização e estimular ações relacionadas ao aleitamento materno.
Todos os anos, a WABA define um tema a ser explorado e lança materiais que são traduzidos em 14 idiomas com a participação de cerca de 120 países. O tema desse ano é: Proteger a amamentação: uma responsabilidade de todos.
A Dra. Mônica Carceles Fráguas, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Pro Matre conversou com o Papo de Mãe e explicou que o leite materno é importante porque éum alimento único e feito para aquele momento do bebê.
“Para cada momento do desenvolvimento da criança, o leite se adapta, ele vai mudando de acordo com as necessidades do bebê. O bebê prematuro recebe um leite da mãe diferente do bebê que nasceu no tempo certo. O corpo de mãe sabe a necessidade do bebê e se adapta”, explica a Dra. Mônica.
Assim, a pediatra explica que além de passar para o bebê nutrientes para ele crescer, a mãe também irá transmitir muitos fatores que vão causar uma imunidade melhor. O bebê que toma leite materno vai conseguir se defender de infecções muito melhor do que um que não tomou.
“O leite tem, por exemplo, anticorpos e células vivas, principalmente no colostro. O colostro é aquele leite que sai pouquinho nos primeiros dois dias e que muita gente não dá importância, mas que é extremamente rico em células, que vão atuar no intestino do bebê, fazendo com que ele tenha uma chance muito menor de ter uma infecção, e vão formar o sistema imunológico do bebê, que vai durar a vida inteira”.
A Dra. Mônica completa ao dizer que alguns fatores do leite também impedem que bactérias que causam doenças penetrem no intestino do bebê e fazem crescer as bactérias boas que devem estar no intestino.
“São muitos benefícios, o bebê que mama leite materno tem menor chance de ter obesidade no futuro, problemas cardiovasculares, ele tem um desenvolvimento neurológico e cognitivo melhor e até o Q.I. do bebê que se alimenta de leite materno tem uma chance de ser um pouco maior do que o de um bebê que nunca foi amamentado”.
A neonatologista explica que, para a mãe, amamentar também é bom, porque diminui o risco de câncer de mama e ovário, ela perde peso mais rápido depois do parto, tem menor chance de diabetes e problemas cardiovasculares.
De acordo com a Dra. Mônica Carceles Fráguas, a hora dourada é a primeira hora depois do nascimento. Logo depois que o bebê nasce, se for possível, a criança e a mãe estiverem bem, o bebê é colocado sobre a pele da mãe, sobre o peito e a barriga.
“O bebê está sem roupa, no máximo com uma fraldinha, e em contato com a mãe, onde fica, mais ou menos, uma hora”, relata a pediatra.
É nesta uma hora que o bebê, que nasce chorando, é colocado no peito da mãe e vai se acalmando.
“Ele relaxa, observa, dorme um pouco, depois acorda, se mexe e isso acontece até o momento em que ele vai procurar a mama da mãe pelo cheiro e, na maioria das vezes, já consegue fazer a primeira mamada nessa primeira hora”.
A Dra. Mônica pontua que são muitas as vantagens da hora dourada: ela ajuda o bebê a ter um equilíbrio melhor da glicemia, a controlar melhor a temperatura e a frequência cardíaca. Assim, a estabilização do bebê nessa primeira hora é muito melhor se estiver em contato com a pele da mãe.
Outro ponto explicado é que os bebês que ficam em contato pele a pele, têm uma chance muito maior de continuar uma boa amamentação no futuro. A produção de leite também é maior.
“Apesar disso, às vezes não dá, é possível que a criança não nasça bem, muito prematura, precisando de um cuidado especial. Mas, se o bebê estiver bem, pode ser colocado sim sobre a pele da mãe”, completa a médica.
Segundo a Dra. Mônica, às vezes, as pessoas acham que rede de apoio é só quem vai ficar em casa com elas, mas se inicia muito antes.
Dessa rede de apoio faz parte, por exemplo, o obstetra durante o pré-natal. Ele é uma pessoa que vai dar informações adequadas para a mãe sobre o desenvolvimento das mamas e a chegada do leite.
“Então, essa rede de apoio tem que estar presente e ser uma boa rede de apoio antes do nascimento, as informações que a mãe recebe são muito importantes, porque tem muita coisa que ela ouve que não estão certas e podem prejudicar a amamentação depois. Em razão disso, a rede de apoio é importante antes e depois do nascimento”, conta a médica.
Além disso, a pediatra explica que quando a mãe vai pra casa, ela precisa de alguém que a ajude um pouco, porque ela foi pra casa com um bebê que não tem horário e ela vai ficar em função do horário dele.
“No começo é assim, amamentação em livre demanda, o bebê sempre que quiser é colocado no peito, porque essa é a melhor forma de amamentar, não tentando colocar horários. Então, ela vai ficar com o tempo dela mais à disposição do bebê, só que o resto da casa está andando, ela precisa comer, lavar a roupa do bebê, que suja bastante, por isso ela precisa ter um apoio que pode ser do companheiro ou da companheira, de uma amiga, da mãe, da sogra, mas uma pessoa que realmente vá para ajudar. É uma mudança muito grande na vida e nos horários”.
A Dra. Mônica também pontua que quando essa mãe ainda tem um primeiro filho, que está em casa, ela precisa de ajuda para que o seu outro filho tenha atenção, para que ela possa, nesse momento, amamentar tranquila, descansar nos momentos que o bebê está dormindo. Assim, essa rede inclui pessoas que participam antes do nascimento e as que vão participar depois dando as informações corretas.
É importante dizer também que, muitas vezes, a rede de apoio vem com informações que não são boas e estão erradas, em relação a leite, chupeta, mamadeira e fixação de horário, como a ideia de que o bebê deve ter um horário, mamar de três em três horas, por exemplo.
“A rede de apoio também precisa se informar. Tudo que a mãe encontrar na internet também é uma rede de apoio, então a mãe tem que filtrar tudo que ela procura de informação”, conta a pediatra e neonatologista Dra. Mônica Carceles Fráguas.
Na pandemia, a rede de apoio foi limitada. Muita gente não recebeu nenhuma visita e nem auxílio dos avós. Com isso, a ajuda ficou limitada aos parceiros e parceiras, o que fez com que ficasse mais difícil para essas pessoas também. Os parceiros e parceiras assumiram a responsabilidade de cuidar da mãe, da casa e ajudar com o bebê.
“É um desafio muito grande pra esses casais, mas ao mesmo tempo deve ter sido uma coisa muito boa, você assumir inteiramente essa mudança. Então, deve ter sido muito importante para esses casais, aproveitar ao máximo esses momentos em que um vai apoiar o outro para cuidar do bebê”.
A médica ainda conta que, apesar das dificuldades, uma coisa muito boa na pandemia foi a limitação de visitas. A Dra. Mônica relata que as mães gostaram demais, apesar de estranharem muito e ter muita gente reclamando que as pessoas não podiam ver os bebês.
“Depois nós fomos ver que as mães gostaram disso, porque as visitas na maternidade são muito cansativas, vai muita gente, a mãe não consegue descansar ou aproveitar aqueles momentos de aprender a cuidar do bebê. Muitas mães falam: ‘Nossa, como está tranquilo, como está bom, tô conseguindo descansar, no outro filho eu não consegui, foi uma loucura de visitas".
A Dra. Mônica explica que o melhor é que, nos primeiros seis meses, o bebê só receba leite materno. Dessa maneira, ele vai aproveitar ao máximo os benefícios que o leite materno pode dar.
“Se ele começa tomar leite antes, chá ou água, essas coisas interferem na absorção do leite, na flora intestinal. Se você dá um chá, o bebê vai dormir por um intervalo maior e não vai manter aquela frequência de mamada, o que fará com que a mãe produza menos leite. Então, são seis meses de aleitamento exclusivo”.
Depois disso, a pediatra conta que o bebê pode começar a receber alguns outros alimentos, corretamente e conforme a orientação da pediatra. Mas, ela reforça que o ideal é que a amamentação seja prolongada junto com outros alimentos até dois anos ou mais, e vai depender da mãe querer passar dessa idade.
“Se ele mamar os primeiros seis meses e depois com outros alimentos até os dois anos, isso é muito bom e recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”, pontua a Dra. Mônica.
Em geral, amamentar não é fácil, principalmente para a mãe que nunca teve um bebê e não amamentou, pois ela não sabe ainda segurar o bebê e não sabe colocar, acertar a posição.
“O bebê tem que pegar a mama do jeito certo, pegar a auréola e não só o o mamilo, e abrir bem a boca, tudo para que o bebê faça a sucção correta, o que vai estimular a mama e levar ao aumento do leite”.
Com isso, a Dra. Mônica Carceles Fráguas relata que a mamada será sem dor e sem machucar, possibilidade que muitas mães desconhecem, pois acreditam que amamentar dói e machuca o mamilo, o que pode sim ocorrer e gerar ferimentos intensos com sangramento.
Outra dificuldade enfrentada pelas mães mencionada pela médica é aceitar a evolução natural da chegada do leite. Ela explica que o leite não chega logo depois que o bebê nasce, nos primeiros dias há o colostro que, apesar de muito importante, sai em pequena quantidade.
Nesse contexto, algumas mães acreditam que já deveriam ter um monte de leite, então elas não aceitam que não há leite ainda, que isso é suficiente para o bebê e que há a necessidade de colocar o bebê para mamar mesmo assim e deixá-lo sugar, pois quanto mais ele suga, mais a mama será estimulada a produzir mais.
“Então, o começo é difícil, é a adaptação tanto da mãe, como do bebê, pois são novos horários, a mãe fica cansada, nas primeiras duas noites é comum que o bebê quase não durma, queira ficar no colo, ele fica mais calmo durante o dia, por isso as mães devem descansar de tarde para se preparar para as noites que serão mais difíceis”.
Para diminuir as dificuldades, a Dra. Mônica diz que é necessário informação.
“A mãe tem que procurar informações sérias e de pessoas capacitadas, que trabalham com isso e sabem o que é melhor em cada situação, e não palpites de pessoas ou comentários na internet como ‘para mim, isso foi bom’, mas não o ideal, o correto”, conclui a pediatra e neonatologista.
Por muito tempo, a bancária Cássia, 31, sofreu com fortes dores, até descobrir a endometriose e passar por uma cirurgia em 2018. Livre das dores, Cássia e o marido Jeisson, 32, decidiram que era hora de aumentar a família. Após algumas tentativas, em abril de 2020, o tão esperado resultado positivo chegou.
Em 23 de novembro de 2020, Rapha nasceu e, logo após o nascimento, devido aos olhos amendoados, os médicos suspeitaram que o bebê tinha síndrome de Down. O resultado foi positivo: veio a confirmação de que bebê tinha mesmo um cromossomo a mais.
“Aparentemente o Rapha não conseguia encaixar no bico do meu peito para mamar, ele mamava, mas não era uma mamada efetiva. Neste momento, o hospital foi fundamental para mim. As enfermeiras me ajudavam no encaixe dele no peito, com massagens e posições, até que ele conseguiu pegar perfeitamente”, afirma a mãe de primeira viagem.
Nos primeiros dias em casa, foi mais complicado encaixar a pega correta, mas com o passar dos dias, Rapha foi se adaptando muito bem e passou a mamar sem parar.
Para Cássia, a participação e apoio do marido em todo o processo foi fundamental para seguirem com o aleitamento materno exclusivo. “Ele me ajudou em tudo, principalmente a me acalmar quando o Rapha chorava demais e ficava nervoso por não conseguir pegar o peito”, comenta.
A mãe de Rapha ainda relata que o filho “graças a Deus, nunca precisou de nenhum complemento e conseguimos, juntos, seis meses de aleitamento materno exclusivo”.
Atualmente, com quase oito meses, começou a introdução alimentar, mas o leite materno segue fazendo parte do cardápio do pequeno. “Vou continuar até quando ele quiser”, conclui Cássia.
*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe