A colunista Ariela Doctors, do Instituto Comida e Cultura, explica o que é a segurança alimentar. Tem receita de salada de mamão verde da Bela Gil
Ariela Doctors* Publicado em 22/03/2022, às 08h48
Quando pensamos na alimentação de nossas filhas e filhos queremos o melhor, não é mesmo? E o melhor significa desejar que nossas crianças tenham acesso a um alimento saudável, fresco, livre de venenos, gostosos e nutritivos.
Mas, para que nosso desejo se realize, precisamos ir além e pensar na segurança alimentar não só dos nossos, mas de todos. Para que a comida boa e saudável continue chegando em nossas casas e nossos pratos, faz-se necessário pensar em Sistemas Alimentares Sustentáveis. Isso significa reconhecermos os sujeitos de direito – povos do campo, da floresta e das águas, com as suas expressões identitárias e culturais que tem contribuído através da história para a conservação da biodiversidade e a diversidade de nossa alimentação.
"Segundo a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN (Lei no11.
346, de 15 de setembro de 2006), considera-se por Segurança Alimentar e
Nutricional (SAN) a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a
alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a
outras necessidades essenciais (como saúde, educação, habitação), tendo como
base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural
e que seja ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentável."
Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro, justificou a invasão de territórios indígenas para extrair minérios “para garantir a segurança alimentar do povo brasileiro”. O que uma coisa tem a ver com a outra? Ele defende a invasão para produção de fertilizantes sintéticos, no caso de uma possível falta destes insumos importados da Rússia.
Fertilizantes sintéticos, além de não contribuírem para a formação de solos e alimentos saudáveis, produzem vegetais, frutas e legumes que precisam de agrotóxicos para sobreviver e fomentam monoculturas que devastam nossa biodiversidade, ancestralidade e tradições, empobrecendo consequentemente, nossa nutrição, saúde e cultura.
Não poderíamos esperar outra coisa de um “governante” que já no início de seu mandato extinguiu o Conselho de Segurança Alimentar, diminuindo a participação da sociedade civil, e reconduziu o Brasil ao Mapa da Fome. A fome sempre foi um problema grave e endêmico no nosso país, porém a situação piorou muito. Antes da pandemia, havia 57 milhões de pessoas vivendo em insegurança alimentar, sem acesso pleno e permanente a alimentos; em abril de 2021, 116,8 milhões de pessoas passaram a viver em insegurança alimentar, sendo que 43,3 milhões não têm acesso aos alimentos em quantidade suficiente (insegurança alimentar moderada) e 19 milhões passam fome (insegurança alimentar grave), segundo pesquisa da Rede PENSSAN – Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, realizada em dezembro de 2020.
Portanto, ao pensarmos na nossa própria alimentação e na comida saudável para nossos pequenos, precisamos ter em mente: Saudável para quem?
Hábitos e práticas alimentares saudáveis são a base de uma existência digna não só para nossa família, mas para o desenvolvimento integral do ser humano e para manutenção da vida na Terra.
Para uma mudança real de paradigma tem de ser bom para mim, para o outro e para o planeta. Estamos todas e todos conectados.
E para que estejamos na mesma página mesmo...nada melhor que cozinhar junto desde a infância. Aqui vai mais uma receita diferente e deliciosa para ser compartilhada em família!
Ingredientes
Marinada
2 colheres de sopa de rapadura.
3 colheres de sopa de coentro verde picado 2 colheres de sopa de cebola picada.
1 pimenta dedo de moça (opcional).
1 colher de sopa de vinagre de maçã.
1 colher de sopa de azeite de oliva.
suco de 1 limão.
sal à gosto.
Modo de preparo
Pique e separe todos os ingredientes da marinada;
Num processador ou liquidificador, bata todos os ingredientes da marinada e
reserve;
Corte o mamão e a manga em julienne (tiras);
Numa tigela grande, misture o mamão, a manga e a marinada;
Leve à geladeira até a hora de servir;
Tire da geladeira e salpique com amendoim.
Utensílios
● tábua
● faca
● tigelas
● colheres
● liquidificador ● geladeira
Você pode conhecer mais do nosso trabalho no site comidaecultura.org e no perfil @institutocomidaecultura do Instagram.
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Para saber mais sobre a Segurança Alimentar e Nutricional acesse aqui.
O Instituto Comida e Cultura propõe reconectar a criança ao alimento por meio de um resgate lúdico da nossa história, cultura e biodiversidade. Trabalha com a formação de educadores e demais atores envolvidos no desenvolvimento integral da criança para inspirar a prática, fomentar o debate e inserir o tema da alimentação nos currículos pedagógicos.
Entendemos a alimentação como um ato político, capaz de transformar realidades, e acreditamos em uma proposta educacional decolonial, que inclui e valoriza as ciências, artes e tecnologias mantidas por grupos sociais e povos tradicionais marginalizados pela sociedade brasileira.
A criança como sujeito, o alimento como objeto e o Brasil como espaço.
*Ariela Doctors é chef, comunicadora e mãe
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